Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Casa Abandonada

Eu sou uma mulher que se sente como uma casa abandonada
Sinto meus pedaços espalhados em cartas e cigarros
O rádio toca, impiedoso, todas as canções que ele cantava para mim
“Os músicos”, diziam, “são mais sensíveis”. E eu não entendia nada.

Eu sou uma mulher que se sente como uma velha encarquilhada
Parece que meu corpo, meu templo, nada mais foi do que diversão e alguns sarros
Ando pela casa vazia, o cheio dele impregnado em cada centímetro até o fim
E eu não vou chorar. Não vou me arruinar. E eu não conheço a tal madrinha fada

No meu baú ficaram os dias que nos vimos, nos ouvimos
(e ele já nem me ouvia)
Filmes novos de uma velha história e tudo parecia igual
E a água da chuva castiga as minhas árvores no quintal.

Nem ouvi a porta bater quando você foi embora
Provavelmente estava cuidado das flores no fundo da casa
Minha casa, meu corpo e minha mente estavam abertos pra você
E agora eu choro as lágrimas de gerações

Tudo são barreiras que temos que cruzar, abandonar e deixar
Nunca pensei em abandono, nunca acreditei no “nunca mais”
E você disse: “Te amarei pra sempre”
E eu disse: “Eu também”

Posso culpar os jogos, os filmes, a neve, a chuva, a mim mesma
Mas nada será como já foi algum dia, o tempo passa
E eu percebo nas linhas que se aprofundam em meu rosto
Já fui sou bela e todas as minhas convicções foram abaladas

Eu amei sua indiferença frente ao espelho
Em um ilusório olhar de pessoa que crê em si mesma
EU não não não
E aquele filme é uma mentira deslavada e nada mais

Rasguei as páginas do livro que dizia para que eu acreditasse no tal amor eterno
E ouvi um trovão do lado de fora (ou foi em mim?)
Você foi tão rápido para sair de mim, de minha casa
E eu preciso de violinos para chorar e sofrer

Quero as luzes em mim, o foco em mim, as flores para mim
As palmas para mim e uma autobiografia não autorizada
E eu sonhei em casar
E minha criança desapareceu no pó do sofá

Enrolei-me nas cordas do teu violão tentando te trazer de volta
Mas descobri que só fiz apertar meu coração mais e mais
Tantos discos quebrados no chão da sala
E eu fumo e ouço Joni cantar

Como ela sabe tudo que eu penso? Como pode?
Como ela pode viver minha vida sem me conhecer?
Como uma artista pode ser tão significativa pra mim?
Como eu posso estar aqui e você longe?

Sua barba arranhava minha face e eu agora tenho quarenta e poucos anos
Mas tenho vinte e me roubaram os outros vinte
Seus olhos me despiam e eu arrepiava
Fomos jogados no “carrossel do tempo”
(do tempo)

E tudo parece um grande espetáculo e eu vejo a neve na janela
(e nem tem neve aqui)
A fumaça do cigarro faz formas circulares estranguladas
E dissipam-se como eu me dissipo

Eu me largo e adormeço
Eu meço tua falta com notas musicais
Um intermezzo de você é o que eu preciso
E te quero

Quando partimos deixamos uma parte de nós nos outros

Eu quero os meus nós de volta.

domingo, 2 de novembro de 2008

Campinas, 23h40

O copo quebrado
Os cacos de vidro e de mim
Nunca me senti desolado
Talvez nunca tivesse encarado o fim

Senti seus olhos em cheio
E nada pude falar
Pensando em mim você veio
Pensando em ti me deixar

Tão difícil é te deixar partir
Tanto ainda podíamos amar
Demorei, confesso, para reagir
Quando vi era um ímpar sem par

Estava sozinho em uma sala vazia
A TV ligada apenas chiava
A porta fechava, era você que partia
Enquanto eu me despedaçava

Fui feliz, por um triz
Tristeza é companheira
Fui feliz, sempre quis
Às vezes vem com a britadeira

Hoje eu olho ao redor
Vejo os livros que você deixou
Já estive pior
E isso nunca ninguém negou

Sinto falta de ti aqui por perto
Minha metade e fico mudo
Minha casa agora parece um deserto
E eu tenho saudade de tudo.

Eu tenho saudade de tudo.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um portão que se abre

Dois apaixonados que se beijam

Sons de piano em meus ouvidos

E sorrio sorrisos

Como não se sentir bem diante do Amor?

"Você não pode encontrar a felicidade evitando viver, Leonard." (Virginia Woolf)

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Um Só Olhar - Versão 2

E quem era ele? E para onde ia?

Ela estava sozinha há algum tempo. Sua vida amorosa era um desastre. Os homens com quem havia saído não passavam de casos e romances momentâneos. Nos fins de semana, suas noites eram distraídas pelas doces histórias dos filmes que escolhia na locadora de forma muito cautelosa, tendo certeza de que o final seria feliz, perfeito.

Nunca lhe ocorreu escolher outro gênero de filme. Achava desperdício de tempo ver filmes de guerra, terror ou até mesmo suspense, que sempre a deixavam apreensiva.

Escolheu o filme. A capa tinha um lindo casal, ele era ideal e ela parecia uma boneca, linda.

O menino do caixa sempre fazia os mesmos comentários e ela concordava sorrindo e torcendo para ele se calar logo. Dia ou outro, achava-se no direito de aconselhá-la dizendo que não era saudável assistir esse tipo de filme. Ela, educada, agradecia sorrindo.

Já em direção a saída, com a cabeça baixa, viu-o entrar e quando entrou, olhou-a nos olhos com tanta firmeza que sentiu suas pernas bambearem. Não tinha certeza sobre o que se passava na cabeça dele. Tinha achado-a bonita? Feia? Teria notado alguma celulite? Ou, simplesmente, parecida com alguém conhecido? Mil perguntas pulavam seguidas em sua cabeça.

Saiu da locadora, sentiu-se como se todos tivessem notado sua reação diante daquele homem de olhar tão seguro. Sentiu-se boba, desarrumada e desmaquiada, mas foi desse jeito mesmo que decidiu voltar e perguntar ao menino-dos-conselhos quem era aquele sujeito, mas ele, infelizmente, não o conhecia. Aproveitou para observá-lo; se vestia bem e tinha um jeito diferente, era charmoso.

Saiu novamente, desta vez muito devagar, torcendo para cruzar com ele novamente, mas nada. Ficou alguns minutos pensando em como poderia falar com ele, mas nenhuma idéia lhe surgia. A vergonha, a timidez e o convencional machismo da sociedade, que diz que uma mulher não deve abordar um homem, impediam-na de encarar um “Oi! Tudo bem?” com naturalidade.

Aquele pouco tempo que ficou ali, sonhou! Imaginou-se casada com ele, a casa decorada e as crianças correndo no quintal. Poderia viver eternamente de amor, como nos filmes que assistia. Acordou com a buzina do carro dele, estava indo embora, acelerou e a deixou, apenas, com o sonho. Seguiu seu caminho.

Aléxia Galvão

Explicação

Essa vida de escritor tem sempre coisas boas a oferecer. Escrevi esse último texto "Um Só Olhar" e mostrei pra algumas pessoas, que gostaram. Porém uma delas gostou de um jeito diferente. Quis fazer uma paródia de meu texto, apresentando a visão da moça. Fiquei tão emocionado e me senti tão homenageado que resolvi postar o texto dela no blog, como forma de agradecimento a esse gesto tão bonito.

Agradeço a ti, minha querida Aléxia Galvão, por ter-me dado o prazer de ler suas palavras emaranhadas nas minhas!

Tenho certeza que vocês vão gostar!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Um Só Olhar

E quem era ela? E de onde vinha?

Ele andava sozinho há um tempo. Parecia que nada dava e nem daria certo em sua vida amorosa. Várias mulheres o haviam tentado, mas nada. Apenas alguns casinhos, beijinhos, romancinhozinhos, nada de cativante. Talvez essa falta de uma companhia interessante e de fato companheira fizesse com que ele somente visse filmes água-com-açúcar, romances bestas em que tudo dá certo no final. Sua irmã mais velha já tinha nomeado aquilo de filmes de ficção científica, já que, para ela, era apenas uma pilha de besteiras.

Mais de uma vez ele havia tentado tirar filmes de guerra, terror, ou mesmo suspense – algo de que ele sempre gostou, por estimular a mente – mas nada disso o atraía mais. Alguns ele até pensava em ver, mas seu cérebro mandava a mensagem de que eram muito difíceis ou até mesmo chatos.

Aquele dia havia resolvido tentar tirar algo diferente, como fez, mas o tal água com açúcar apareceu na terceira escolha, “pra relaxar a cabeça”.

Ele estava absorto em seus pensamentos, ouvindo a mulher do caixa dizer que o filme que ele havia escolhido era muito bom, pois tinha feito seu marido revê-la na cama e patavina furada. O que queria ele saber da vida íntima da tal atendente? Deu um sorriso educado e já se preparava para voltar ao carro, quando aconteceu.

Depois de conferir para que dia os filmes deveriam ser devolvidos e qual o valor total, ele levantou os olhos para o lado para ver duas moças que haviam acabado de chegar e conversavam sobre ele não sabia o que. Seus olhos encontraram os de uma delas.

Ele a olhou rapidamente, quase não viu nada, mas percebeu que ela usava uma blusa branca, com uma calça esverdeada e os cabelos, avermelhados desbotados, presos em um meio rabo de cavalo. Seus olhos foram provocadores e instigadores em milésimos de segundo. Ele estranhou e sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Seriam olhos de desejo? Geralmente era ele que tomava as iniciativas, marcava os encontros, ligava, mandava recados no Orkut, ou chamava na janelinha do MSN. Naquele caso, não. Ele a olhou com curiosidade e ela o olhou de volta. Várias vezes a resposta da garota era simplesmente olhar para baixo e ignorá-lo, como se ninguém estivesse fazendo nada. Mas não essa. Ela o olhou de cima a baixo, o que o fez pensar de que talvez o estivesse olhando desde a hora em que entrou na locadora.

Tudo aconteceu muito rápido e seus torpes, atormentados pensamentos acompanharam a rapidez. Foi sua vez de baixar os olhos, agradecer à moça do caixa pelo serviço e tomar o rumo do carro. Antes de sair, olhou de novo e os olhos lá permaneciam, fitando-o, mirando-o, invadindo-o. A sensação de ser olhado, talvez com desejo, era incomum. Ele não sabia o que se passava na cabeça dela! Tinha-o achado bonito? Parecido com alguém que conhecia? Feio? O homem mais feio da Terra? Qual tinha sido sua impressão? E essa dúvida o mortificava.

Saiu da locadora e só viu mulheres, todas pareciam estar olhando para ele. Todas. A que estava voltado para casa, carregando sacolas com compras, a que andava de bicicleta e que ele quase atropelou na ânsia de não saber o que fazer, a que corria à noite, para manter seu porte físico invejável. Todas. Os olhares o trespassavam. A garota da bicicleta estava acompanhada do namorado, amigo, ficante, primo, sabe-se lá, mas ele teve certeza de que ela o acompanhou pelo caminho.

Deu a volta no quarteirão, pensando em perguntar à moça do caixa quem era aquela que o havia despertado tantas emoções. Pensou em voltar à locadora e agarrar a moça nos braços e beijá-la com amor e fervor, como fazem em seus filmes de romance. Pensou em esperá-la dentro do carro e talvez segui-la para saber onde morava. Todas as opções pareciam boas e ruins. Pensou em escrever um livro sobre essa história, um Best-seller, vender milhões de cópias e ir morar em Surrey, Inglaterra. Com ela.

Passou novamente em frente à locadora e, por um milésimo de segundo, entre a loucura e a sanidade, pensou em parar e ir falar com ela. Da janela do carro, viu ao longe sua blusa branca. Ela ainda estava lá e a chance não podia ser perdida. Aquela mulher havia despertado mais emoções nele do que todas as últimas. Ela era Rembrandt, Monet, enquanto as outras eram figurinhas de álbum. Ela era Joni Mitchell, enquanto as outras eram Tati Quebra-Barraco. Ela era rock’n’roll, enquanto as outras eram pagode, e ele detestava pagode. Ela era bela, enquanto as outras eram feras.

Pensou em muitas coisas, mas desistiu. Ele a raptou e jogou-a em suas memórias. Baixou a cabeça. Acendeu os faróis. Seguiu seu caminho.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Pra Ti

Derramei algumas lágrimas no caminho de volta pra casa
Confesso
Os pensamentos passando pela mente
Tão rápidos quanto as rodas do carro
e tortuosos e sinceros como nossa conversa.

Eu penso em você
O vermelho do sol poente me lembra você
E um nariz de palhaço

Eu queria andar de bicicleta, comer de bandeja,
Saber a diferença de um rato e um macaco
Conversar sobre os ovos que se quebram
e o cego mascando chiclete
Dormir na rede e correr na praça
E ouvir a coruja
Com você

São tempos difíceis, eu sei,
E amar é deixar ir, deixar partir,
Mas é duro te ver escorrendo das mãos
E sobrar a lembrança do que não tivemos

Pensamentos mutuamente diferentes e iguais
Massagem de mão, anéis
Confusão, confusão

Tem coisas que falo pra ti que nem falo pra mim
É fonte, é vida, minha e tua vida
Nem sei onde começa e termina nossa conversa
Tem coisas que falo pra ti que nem falo pra mim

Sarais, shows, peças,
E na platéia, seu olho iluminado
Você me amanhece o dia
Refúgio de fofocas, alguém pra correr nas horas tristes
E nas alegres também
Alguém de quem falar, pra quem falar, beijar, abraçar, ouvir

Entendo
Eu penso que entendo
É pena, mas me faço passarinho
E te espero em meu ninho
Se essa imagem te agradar

Se não, crio um mundo novo, só por ti

Durmo e penso

Só queria te chamar de “Gati”

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pecado

"Eu não sei se é proibido
Se não tem perdão
Se me leva ao abismo
Eu só sei que é amor

Eu não sei se este amor é pecado
Que tem castigo
Não sei se é desobedecer as leis honradas
Do homem e de Deus
Eu só sei que me atordoa a vida
Como um redemoinho
Que me arrasta, me arrasta
A teus braços em cega paixão

É mais forte que eu
Que minha vida, meu credo e minha sina
É mais forte que todo o respeito
E temor a Deus

Ainda que seja pecado
Te quero, te quero mesmo assim
E ainda que tudo me negue o direito
Me agarro a esse amor."

Canção de Carlos Bahr e Pontier y Francini, Argentina, 1975. (tradução minha)

Frenia

Meus pensamentos borbulham em mim
Como ponche em uma festa dos anos 50
De fato, até um retrato me muda
Uma raiva surda ou tristeza chorosa

Também alegre vejo que os problemas
Nem são tão problemáticos assim
Os sorrisos me derretem
E eu adoro

Rainha da Neve me esquenta
Dama do Verão me esfria
E a vida não é nada
Como contos de fada

Adoro saber que me amam
Preciso ouvir que me amam
Diga que me ama
Só se você amar mesmo

Solos de guitarra me animam
E os cabelos vermelhos me torturam
Se misturam aos meus
E ela não pode ser minha, ainda
(mas dá vontade)

Tori, me ajuda,
você também tem cabelos vermelhos
E eu ouso tocar piano
E a rosa despetalou no jardim

Ainda bem que sou poeta.

Puzzle

Here they come
Close your eyes and see
As Joyce said
The small big sins of our life
Dreadful sin

To die and love and live young
With maybe Jesus by my side
(the wild one)
And hands on a cigarette

Keep off the grass
And hang on

Hung the Dj, you prick
Hung the gossipers and
Let them burn to death

So untouchable, unbeliever
Just like a child crying
In a closed bedroom

Can I come closer?
To fulfill your emptiness
Smile like the flag in the wind

Here they come
The ruby, the golden
The Diamond Dogs.

domingo, 14 de setembro de 2008

Colo

Às vezes eu sinto uma tristeza profunda
Que vem não sei de onde e se instala
Corroendo todo meu ser

E as lágrimas se misturam na comida
Dando a ela gosto de sal do mar
Do mal

A minha alegria é delicada
Tenho que cuidar bem dela
Pois precisa pouco para derrubá-la
E ela se despedaça

Essa coisa de artista é karma e maldição
É bom por sentir tudo intensamente
É ruim por sentir tudo intensamente

Minha mente é fértil e atormentada
Viajo nas minhas próprias viagens
O mundo é muito mais simples do que vejo
E não consigo ser de outro jeito

Queria tanto alguém que ficasse ao meu lado
Que abrisse meus olhos e dissesse que me ama
E me entendesse

Cansei de juntar pessoas
E elas, juntas, me esquecerem
Cansei de dar idéias e não levar crédito
Cansei de dar colo e não receber de volta

Tenho fases e frases, sou de lua
Quem me ama, sabe
E esse é o problema
Amar

Estou sozinho
Solidão
Solitudine
E tenho um milhão de amigos.

Sou companheiro, gosto de gente
Mas sou temperamental
Assumo
Não fico em um espaço em que me sinta mal
Tento por um tempo, mas tenho meu limite

Não quero forçar ninguém a ser o que não querem
Nem quero que me façam isso

Às vezes me acham estranho
Sou mesmo
Às vezes acho que nem sou daqui
E outras vezes que sou muito daqui

Quero viajar e me voltar
Hoje quase bati o carro
Ia virar uma página virada na vida das pessoas

E o vermelho não me sai da cabeça.

Eu preciso conversar
Libertar essa tristeza e raiva de mim
Que me faz mal

Queria só falar e que alguém me ouvisse
E não me julgasse

Preciso de colo.
Preciso de cor.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

De Longe

Alguns homens vi passar por sua vida
Ofereceram livros, passeios, viagens
E canções de amor
Além das juras todas, claro

E eu só te olhava de longe.

Nem pensar em dizer o que sentia
Até porque ainda nem sentia!
Eu não sabia o que sentia

O tempo ficou ao meu lado,
Os dias passaram, corridos, infinitos
E selvas e pedras vieram, mas eu sempre ali
Por você
Ao lado, mas sem dizer nada.

Hoje ainda te vejo de longe
Triste, às vezes choras,
Sozinha, mesmo com alguém

E eu só queria te cuidar, te mimar
Te ver dormir, te massagear o pé
(que é do tamanho da minha mão)
Te dizer que a vida vale a pena
E que suas lágrimas me cortam o coração de poeta

Canto ao violão e penso em ti, às vezes
E entrelaço meus dedos nas cordas,
buscando a melodia que melhor te vestirá

Se é amor? Não sei.
Só o tempo dirá, só saberemos nas “cinzas das horas”
Isso se alguma vez juntarmos os braços em abraços
(e você cabe inteira nos meus braços)

Queria abrir teus olhos pros meus.


Para uma pessoa muito querida

domingo, 17 de agosto de 2008

Violinos

Um piano solitário no meio da tarde
Esparsas notas e acordes vários
Te chamam, te clamam, te cantam
E eu choro
Tantos anos em dúvidas de amor
Tanto sofrimento por nada
Tantas conversas inacabadas
E tantas a começar
Agora os olhares são companheiros
Entre ti e mim e eu e nós
A voz minha procura a tua
E cantamos o amanhecer, juntos
Minha vida só é válida se for por ti
Te proteger e cuidar
E anunciar os percalços dessa vida
que nada sei
Penso em ti em meu sonhar
E me atiro nos mares dos teus olhos.

Para minha irmã, Gabriela Lucchesi

Tipo

Pequenos terremotos de Tori amos
Me levam às cidades, Torre de Babel
Eu sei que tenho qualquer
Quando tudo desabar
Casa, celeiro e um carro 73
E outras bobagens que você quiser e disser
Picoto o tempo pra que ele passe
Depois ponho para cozinhar
Só o que eu sei é que queria você
Ficar com você, beijar você
E você não quer (ou parece que não quer)
São poucos dias, vai chegar o dia
E nada.
Vou falar tchau e você vai chorar
Vou guardar seu gosto na minha língua
E me lamber quando a saudade apertar
O mercado é na Market Place
E eu moro na Selwyn Road
Compraria uma casa aqui,
Mas não tenho dinheiro
Você é a primeira do seu tipo a fazer o meu tipo
E seu tipo a me guiar
Olhos da cor da mesa de sinuca
Seus cabelos cor de pôr do sol
Fica comigo, diz que vai ficar
Everyday and after all.
É Davi e Golias nossa relação
Mas às vezes não sei se sou eu a estátua
Você fala, fala, sua voz me embala
Vem, entra no meu carro,
Ziggy Stardust,
Vamos viajar, atravessar o mar e
Voltar (mesmo sem ter ido)
Não chore, não, precisa não
Tens de aproveitar
Vai acabar, vamos voltar, eu sei
Mas deixe isso pra lá.
Me traz de volta, dama Tori,
Quero ficar com ela e você a nos cantar.
E ela não gosta de poesia moderna.
Hoje eu acordei dentro de um poema
“Fern Hill”, de Dylan Thomas
E o cara dizia ser rei das árvores de maçã.
Eu sou o rei do nada
e meus frutos são de cor
transparente.
Eu quero amar você
Até disparar o alarme de incêndio.
Aê, povo! Voltei da terra da rainha e vou postar algumas das coisas que escrevi lá. Não vou postar tudo por que fiz um diário e tem coisa pra burro! Além de umas coisas-segredo, claro, hehehe Espero que vocês gostem, mesmo que não entendam tudo...

sexta-feira, 27 de junho de 2008


Meus queridos leitores, eu sei que vocês existem e querem saber de mim. Fico muito agradecido com isso. Essa será minha casa nos próximos dias, a Embassy CES School, em Cambridge, Inglaterra. Tenho certeza que terei muitas histórias pra contar e pra dividir com vocês, meus amigos queridos.

Este post é rápido, tenho que ir dormir, mas aproveito pra agradecer a todas as pessoas que me desejaram boa viagem, que estão torcendo por mim e que acreditam em mim.

Sem vocês, eu não vivo.

Um beijo grande,

Ricardo

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Eu não sou homem de grandes feitos
A mim bastam os pequenos gestos.

Olhos Verdes

Iniciado há tempos na linda arte do amor
Jamais meus olhos foram tomados como pelos teus
Sem precisar de aviso ou receitas de médico-doutor
Tudo em mim era só deitar os teus nos meus

Reluzes, sim! e ouro és, tão bela!
Tempo longo que te vejo e coragem não tenho
De falar-te que és mais maravilhosa que a rosa na janela
Disse tu que gostas de mim e aqui venho

Por meio de palavras, ainda que torpes e perdidas
Venho dizer-te que pronto estou a receber-te em amizade
Dama dos verdes olhos e doces movimentos, por mim tão querida
Venha, quando quiseres, e serei todo esforço a contentar-te.

Para Priscila Leite

Lear

São os teus olhos que me chamam
Poetas românticos viciados em dor
Nada tradicional e eu nada sabemos
Quero-te
Ruas escuras, luzes esparsas
Apenas as tuas pegadas que sigo
Não me olhas, não me sentes
Que pena. Peno.
Tantos falam “eu te amo”
Eu amo e não falo
Lear, liar e eu
Teus olhos e não me calo
Apenas um poeta atormentado
Ator e centro da vida
Mesmo que largada e possuída
Minha.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vidros de Perfume e Perguntas

Sentado no canto de um café escuro
Rodeado de pessoas sem nome ou face
Uma época na qual a linguagem era um quase nada
Minhas lágrimas se misturaram na infusão,
especiarias da Índia e sal refinado.

Na rua, chuva
Uma grossa capa para proteger-me
Tantos planos jogados, ultrajados
abandonados no chão,
como um cigarro que não se fuma mais.

Um piscar de olhos hoje
Provoca uma guerra das rosas
Vidros de perfume e perguntas no chão de mim
Nada rima.

Eu queria um chá
Apenas um chá
Queria apenas ficar com alguém
Ficar com você.

E a neve toca o vidro do meu carro.
Para onde?
Não sei
Longe de ti, talvez.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Flash

Toque-me
Sinta-me
Estremeça-se ao me ver

Desça as escadas
Como se fosse o último show
O último copo
O último olhar

Foco de luz em ti
Todos os olhos em mim
E nada.
E mais nada.

Pegue minha mão e
me leve a um parque
com rosas amanhecidas
bicicletas voadoras
e barcos na terra

Me ligue às cinco da manhã e sorria
Invente história tolas e conte ao guarda
Conte ao psicólogo
Conte ao psicopata

Jogue todos esses livros pra cima
E vamos viajar
Leve e deixe-se levar
Leve, sobre as linhas da mão

Descanse sua mão na minha
Apóie seu rosto no meu ombro
Durma comigo

Você entende o que eu digo?
Você sente o que eu sinto?
Você tem coragem de entrar nessa?

Abre os olhos para ver a lua,
nossa diva
Acaricie as orelhas de Flush, o cão
Uive para a loba Virgínia

Vai
Me leve
Nem que seja só por uma noite
Ou uma tarde dessas, de chuva

Mas não me abandone
Não me deixe
Responde.



Silêncio.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

"Horizonte de Memphis"



“Nunca pensei no Hades1 sob o Mississipi2,
Ainda assim vim cantar para ele
Então, fúrias do sul, preparem-se para andar,
pois minha harpa encordoei e vou partir com ele

Relaxem as engrenagens da rima, sobre o céu de Memphis
Girem de volta as rodas do tempo, sob o horizonte de Memphis
Sempre o odiei pelo seu aspecto na meia-luz da manhã
Então veio Hallelujah3, soando como a louca Ofélia4 para mim em minha sala de estar
Então beije-me, meu querido, fique comigo até a manhã
Retorne e você ficará sob o horizonte de Memphis”

1. Na mitologia grega, o Hades era tanto o Senhor da Morte e dos Subterrâneos, quanto o lugar para onde iam todos os mortos.
2. É o maior rio dos Estados Unidos da América. Percorre a cidade de Memphis, capital do Tennesse.
3. Música de Leonard Cohen, cantor e compositor canadense, freqüentemente gravada por diversos músicos, inclusive Buckley e Wainwright.
4. Ofélia (ou “Ophelia”) é a amante de Hamlet (da peça homônima, de William Shakespeare), que, ao perceber não ser amada, enlouquece e se afoga.

Essa bela canção foi escrita por Rufus Wainwright – que está vindo ao Brasil e que eu mal posso esperar para vê-lo, das cadeiras VIP! – para outro cantor, compositor e guitarrista, Jeff Buckley. Nascido em 1966, Buckley se afogou no rio Wolf, em Memphis, em 1997.

Uma canção triste, um lamento pela morte de um cantor. Rufus já disse em entrevistas que se arrepende de não ter tido maior contato com Buckley.

ps: Essa tradução é baseada naquela feita por Reginaldo Maciel, na comunidade “Rufus Wainwright”, do Orkut.

domingo, 13 de abril de 2008

Sete Chaves

Talvez hoje eu não queira
Talvez hoje eu não queira mais

Eu e meu amigo andando pelo parque
Tantos caminhos a seguir que nem sei
e, debaixo de uma árvore, ele me disse
que a vida não é nada do que penso
Ele diz: “A vida é o que fazemos e sonhamos. Se sonhas, vivo estás”
E aquilo me abriu a janela.

Talvez hoje eu não queira te amar pra sempre
Talvez hoje eu não queira te velar o sono
Te esperar acordar com um sorriso no rosto
Talvez hoje eu não queira sorrir

E no parque havia um velho que tocava acordeom
Músicas tão antigas que me fizeram chorar de saudade
Dos tempos que nunca vivi
E as lágrimas me rolaram como pétalas de rosa em flor
E tocavam o solo, abrindo a terra e puxando minhas dores.
E meu amigo me olhava, olhava e nada dizia.

Talvez hoje eu não queira dizer se estás ou não linda
Talvez hoje eu não queira saber como vai sua mãe
Talvez hoje eu não queira saber

Fomos pra casa e, em meio a vinhos e discos e poemas de Wilde, a dúvida se fez:
“E se somos algo que de fato não somos? Como vivemos a isso?”
E meu amigo me disse, sorrindo e me olhando fundo com aqueles olhos de reflexo de lua,
“E quem sabe como somos? Você já sabe quem é?”
E eu pensei que de fato não sabia o fato de quem de fato sou.

Talvez hoje eu não queira passeios ao luar e fogueiras de madrugada
Talvez hoje eu não queira nadar nas águas do mar
Talvez hoje eu não queira nada disso

Já não sei mais o que quero
Eu sei de poucas coisas
Poucas
Tão poucas quanto as palavras que trocamos.

Quando o sol raiou, procurei meu amigo
Ele já não estava mais.
Já se tinha ido, sem me dar adeus
Fiquei pensando nele, em suas palavras e
em seus olhos cheios de lua
E o quis bem.
E sorri para ele, sem ele saber.

Ele me deixou um bilhete
Que guardo a sete chaves no fundo do baú.
Quando dele sinto saudades, leio o que ele escreveu.
Como faço hoje.

Talvez hoje eu não queira mais falar
Talvez hoje eu não queira ser pra sempre
Talvez hoje eu não queira
Talvez hoje eu queira um nunca mais.

quinta-feira, 10 de abril de 2008



Lágrimas em Suas Mãos
(Tori Amos)

"O mundo todo parou agora
Pois você diz que não quer mais que fiquemos juntos
Deixe-me respirar fundo, querido
Se você precisar de mim
Estarei passeando com o Neil1 e o Rei dos Sonhos2
Aliás, Neil diz “oi”
não acredito que você está indo embora
Porque eu e Charles Manson3 gostamos do mesmo sorvete
Acho que é aquela garota
E eu acho que existem pedaços de mim que você nunca viu
Talvez ela só pedaços de mim que você nunca viu bem

Todo o mundo é tudo que sou
O escuro do mais escuro oceano
E a lágrima em suas mãos
Todo o mundo está balançando
Balançando, balançando para mim, querido
Você não sabe o poder que tens
Com essa lágrima em suas mãos
Lágrima em suas mãos

Talvez eu não esteja acostumado com "talvezes"
Esmagados em um quarto frio
Cortando minhas mãos cada vez que eu te toco
Talvez o talvez seja o momento agora de dizer adeus
Tempo agora de dizer adeus

Peguei uma carona com a lua
Eu sei que conheço você muito melhor do que costumava conhecer
A neblina embranqueceu minha mente
No torpor da razão pela qual nunca poderíamos ter sido
Então você diz e eu digo que você sabe que é cheio de desejo
E o seu "querida" "querida" "querida" "queridas"
Digo que são pedaços de mim que você nunca viu
Talvez ela seja apenas pedaços de mim que você nunca viu."

(1) Neil é Neil Gaiman, escritor inglês de romances e quadrinhos, conhecido por livros como "Morte" e "Stardust", além de longa amizade com Tori Amos.
(2) Rei dos Sonhos é a personagem principal da série "The Sandman", escrito por Neil Gaiman.
(3) Charles Manson é o fundador da uma seita fundamentalista que cometeu uma série de assassinatos brutais, sendo o mais conhecido o de Sharon Tate, esposa de Roman Polanski, em circunstâncias pouco explicadas. Manson foi condenado à prisão perpétua, mas ainda tenta revogar sua sentença. O cantor Brian Hugh Warner usou o sobrenome Manson para criar seu nome artístico, mostrando o que considerava o grande dualismo da sociedade americana; Marilyn Monroe e Charles Manson, tornando-se Marilyn Manson.

Tori. Conheci essa moça através de um amigo muito querido, Marcelo Mantovani, que é um fã inveterado e fanático dessa cantora. Muito tenho a dizer sobre os dois e sua relação. Vamos dizer assim que o Marcelo ama a Tori tanto quanto eu amo o Rufus. A mesma quantidade de falatório sobre o Rufus que existe nesse blog, existe sobre a Tori no blog dele.

Tori. Ela não é só uma cantora. Ela não é só uma pianista. Ela não é só uma compositora. Ela é dona das teclas de seu piano e as maneja tão bem quanto as palavras de suas letras. De amor? De raiva? De sublimação? Não importa. A qualidade e a poesia fluem desses cabelos vermelhos.

Tori. Uma entidade. Um ser fora desse planeta. Aliás, aonde caiu a nave dessas pessoas? Tori, Rufus, Leonard Cohen, kd lang, Joni Mitchell, Neil Young, minha irmã Andrea, são todos canadenses! Que fantástico!

Tori. O post e a tradução de hoje.

Tori. Pra sempre. Apenas uma das milhares de coisas que aprendi com o Marcelo, meu amigo, meu parceiro de sebos e meu parceiro de conversas. A gente sempre sabe de quem o outro está falando. E que assim seja.


Esse post é dedicado a Marcelo Mantovani.

terça-feira, 1 de abril de 2008

"Experiência"

Foi só uma olhada. Nada demais. Um mero cruzar de olhos em meio à multidão cambaleante da grande cidade. Um de cada lado da rua. Ele. Meio alto, quase baixo. Verdes. Ele. Meio baixo, quase alto. Marrons. Diferenças que no momento pouco ou nada interessavam. Pelo menos aos dois.

A tensão largou arrepios nos dois corpos afastados. O que era aquilo? Sentimento reprimido? Sentido? Imaginado? Um nada. Apenas a mágica do momento. Morangos silvestres colhidos para a geléia, guardada em um copo no fundo da geladeira, já velha, exalando o doce cheiro podre da deterioração humana. Tomates verdes fritos e sua melancolia fritaram seu cérebro.

Mas não foi só uma olhada. Não foi só. Enquanto se olhavam – e esse tempo foi curto – a idéia de casamento de almas lhe passava pela cabeça. A mente se atrasou e o corpo agiu. As duas pálpebras se juntaram e pronto. Uma piscada.

Algo simples. Piscada. Normal. Não. Não era normal. Aliás, desde aquele momento, nada mais era normal. Tudo agora estava com outras cores. Ideais? Desejo? Cena? O que?

Aquela piscada mudou tudo. E o mudou. Qual? Ambos. Nunca mais.

E nesse nunca meu ônibus chegou. Eu entrei, sentei e fiquei observando a paisagem na janela até chegar em meu destino.

Este conto é dedicado a Rufus Wainwright.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Rufus Wainwright no Brasil



Finalmente, depois de dez anos de sua estréia com um disco homônimo, Rufus Wainwright vai aportar pelas nossas terras tupiniquins! Considerado um dos mais talentosos compositores da atualidade, Wainwright vem de uma família inteira de músicos, mas, ao contrário dos Von Trapp (do filme "A Noviça Rebelde"), cheia de histórias complicadas e separações.

O pai de Rufus, Loudon Wainwright III, é um conhecido cantor de folk-rock do anos 70, mas que pouquíssimo sucesso fez aqui no Brasil (o filho também não faz muito...). Alguns podem conhecê-lo por suas interpretações e pontas em diversos filmes. O mais recente foi “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas”, do mestre Tim Burton, em que ele faz o prefeito da cidade de Espectro, aquele simpático senhor que recebe Edward Bloom e entrega-lhe a chave da cidade. Tanto a mãe quanto a tia e a irmã e a outra tia e as primas de Rufus são cantoras. A mãe, Kate McGarrigle, participou do último show de Rufus, gravado no Carnagie Hall, em Nova Iorque, refazendo o clássico concerto de Judy Garland no mesmo espaço em 1961.

Seu segundo disco, “Poses”, é considerado por muito a sua grande obra, por atingir a perfeição entre os dois mundos transitados pelo cantor: as canções pop e a influência operística e teatral (Rufus está, inclusive, compondo uma ópera há três anos, de nome “Prima Donna”). Os dois discos seguintes, em que Rufus pretendia mostrar seus lados masculino e feminino, são considerados exagerados e afetados, o que eu particularmente discordo. Acredito que o projeto “Want” contenha algumas das mais belas canções já escritas no mundo, como “Dinner at Eight”, sobre uma discussão de Rufus com seu pai, e “The Art Teacher”, em que Rufus se coloca no papel de uma aluna apaixonada pelo professor de artes, lembrando das aulas depois de muitos anos.

Seu quinto disco, “Release the Stars”, produzido por Neil Tennant, do Pet Shop Boys, é uma reviravolta em seu estilo, tornando-se mais contido e um tanto quanto ácido. O disco apura os arranjos de Wainwright, buscando uma maior sabedoria no casamento sonoro dos instrumentos.

Rufus sempre foi declaradamente homossexual, chegando a escrever uma canção de nome “Gay Messiah” (presente no disco Want Two). Rufus já passou por algumas complicações. Durante a adolescência, costumava cantar a referida música em festas e provocar o riso dos amigos com versos como “Ele renascerá da pornografia dos anos 70” e “Não, eu não vou ser aquele batizado em esperma”.

Em uma dessas festas foi convidado por um homem mais velho a passear em um parque perto de sua casa e o que poderia ser um passeio romântico à luz do luar, tornou-se um estupro e um roubo, resultando em um Rufus com problemas de relacionamento por longos anos. Conversas com a diva Tori Amos, que passou por situação semelhante, o fizeram lidar melhor com o fato.

Rufus também conta que a canção já referida “Dinner at Eight” foi feita para seu pai, após uma briga entre os dois. Rufus havia sido convidado para estampar a capa da revista “Rolling Stone” e os editores acharam por bem chamar também seu pai. Por um motivo que não se sabe, Rufus disse que o pai se aproveitava de seu sucesso, pois ele nunca havia estado na capa de uma revista tão importante e não estaria se não fosse por ele. Isso calou fundo, deixando Loudon furioso, o estúdio pasmo e a sessão de fotos cancelada. Chegando em casa, ele compôs a canção, uma letra pesada, mas lindíssima. Após a reconciliação, Rufus a gravou.

É com toda essa bagagem que Rufus chega ao Brasil para uma temporada de quatro shows, até agora confirmados: São Paulo, Brasília, Rio e Belo Horizonte. Temos a obrigação e o dever de lotar todas as apresentações desse grande gênio em nosso país! Quem sabe isso o faça voltar mais e mais vezes para nos deleitar com suas canções e seu humor!

Aqui fica a indicação de um dos clipes do Rufus.

Este é "Rules and Regulations", do "Release the Stars"

Este é "California", do "Poses"

Rufus! Rufus! Rufus!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Antes que seja tarde
Abandonar
De cabeça erguida, sem muito pensar
O lugar tão belo daqui
Tarde
Ninguém mais vai falar de mim
Ninguém mais vai chorar por mim
Não mais
As caixas já lacradas
Folias já guardadas
Em um armário desmontável
No fim do corredor
Trancado também estou eu
Escuro, no breu
Esperando vir a luz do amor
Mas é tarde
Agora é tarde
Final da tarde
Saí.

Gosto bastante deste poema, um pouco antigo, perdido que estava no meio de um caderno.

terça-feira, 18 de março de 2008

Estou cansado de lutar contra minhas dúvidas.

Estou me tornando uma delas.
His eyes are soft and deep
Her hugs are warm and full
His voice is low and go right to my ears
She hypnotizes me when singing

I let my hand to both of them
She kisses me in the very way
that I like the most.

So does he.
Hoje à noite
O mundo foi descoberto
Pois você me olhou
Os pássaros cantaram
Pois você me olhou
Todos os bebês pararam de chorar
Pois você me olhou
O tempo parou.
Silêncio.
Eu guardei seu olhar.
Abrigado.
Obrigado.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008


Olhos verdes despedaçam meu olhar
Achei que em mim ficariam bem
Me enganei, bobagem de homem tolo
Não vi outros olhos nos verdes buscar consolo
E algo além



Rasgado até o que se dizia alma
Pensei ter na palma da mão a resposta
Tão certa como o cavalo em que aposto
Não, eu não vou ser o escolhido
Serei espectador, assistente. E amaldiçôo:
“Que os verdes fiquem vermelhos
Agora”
O que eu escrevo não é poesia
É a receita de uma vida melhor
Ou pior
Receita de um pobre preto
Ou não
Mais vale escrever sobre massas de pão
Tão estranho esse fato
Juntar palavras, sem nenhum tato
Pra que pensar? Pra que sofrer?
Viver é amar? Bobagem.
O amor não é doce
É como licor de jabuticaba
Azedo no fim
Mim
Estranho espetáculo e eu?
Eu aqui, só, à meia luz.
Fecha o palco.

O copo passa, cheio
Dedos se entrelaçam em mãos
Nos cantos escuros, escusos
Valentes batidas de coração
Todos riem, falam, piscam
Como galinhas em bando ciscam
Muita gente, do teto à solidão
E eu aqui, lavando as lágrimas do chão
Como isso pode ser?
Eu devia estar feliz
Todos os pontos do lar de alguém
Ocupados, alargados, largados, caprichados
Menos eu
E não penso em ti
Não, eu nunca mais pensarei em ti
E pronto.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Canções tolas de amor e abraços eternos

E ele disse que a primeira coisa encontrada foram os ossos. Separados, juntos. Os ossos se ligavam, tinham uma conexão toda especial. Claro, vinham de dois seres que provavelmente, pelo que podemos ver e supor, amavam-se muito. E eu ouço alguém dizer: “Quem diabos se interessa por ossos”? E eu pergunto: “E quem diabos se interessa por canções tolas de amor?”
Você se interessa por ossos? Ou canções de amor? Eu fico com a segunda opção. Ah, sim, e os ossos dos braços de uma pessoa amada me abraçando, talvez. Acho que não eternamente, mas quem sabe...

“Você pensa que as pessoas já se cansaram de tolas canções de amor
Mas eu olho ao meu redor e vejo que não é assim
Algumas pessoas querem preencher o mundo com tolas canções de amor
E o que há de errado com isso?
Eu gostaria de saber” - (Paul McCartney)

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Conversa roqueira



David Bowie: “O que você acha do que eu faço? O que você acha do glam-rock?”
John Lennon: “Ah, é ok, cara. É apenas o bom e velho rock’n’roll. Só que usando batom.”

I love rock'n'roll. Definitivamente.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sérgio Sampaio


A primeira vez que ouvi falar em Sérgio Sampaio foi em um documentário sobre o festival Phono 73. Esse festival foi realizado em São Paulo, no ano de 1973, em plena ditadura, tendo sido composto por shows de diversos cantores da época. Foi gravado pela Phonogram (daí vem o nome “Phono 73”) e tinha o intuito de mostrar como a ditadura manipulava a arte, como a censura atrapalhava a criação artística. Vários cantores foram impedidos de cantar. A história mais conhecida é a de Chico Buarque e Gilberto Gil tentando cantar sua música “Cálice”, trocadilho com “Cale-se”, censurada. Eles resolveram incluir a música, a contragosto da censura, cantando apenas a melodia, pontuando-a com a palavra cálice. Isso ocorreu até cortarem o microfone de Chico Buarque, interrompendo a canção.
Enfim, a narradora do documentário falava sobre a época e as roupas extravagantes usadas pelos cantores, o que os fazia difíceis de serem distinguidos em homens e mulheres. Caetano usava uma miniblusa e Sérgio usava sapatos de salto alto e uma camisa florida, além das famosas calças boca-de-sino.
Sérgio Moraes Sampaio nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, em 13 de Abril de 1947 e faleceu no Rio de Janeiro, em 15 de Maio de 1994. Foi radialista em sua cidade natal por um bom período até decidir fazer carreira musical no Rio. Participou do clássico álbum de Raul Seixas, “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10”, em 1971. No ano seguinte, Sérgio lançou a marcha-rancho Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua no Festival Internacional da Canção. A canção explodiu nas rádios e acabou por dar nome ao seu primeiro LP solo. O comportamento displicente e boêmio de Sérgio atrapalhou a maratona de entrevistas que faria para a divulgação do disco e este não foi bem sucedido. Logo foi rotulado como “maldito” da MPB, passando por várias gravadoras e lançando depois dois álbuns independentes chamados “Tem Que Acontecer”, em 1976 e “Sinceramente”, em 1982. Só se recuperou de seu alcoolismo na década de 90, mas uma crise aguda de pancreatite o impede de retomar a carreira e o maldito finalmente descansa.
Sérgio deixou uma obra um tanto quanto complexa. Apesar de sua aparência simplória, ele critica diversas intituições da sociedade, com canções engraçadas e por vezes um tanto ácidas.
Esse vídeo mostra a sua canção mais famosa, Eu Quero É Botar Meu Bloco na Rua, no festival Phono 73.
http://www.youtube.com/watch?v=-H57xrGE60k

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Jody Shelton

Passeando pela internet, algo que gosto muito de fazer, há cerca de um ano ou dois, tropecei na canção “Blur”, de um cantor americano chamado Jody Shelton. A canção me chamou muito a atenção pela qualidade sonora e lírica e também pela semelhança de clima com algumas canções do Coldplay, banda inglesa que estava ouvindo muito na época. Fui atrás de informações sobre o rapaz e descobri que ele estava começando carreira na cidade grande de Nova Iorque. Aqui vai um breve resumo sobre a história dele:
A história da banda de Jody Shelton inicia-se no final de 2003, quando o cantor e compositor, nativo do Tenesse, muda-se para Nova Iorque, cidade no qual volta a compor, depois de ter enfrentado um hiato de três anos de falta de inspiração em sua terra natal. Toca com muitos músicos em diversos bares e casas de shows e conhece diversas pessoas, até que, em 2005, lança o EP “Rise”, com músicas como a já citada “Blur” e “All These Sounds”. Hoje, Jody, que já lançou seu segundo EP, “Child”, em 2006, lidera a banda “Astronomer”, que nada mais é do que a Jody Shelton Band, mas com outro nome. Vez por outro, apresenta-se solo. Eu faço parte da sua lista de emails e ele vive me mandando convites para shows. O problema é que são todos em Nova Iorque... A música desse vídeo é “Blur”, mas na versão da Astronomer. Espero que gostem!

Cantores Desconhecidos

Eu gosto muito de música, como vocês já devem ter percebido. Por isso, sempre estou à procura de novos sons, novos cantores e cantoras, bandas, solistas e tudo o mais. Vou usar esse blog, além de mostrar meus humildes poemas, para também trazer à tona cantores que eu gosto, mas que nem sempre são conhecidos. Falarei um pouco sobre eles e mostrarei um vídeo ou uma música para que vocês tomem conhecimento de um trabalho de qualidade. Os marcadores usados serão “cantores” “desconhecidos”, para que fique fácil achá-los em meio aos posts. Vai ser algo divertido pra mim poder falar desses músicos quase anônimos (ou nem tanto) e espero que também seja pra vocês, meus fiéis leitores!

Eu tinha pensado em fazer isso antes, mas tinha achado um pouco pretencioso, não sei. Tudo mudou com o comentário do meu querido amigo Marcelo Mantovani, que me incentivou e me deu mais vontade de escrever sobre eles.

Marcelo diz: "acho que aprenderei muito sobre música & artes afins aqui... aliás, você poderia criar uma seção tipo "cantores/cantoras" desconhecidos, pois você (e só você) conhece vários". Agradeço o incentivo e a confiança de sempre, Cello!
Tentei fugir de mim mesmo.
Ser outro, ter outros olhos.
Um tanto quanto complicado isso.
Fúria fútil de uma alma juvenil.
Eterno pilantra enganador.
Malandro de morro
Eu morro longe disso
Eu não.
Amo o que tenho e o que não tenho
Me despedaço em mim
De mim não fujo.
Corro.
Papéis, papéis, bolachas
Uma água com gás sem gás
Um violão. CDs. Livros. Milhares.
Discos. DVDs.
Lista de compras?
Não. Eu.
Ele me falava muito pouco
O que eu sabia sobre ele
era por outros.
Não sei se já tinha amado
E que time torcia quando criança
Se gostava de azul ou cerveja,
se respondia cartas ou via filmes
Pouco sei sobre ele.
Por muito tempo tive dúvidas se me amava
E hoje sei que me amava muito
E por muito pouco.
Ofereci minha vida
Simples, fácil, eu.
Aceitastes.
Anos depois, vi minha vida
Guardada na mesma caixa em que
a mandei
Mais velha, claro,
estranha à mim,
distante de tudo.
Esgarçada, não vivida
Abandonada na multidão.
Um retrato embaixo da cama
Jornais de todos os dias daquela semana
Longe, longe de mim.
O que eu lembro é que rasguei tudo.
Retrato, jornais, você.
Pedaços espalhados por aí.
Eu sempre nego tudo.

Poemas feitos na espera

Eu estava esperando por ela, que estava poucos minutos atrasada. Poucos. Muitos poucos. Alguns outros homens fariam um escândalo, “como você demorou!”, “onde você estava?” e coisas assim. Eu não. Perda de tempo ficar brigando por uma coisa tão simples. Atrasou. Pronto. Só isso. Se ainda dá tempo de entrar no filme, tá tudo bem.
Bem, ela chegou e me viu de longe. Eu estava numa boa, escrevendo. Pensando em coisas aleatórias, certamente muito longe daquele pequeno shopping em meio à imensa cidade.
Essa é a mágica de escrever. Eu estava sentado em uma mesa, com uma turma falando de futebol de um lado e um casal namorado querendo fazer “coisas” (da forma mais discreta possível, claro) de outro. Tirando o fato de que o cara era meio devagar e pouquíssimo discreto, porque a moça, vira e mexe, falava “pára, Jorge...”, tudo estava normal. E eu escrevia. O que escrevi naquele dia? Cinco poemas curtos em quinze minutos. Estão por aí.

sábado, 26 de janeiro de 2008

Poema de guardanapo em inglês

Lost inside a plastic box
Looking for some reason
Why should I let her be my queen?
Why should I just let her be?
There's no exit
I can't find it
Plastic box
Plastic box
Open it
Open it now

Baby, baby
Let's dance in the middle of the stars
Starts in my mind
Plastic box
My life in plastic

"But I'll survive your naked eyes
I'll survive" (David Bowie)


Não tenho explicações.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Across the Universe

Ontem eu fui ao cinema assistir a um filme que eu sabia que ia gostar. Sabe quando você sai de casa e tem certeza de que tudo que virá pela frente será muito bacana? Eu sei que nem sempre temos essa certeza, claro, mas quando temos é uma coisa de louco!
Bom, voltando ao assunto, fui ver “Across the Universe”, filme de Julie Taymor (do ótimo filme "Frida"), uma história de amor na década de 60 que tem por pano de fundo as canções inesquecíveis dos Fab Four, também conhecidos como The Beatles!
A história é relativamente simples. Um garoto inglês, Jude (de “Hey, Jude”) morador de Liverpool, vai aos Estados Unidos procurar pelo pai, soldado de guerra desaparecido. Lá conhece Max e sua irmã, Lucy (dã...). Todos se envolvem nas contradições da época, os hippies, a guerra do Vietnã (uma das mais imbecis da história, se é que existe alguma guerra inteligente...) e, claro, o rock’n’roll. Todos as personagens tem nome baseados em canções, como Sadie (de “Sexy Sadie”), JoJo (de “Get Back”), Prudence (de “Dear Prudence”), entre outros.
Ao contrário do que possa parecer, todas as músicas e citações entram no filme com um sentido todo próprio, não é algo aleatório. JoJo e Sadie são, por exemplo, representantes de Jimi Hendrix e Janis Joplin.
Um grande musical, vai ficar pra história. Pelo menos pra minha história.
Filme recomendadíssimo! E com uma trilha sonora impecável!

O dia foi muito bom. Além de ter assistido a um ótimo filme, a companhia foi um arraso! Fui com minha amiga Keli Roberta, uma atriz fantástica e mulher interessantíssima, além de bonita! Ficamos batendo papo depois do filme e fugindo de assaltantes imaginários (ou potenciais, sei lá...), porque, como diz sua personagem Down (famosa "em toda PUC-Campinas"), “ela não é neurótica, ela é ligada”! Adorei!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

The World Will Thank You

Go for a walk someday
Think about all your insanity
Days of our lives are better now
While you walk
Grab the gun inside your pocket
And shoot all your bad dreams
Put it all in a plastic box and
Lock it
Then go for the west side of town
Pick up the box and the gun and the dreams
And through it all into the river
The world will thank you.

"And everything goes with the wind"



Passando por uma ponte
Em um lugar esquecido da velha Londres
Avistei uma moça, jovem como a estrela nova
E parei para falar-lhe:
“Filha perdida, por que não voltas?
Tantos anos já se passaram desde sua partida
Sou velho, estou com a morte por companhia.
Retorna”
Ela tragou o cigarro e
Fez círculos com a fumaça,
tão perfeitos quanto meu pensamento,
E disse:
“Caro pai, já não sou mais sua filha.
O vento me adotou como sua imperatriz
E não posso assim largá-lo e voltar,
como você diz”
Pensei por um momento
Em algo que a atraísse
Mas nada me vinha à mente
Nada.
Tudo parecia ter voado com o vento.
Ela já não era mais minha filha.
E ela disse:
“É como imaginei. Faz tantos anos
Que nos separamos que não nos conhecemos mais.
Giramos em círculos da vida e de cigarros.
Pai, isso é um adeus.”
As lágrimas me escorreram pela face
aos borbotões, riachos, desilusões.
Nada pude fazer, apenas recolher meus
cacos.
Ela se apoiou na borda, acenou, se atirou.
E para encontrar seu marido
Desfez-se em pó antes de chegar ao mar.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Finito Corte

Me deixa
Preciso andar
Procurar o que perdi em você
Tantas cartas ficaram na mesa
Tantos planos amassados na gaveta
Teus olhos eram como os de uma tigresa
E eu nem vi se tinha visto tanta beleza
Por um tempo foi tudo um clichê
Apenas frases feitas e não pensadas
Palavras amarradas largadas em sua boca
Como se sentissem falta de você
Nosso amor foi um vestido de finito corte
Comporte e se deporte de mim
Fui apenas um consorte
Sem sorte, pois nada ficou
Há tempos não vejo meu sorriso
Minha gargalhada se mudou daqui
Lembro: você me prometeu o paraíso
E não a tal verdade nua
A janela é uma proposta tentadora
Mas não vale para uma enganadora
A raiva me manda postais e apareceu
Com um presente quando me dei conta
Minha razão lenta e tonta e demorada
Passou um tempo sem me ver
Achas que estou bem?
O que aconteceu: eu me perdi no amor
E agora me amanheci
E me achei em alguém
Tola
Não preciso de você
Não me incomode mais
E por favor
Diga que me ama.
São filhos da minha própria desgraça
Cartas não acabadas
Canções fora do tom
É o tempo, homem duro, que não passa
Tantas palavras não faladas
Um clima que não é bom
Um sorriso guardado no fundo da gaveta
Uma briga eterna esperando que alguém se intrometa
E fale como está o sol lá fora
E agora é hora do jantar
Meus olhos, nos quais hoje moro,
não se abrem
A luz do poste da rua ainda não acendeu
Pedi ajuda aos deuses da lua,
Mas ninguém me socorreu
A solidão é uma moça linda
E traiçoeira
Que entra em mim e não larga
Em sinistra brincadeira
Ser artista, ser poeta, que difícil!
Guardo minha dor no travesseiro
Cultivo mágoas em um vaso no banheiro
Escrevo rabiscos que se consideram palavras
Em folhas de um velho caderno.
Eu certa ouvi uma voz
Vinda de lugar nenhum
Contar-me histórias
De um velho garoto
Dizia-me o tal menino
De muito longe tinha vindo
E muito tinha pra contar
Revelava seus segredos
Na beira de nosso mar
O tal homenzinho
Tinha voz de maré baixa
E dia ter sido abandonado
Pelo pai plebeu
Dizia ser ele do povo das águas
Do mais profundo escuro oceano
E eu tentava, com esforço sobrehumano
Entendê-lo
Seus olhos eram velhos
Mas brilhavam tanto como
A lua em dia de cheia
Poucas palavras falava-lhe
E faltavam-lhe
O sol fazia mal à sua pele
Se representava? Eu não sabia.
E falava o garoto
Falava, falava, falava
Em mim lágrimas brotavam
Tanto que secaram minha visão de tempo
O menino sorriu
E seu sorriso pra mim soou e seria
Como o amanhecer
Abri meus olhos de peixe
E estava transformado
Quem pode ser condenado
Por amar alguém em demasiado?
Amei o menino como a um filho
Suas escamas eram minhas agora
O solo veio a mim se despedir
E o mar veio me cortejar
Eu o vejo passear
Está feliz
Estou feliz
Vez por outra ele aparece
E hoje aqui estou
E apenas peço que me deixe
Tranqüilo
Em paz
Peixe.
Saiu andando devagar
Sem parar ou olhar pra trás
Lembrança deixando pra nunca mais
Enquanto ele folheia os jornais
Os pés calçados em sapatos de couro
Pisam com força o chão duro
Resolvido a mudar seu futuro
E não mais
Deixar a ilusão levar
Ele
Que tantos sonhos tinha a pulsar
Não imaginou, nem por um momento
Ser arrasado por dentro
Sufocar sem ar
“Baby, vem comigo”, ele chamou
“Quero entrar na semente do perigo
E eu te digo mais
Tão pobre sou
Não sou nem mais capaz
De mudar, de lutar
Ora, deixe pra lá
Todas as tentativas de mudar de vida
Deixe pra lá
Já nasci homem condenado
Já sei qual vai ser resultado
De tentar mudar
Nada vai dar certo
Vou acabar
Me afogando em areias do deserto
Oh, baby
Oh, deixe pra lá”.

Mudanças


Já quis ser muitas coisas nessa minha vida. Filho perfeito, irmão perfeito, amigo perfeito, namorado perfeito. Pensei também em ser o amante perfeito, mas achei que isso seria uma sacanagem com as minhas amadas e não no bom sentido. Demorei um tempo pra descobrir que eu devia ser apenas o que era, com todos os meus problemas e clichês.
A Arte sempre me inspirou e ajudou a ver esse mundo todo de forma diferente. O teatro e a música me libertaram de algumas amarras que eu mesmo me impus. Filho de pais separadas, ignorado por colegas no colégio, eu não era o estereótipo de garoto feliz. A música me fez ver que eu tinha algo que todos os outros não tinham, além de cérebro e noção: eu tinha um dom de transformar o que sentia em música! Se as canções ficavam boas ou ruins, isso já é outro problema, mas com certeza eu me divertia juntando acordes e fazendo letras e melodias que, em minha cabeça e muitas vezes só lá, faziam sentido.
Uma dor às vezes me apertava o interior. Demorei pra descobrir que era a minha falta de normalidade. Achei por muito tempo que isso era um problema. Estava errado. Esse era o começo de minha felicidade.
Quando assumi que era diferente e minha vida era muito mais do que festas e ficadas, me senti livre, verdadeiro e (por que não) rock’n’roll.
Vários amigos me contaram histórias de que suas vidas mudaram por causa de bandas de rock. Bobagem, alguns podem pensar. Pode ser. Eu sempre ouvi muita música, Chico, Tom, Vinícius, Toquinho, mas foi quando eu passei a ouvir Steven Tyler, sua turma e suas fantásticas "rock'n'roll songs" que minha mudança se acentuou.
O primeiro disco de rock que eu ganhei foi “Bridges to Babylon”, dos Stones, de minha irmã Andrea. Agradeço à ela por me introduzir nessa mudança. Eu achava tudo uma barulheira, agora entendo o que rola nas guitarras.
Eu já tinha passado por processos de mudanças ao ouvir Paralamas (e persegui-los por camarins) e Legião, mas foi com o Stivinho que o negócio explodiu!
Eu sou agora o que eu quiser e eu amo quem eu quiser! Ou alguém vai dizer a uma folha o que ela deve ser?

domingo, 20 de janeiro de 2008

Primeiro, precisamos conversar.

David Bowie é um de meus ídolos. Resolvi homenageá-lo dando o nome de um de seus discos a esse blog. Já tinha feito isso com meu carro, que também se chama Ziggy Stardust.
Já tive um blog, algumas pessoas devem lembrar dele. Chamava-se "Ser Que Ama". Resolvi abrir esse outro por não mais conseguir mexer no outro. Motivos vários: lembranças boas e ruins, falta de vontade e, bem, ter esquecido a bendita senha! O Blogger não me deixa acessá-lo de jeito nenhum! Já fiz de tudo! Até reza com galinha preta e velas de defunto em encruzilhadas! Bem, tudo bem, tudo bem, não cheguei a tanto, até porque não acredito em nada dessas coisas...
Primeiro post, botando a casa "em ordem". Tava sentindo falta de um lugar pra colocar meus escritos e poemas e receitas de bolo e doce de pêra. Gostei da idéia de ter um lugar novo, uma casa nova para a loucura dos meus pensamentos. Seja bem-vindo, intrépido leitor!