Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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sábado, 24 de novembro de 2012

Era Natal


Ele gostava tanto de Natal que era irritante. Se era meio, muito ou super irritante, isso dependia de quem dava a resposta. O que interessa saber é que ele passava o ano inteiro pregando ideais de amor e paz, de união entre as pessoas e tudo o mais. Os outros moradores da vila se sentiam acuados. Ele parecia estar em todos os lugares, aquele homem. Não havia nada que eles fizessem que ele não estivesse ali para aprovar ou para repreender. Uma bituca de cigarro jogada na rua poderia servir de munição para sermões por uns bons dias.

Só as crianças gostavam dele. Sempre colocava uma barba branca e uma roupa vermelha e dava presentes para elas. Ele era uma fonte de fantasia para elas que, apesar de tão jovens, já viviam em condições difíceis.

O tempo passou e, ao contrário do que se esperaria, as pessoas da vila passaram a gostar menos ainda dele. Invadiram sua casa, roubaram várias de suas coisas e disseram que suas crianças não se aproximassem dele.

Ele andava amargurado pelo parque da cidade quando foi atacado. Três homens deram-lhe socos no estômago e um cortou sua garganta. O sangue escorreu pelo seu peito. Jogaram-lhe neve no rosto.

Aquela sangue e a neve faziam com que ele parecesse uma espécie de Papai Noel macabro.

As pessoas daquela vila já haviam desistido de fantasia. 

domingo, 28 de outubro de 2012

BLOCKED

I                       am                    blocked.

It is said that for you to write you must have feelings for something
And I guess that is my problem

I              can't  feel.

I can't even decide if what I am writing is poetry or prose or just a bunch of words that came out of nowhere and are just putting themselves together for the fun of it. I guess this last option is more likely to be happening.

So what, then?

Am I to be controlled by my words rather than them be controlled by me?

"I never said I was deep", sings Jarvis in my radio and I would have to agree with him. I mean, I am deep, I just can't write anything that is good enough to even be considered prose or poetry or whatever.

It's hot in here. The window is open, but the wind has left the building. I feel like I am gonna melt to death. Maybe even melt Death itself. That would be wrong and exciting at the same time, wouldn't it?

I don't even know what I am doing. For all I know, I could keep writing for the whole night long and that would still bothers me. Sometimes, sometimes, only sometimes I wish I had normal feelings. I am always on a verge of something and, Gosh, how difficult it is to relax. Relax.

I can't do this. The TV and the table lights are on, but I guess I AM OFF. Off the table, off the consideration, off life.

I better sunk into a nice dream and swallow my bitterness and my melancholy. They have always come and they will always come to ruin my days, together with my inner voices. If it is bad enough for each of us to have a voice in our heads saying what to do, what about a voice that inflates you to do something you might not be entirely ready to do it.










I AM LEARNING HOW TO FEEL AND HOW TO FEAR.

Whisky



Hoje eu acordei pensando que o céu deveria ser mesmo verde. Pensem bem (e não, isso não é o plural de um computadorzinho de um jogo de séculos atrás), não é muito mais lógico ele ser verde? Olhem para a quantidade de florestas que ainda existem no mundo. Comi um pedaço de sanduíche delicioso e sei lá a loucura é belíssima. Profissionalismo zero ainda, mas vivo em montanhas de livros e bebo Whisky. Gostaria de ver o céu verde, vou conversar com meus amigos físicos e ver se isso é possível. Sei lá se é, deve ser, quem sabe, quem sabe. O 007 e o MacGyver devem saber...

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Carta para meu filho que ainda não nasceu


      Oi. Eu sei que a gente não se conhece ainda, mas eu tenho pensado muito em ti, definido personalidade, cor de olhos e cabelo, jeitos, gostos, idéias e ideais. Não faço idéia se você será como eu imagino (e - em algum lugar aqui dentro de mim - espero que não e espero que sim ao mesmo tempo), mas não importa. Fiquei pensando no que vou te dizer, no que você vai gostar, em como vou te explicar certas coisas desse mundo meio inexplicável. Espero que você goste de macarrão, porque eu adoro e vou te ensinar receitas. Um dia a gente pode fazer macarrão juntos. Fazer a massa desde o início e depois colocar na máquina e espalhar macarrão pela casa inteira. A sua mãe vai ficar louca comigo e contigo. Quero te ensinar a tocar violão, a cantar. Quero conversar sobre meus autores favoritos e quero aprender novos contigo. 

      Sempre pensei em ti, meu filho, mas não tanto quanto tenho pensando ultimamente. Eu acho que você está cada vez mais próximo de sair desse grande paraíso em que você está para vir aqui ficar comigo, viver comigo. Prometo ler para você todas as noites, mas você precisa dormir logo porque vai aprender que eu quando eu fico com sono simplesmente capoto. Um dia vou fazer alguma besteira e você vai descobrir que a fada dos dentes não existe e já peço desculpas antecipadas por isso. Assim como o Papai Noel e o Coelho da Páscoa. Não sei se vou ter dinheiro para sempre lhe dar o presente que você vai querer. É importante que você aprende que não podemos sempre ter tudo que queremos, às vezes o que realmente importa é de graça. Vou te contar a história da sua bisavó e provavelmente repeti-la algumas vezes. Uma vez eu abri um presente e estava tão interessado em ver o que era que rasguei o papel de embrulho e nem dei bola (expressão velha que significa dar importância) para o cartão. Ela me disse que o mais importante era o cartão. Abri e li "Dos seus avós que te amam tanto". Fiquei com vergonha e dei um abraço nela. Realmente o mais importante era mesmo o cartão.

      Espero que você seja um cara bacana e trate bem as mulheres a sua volta. Seu pai estudou com muitas delas e teve que aprender a lidar com elas. São complicadas e complexas, mas não vivemos sem elas, mesmo que durante um tempo elas sejam meio "nojentas". Todo mundo passa por esse período em que não gostamos do sexo oposto. Depois elas amadurecem e você fica feito besta atrás delas. Não me importo se você gostar de meninos, a escolha é sempre sua. Se quiser gostar dos dois, boa escolha! Só peço cuidado. Não se controle demais, não se condene demais, não pense demais. Sabe, alguns relacionamentos a gente tem que simplesmente se jogar e não ponderar muito. Isso só estraga a diversão. Ame, sofra, xingue, faça sexo. Cuide-se, mas não muito. Vai chegar o momento de casar ou viver juntos e talvez ter filhos, que serão meus netos. Pode ser que você escolha não tê-los e isso também está bem. Veja muito filmes. Leia bons livros e leia livros horrorosos, mas sempre mantenha a cabeça funcionando.

      Eu te entendo se uma noite dessas vocês não quiser nada a não ser ouvir música e beber whisky bom. Já fiz isso, meu filho, todos fizemos isso, mesmo que seja com coca-cola. Já passei madrugadas lendo, chorando. Já sonhei coisas felizes e acordei dando risada. Já ri tanto em sonhos que não conseguia mais dormir. Já tive muita insônia. Espero que você escreva também. Que você tenha cadernos espalhados pela casa, para anotar seus pensamentos, compromissos, frases de filmes, letras de músicas ou até desenhos, coisa que seu pai nunca foi bom. Eu até tentei desenhar, sua avó é uma desenhista de mão cheia, mas esse gene eu não peguei. Quem sabe você pegue.

       Abrace muito, meu filho, o mundo sempre vai precisar de mais abraços. Daqueles de verdade, cheios, carinhosos, que dizem "estou aqui com você para o que der e vier". Abrace seus amigos, abrace seus avós, abrace sua esposa, abrace sua mãe e me dê grandes abraços também. Tomara que você tenha um bicho de estimação. Qualquer um deles, peixe, ave, gato, cachorro. O que você preferir. Espero que seja um cachorro. Eu amo cachorros. Queria que você escutasse música comigo.

        Um dia você também vai ser pai e vai cuidar do seu filho. Vai querer exterminar todos que mexerem com ele, vai vibrar com as novidades da escolinha. Espero que você gosta da escolinha que escolhermos para você, tenha certeza que vai ser pensando no seu melhor. Se você simplesmente odiá-la a gente troca, não tem problema. Queria que você gostasse de ter longas conversas sobre a vida. Ou não. Mas queria saber que você tem a certeza de que eu vou estar sempre aqui com e por você. Uns dias serei extrovertido e engraçado, outros serei mais sério. Em nenhum deles amarei você mais ou menos, sempre te amarei milhares, saiba disso.

       Um dia eu vou precisar de você. De você e da retribuição do amor e cuidado que eu vou te dar a vida toda. Ficarei mais velho, filho, e esquecerei coisas óbvias, talvez não te dê tanta atenção como antes, mas o meu amor continuará o mesmo. Talvez você pense que eu não presto atenção em ti, mas presto. E estarei lutando contra essa coisa doida que é a velhice, o ser de um outro tempo. Talvez não escute mais tão bem e você tenha que repetir algo várias vezes. Repita.

       Quero te levar para tomar cerveja em diversos bares para que a gente possa conversar sobre a sua vida, sobre o seu futuro, sobre o que você viu na faculdade ou no trabalho. Espero que você estude algo que você goste e consiga se achar logo. Espero que você tenha amigos tão queridos como os que eu tenho. Eu conheço muita gente, meu filho, e você vai perceber isso com o tempo, mas posso contar na mão os amigos com quem posso contar para tudo. Esses são os que deixo mais próximo ao coração. Vou te emprestar meus discos e meus livros, se você prometer que vai cuidar. Você sabe como eu sou em relação a eles.

      Essa carta é estranha porque você ainda não existe. Não importa, sei que você vai existir, sei que você está se formando no País Que Sempre Faz Verão e sei que você virá em um futuro não tão distante assim. Sei que você vai passar por poucas e boas com e sem mim. Você vai chorar, você vai rir e sangrar e reclamar e ficar feliz e amar e brigar e tudo o mais.

      Eu estarei do seu lado, te observando de perto e de longe. Quero que você seja feliz, meu filho, tão feliz quanto eu tenho certeza que serei quando te olhar nos olhos pela primeira vez. Prometo - e isso está prometido e deve ser cumprido - tentar ser o melhor pai do mundo. Farei algumas bobagens, te chatearei várias vezes, mas sempre procurarei me remediar. E pode ter certeza, meu garoto, que você vai ser o filho mais amado do mundo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Primeira Esquizocrônica

                                                           
para Caio Fernando Abreu 


Minha miopia aumentou. Isso só faz com que eu enxergue  a vida de forma ainda mais diferente. Algumas coisas ficam meio borradas, os olhos secam e eu tenho que ver tudo com um olho só ou outro. Tenho umas dores internas, uns troços que eu não sei explicar bem. Parece que estão lá tentando me arrancar de dentro de mim mesmo. Ando curtindo cozinhar e ouvir música portuguesa. Aquela coisa meio chorada, mas que eu adoro. Eu tenho mesmo um quê desesperado, está no sangue, eu acho. Fico pensando em quem já foi sem ter ido, pessoas que foram muito próximas, mas que agora são nada mais que meros estranhos. Não sei o que fazem e não sei se gostaria de saber. Sinto falta de algumas, até passei por cima de meu orgulho e tentei contato com algumas. Nesse mundo internético, a sensação que dá é que mandar um email é menos invasivo do que telefonar, quando eu acho que deveria ser o contrário. E eu contrario o contrário. O que eu gostaria mesmo era de ter tempo de visitar todos os meus amigos e ficar por horas conversando sobre a vida. Aquelas de filosofia mesmo que vai ficando cada vez menos analítica e cada vez mais alcoólica. O tempo está incrivelmente quente eu não consigo dormir. Olho pela janela e vejo a cidade ao redor de mim, suas luzes acesas e vesgamente me divirto. Se ficamos vesgos, elas brincam de fazer outras formas e eu fico meio cego por uns segundos, talvez por isso que a miopia esteja aumentando, enfim. Quero ir sempre em busca da luz. Andei meio nas trevas esses últimos dias. Me irritava com pouco. Ou muito, depende do ponto de vista. No caso, estou falando do meu. Sou incrivelmente pessoal, sempre. Não devia porque acabo falando de mim e depois as pessoas acham que me conhecem intimamente. Não, não, caros, como podem me conhecer intimamente se nem eu me conheço, oras? Até eu mesmo peço licença a mim mesmo para conversar e conhecer mais sobre eu mesmo. E nessa educação toda entre mim e eu ou eu e mim, já nem sei mais do que estava falando. Quero muito ir para a Argentina, aproveitar que o peso está baixo. A barra está meio pesada, na verdade, mas estou falando de dinheiro. Queria comprar todos os discos do Fito Paez e Charly Garcia e sentar em frente à Casa Rosada e imaginar Evita Perón cantando “Don’t Cry For Me, Argentina”. Não consigo lembrar de Eva Perón sem lembrar de Madonna estragando tudo naquele filme ridículo. Gosto do Antonio Banderas, mas o que me irrita é ele ter aceitado esse esteriótipo tosco de latin-lover e aceitar todo e qualquer papel em que é o amante e/ou marido sedutor. Jamais vou perdoá-lo por cantar “Al Otro Lado del Rio”, do Jorge Drexler. Ainda bem que ganhou, mesmo com o Banderas e o Santana (esse é outro!) destruindo tudo. E não no bom sentido. Lembro do Che e quero fazer a viagem que ele fez, mas de carro. Sei lá se eu conseguiria sentar em uma moto e viajar tanto quanto ele e o Granado, provavelmente não. Deixo isso para meu amigo Sydnei. Estava calor, tirei toda a roupa, para alegria ou alergia dos vizinhos. Agora estou com frio. Vou colocar a cabeça no travesseiro. Quem sabe o tremor dos meus pensamentos me embale. Sei lá.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Confissões de um Escritor (2)


       A noite hoje está fria. Meio fria, digamos. O nosso conceito de frio é bem diferente de uns lugares que eu andei visitando. Nós não temos muita noção do que é frio e eles sequer imaginam o que é calor. Enfim, está fria. Fiz, então, o meu ritual de noites frias (e até as não frias, também conhecidas como quentes). Coloquei a água para esquentar e fui escolher meu chá. Eu gosto de escrever bebericando alguma coisa leve, como diria Caio Fernando Abreu. 
    Chá é sempre uma opção, simples, rápido e fácil; isso quando eu não invento de fazer o chá da forma antiga, claro. Tenho então que pegar a erva e/ou mistura de ervas de um pacote de plástico e colocá-la em um objeto de metal ou alumínio que a faz a mesma função do saquinho dos outros chás, serve para evitar que a erva misture com a água. Evitaria, se funcionasse. Temos dois aqui em casa: um deles parece um ovinho e o outro é uma casinha muito bonita. O primeiro funciona, mas a casinha é um desastre. Eu coloquei chá nela outro dia e a erva escapou toda pelo telhado. Lindo, mas inútil. A chaleira chiou, a água ferveu, eu coloquei o açúcar e o saquinho e o chá está agora olhando para mim como quem diz, sensual: “E aí? Vai me beber?”. Juro. E tem dias que eu escrevo bebendo whisky. Eles são mais raros, mas acontecem. 
      Estou sentado olhando para a tela do computador enquanto digito e também olhando para a caixa de disquetes ao meu lado (sim! Disquetes!) que tenho que olhar um por um para saber se não estou perdendo algo importantíssimo para a humanidade. Eu ia jogar a caixinha fora direto, mas uma etiqueta me parou: “Usados”. Fiquei intrigado e agora vou olhar todos para saber seus dignos conteúdos. Mas não agora. 
Enquanto crio coragem, pensei em mais umas confissões que posso fazer. Há tempos que não me confesso, caros leitores, e vou fazê-lo aqui, como da outra vez. Sei que vocês se sentem mais leves ao lerem confissões e acabam também se confessando. Escolham os pecados mais interessantes, senão a minha caixa de comentários vai ficar completamente cheia. 

1. Palavras estranhas

   Eu sempre gostei de palavras, das mais variadas formas. Desde criança gostava de brincar de fazer versos. Fui colecionando minhas palavras favoritas ao longo da vida. Algumas são bonitas, mas muitas deles são estranhas e não tenho nenhuma explicação de porque gosto delas, só sei que gosto. Um exemplo disso é a palavra BLOCO. Sempre achei sonoro, potente e me achava um completo maluco de ficar pensando nisso. Gosto de palavras como força, garra, noite, que são palavras menos esdrúxulas, aliás, outra palavra que eu gosto. Gosto de arrefecimento. Palavras com B são minhas favoritas eu acho, vide Bloco, Bolo, Barro, masturBação. É, estranha palavra para se gostar, mas gosto. Das duas coisas. 

2. Medo de filmes de terror

    Não é medo exatamente. Eu sei que é um filme, eu sei que foi tudo ensaiado, eu sei que o sangue não é sangue e tudo isso, mas eu acho que eu me envolvo tanto na história (quando ela existe) que eu passo a fazer parte da coisa toda. Os sustos – mesmo os mais óbvios – quase sempre me pegam. Eu não tenho medo de filmes, eu sei que os monstros, caras malvadas, crianças endiabradas não vão sair da tela, mas fico tenso. Não só isso, fico tenso e continuo assistindo! 

3. Relação com a preguiça

    Minha relação com a preguiça é esquisitíssima. Eu não gosto muito de ficar parado e sou péssimo em relaxar. Acho que fico sempre pensando em alguma coisa, sonhando com outra, tentando fazer outra que relaxar é algo que eu não sei. Aquela coisa de não fazer nada, sabe? Simplesmente sentar e ouvir música ou ver televisão ou nem isso, ficar sentado olhando para o nada. Eu acho que estou perdendo tempo. Fico o ano inteiro pedindo por férias, reclamando que trabalho demais, que os alunos tem folga e eu não e bla bla bla. Aí entro de férias. Depois de quatro dias já quero minha rotina de novo. Eu gosto muito de dormir e de enrolar na cama, mas isso também me cansa. Eu acho que a rotina me incomoda, apesar dela ser necessário e o que é sempre igual é destruidor. Gosto de relaxar (tentar, ao menos), mas prefiro estar em atividade. 

4. Friends, David Bowie, Caetano...

     Adoro minhas paixões e pesquiso tudo o que posso sobre as coisas que eu gosto. Sei tudo sobre a vida do David Bowie, sei muito sobre o Caetano, sei frases e por vezes diálogos inteiros do Friends, canto todas as vozes do “The Phantom of the Opera”. Isso pode ser enlouquecedor para quem convive comigo. Tenho a sorte de ter gente a minha volta que gosta de saber detalhes ou que não se importa em me ouvir falar e falar, senão eu realmente estaria com problemas. 

5. Milhares de CDs e quero mais

    Tenho uma coleção gigante de CDs. É famosa, muita gente já pegou CDs meus emprestados, alguns inclusive não devolveram. Passei esses últimos dias organizando, passando de um lugar ao outro, conferindo caixinhas e se estavam todos em ordem alfabética e cronológica. No fim, depois de passar dias arrumando queria ouvir algo. Passei os olhos por todos os CDs e pensei: “não quero escutar nada disso”. Sou maluco. 

Confessem-se! 

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Conversa na Frente de um Elevador

- Ah! Bem que eu achei que fosse encontrar você perto do elevador!
- Eu estou indo para casa.
- Você costumava descer as escadas...
- Sim e você costumava acreditar no Lula. As pessoas mudam.
- Eu não mudei tanto assim, ainda acredito em algumas coisas e acho que a Dilma tem feito grandes progressos.
- Se você considerar essa baderna como progresso, até pode ser.
- Não acredito que vamos falar de política como primeiro assunto de uma conversa nossa em meses.
- Você que trouxe o assunto à tona.
- Sim, é verdade, desculpe. Vim aqui para trazer os papéis e falar do Eduardo.
- O que tem o Eduardo?
- A babá me ligou e disse o que ele fez no colégio. Precisamos conversar.
- Acho que não. Já estou tomando conta disso.
- E não precisa da minha opinião?
- Sinceramente? Não.
- Não gosto quando você toma essas atitudes.
- Que atitudes?
- Simplesmente ignorar o que eu acho. Ele é meu filho também. Sabe, isso foi uma das coisas que nos afastou.
- Não, Carlos, o que nos afastou foi a sua secretária calhar de ser também sua amante e colocar fotos suas extremamente comprometedoras na internet.

(Tempo, sentam no banco colocado na frente do elevador. O ambiente é comum em empresas, um banco, algumas plantas, em geral não muito bonitas, mas bem verdes)

- Precisa apelar? Você não consegue ter uma conversa normal? Precisa partir sempre para a briga?
- Estou apenas relembrando os fatos.
- Nunca mais eu vou conseguir ter uma conversa com você que seja sem acusações e ironias?
- Não estou lhe acusando de nada, Carlos, você se colocou nessa situação sozinho.
- Bom, não importa. Nós já estamos acabados, mas o Eduardo está com problemas e é nisso que devemos nos focar agora.
- Claro. Muito mais fácil correr para os problemas dos outros do que olhar para a sua própria barriga, que, aliás, cada dia aumenta mais. Você está bebendo de novo?
- Desculpe, mas você não tem mais que me controlar.
- Sim, é verdade. Pode se afogar na bebida, isso talvez até faça bem para você. Ela te abandonou, foi?
- Não importa, isso é coisa minha.

(Tempo. A conversa fica cada vez mais alterada, os colegas olham de soslaio, sem saber bem o que fazer. Um deles levanta a cabeça da máquina copiadora e faz menção de ir ter com eles, mas depois de alguns segundos, pensa melhor e volta a seus afazeres)

- Eu vim falar contigo sobre o Eduardo, só isso. Não quero brigar, não quero discutir, quero só falar do nosso filho. Pode ser?
- Pode, Carlos, pode. Até porque não quero ficar parada na frente de um elevador discutindo a relação que a gente nem tem mais. Quem sempre gostou de fazer showzinho foi você.
- Eu... Bem, não importa. A professora me ligou e disse que o Edu está tendo problemas na escola e que ela se assustou com a carga violenta que ele está colocando nos desenhos. Parece que o último envolvia um anjo sendo cruxificado ou algo assim.
- É, eu sei. Fiquei arrepiada até a espinha. Não sabia que meu filho seria capaz de algo assim.
- Nosso filho.
- É, sim, isso.
- Eu pensei em ter uma conversar com ele e tentar descobrir o que está acontecendo.
- E você não sabe? O que você acha de um divórcio traumático, além de um escândalo na internet? Não acha que é muito para um menino na fase adolescente? A família dele foi por água abaixo, Carlos!
- A família dele já ia por água abaixo por algum tempo e você sabe bem disso.
- Agora a culpa é minha? Fui eu que fiz aquela vaca levantar a saia e fui eu que coloquei meu pinto nela?
- Não seja grosseira, Bia, estou tentando ter uma conversa de gente.
- Não sei se consigo ter uma conversa de gente com você, ainda estou muito brava. Talvez seja melhor você conversar mesmo com ele e ver o que você consegue fazer. O Lucas sugeriu terapia.
- Quem é Lucas?
- O irmã da Sônia, ele trabalha na Biblioteca perto da casa da minha mãe.
- Sim, aquele cara que nunca tirava os olhos de você e que não esperou muito até te chamar para sair.
- No que ele fez muito bem, fazia tempo que eu não era tão bem tratada. Ele é extremamente educado e gentil. Como poucos.
- Sim, sim... E o que mais o seu amantezinho sugeriu que fizessemos com nosso filho?

(Tempo. O chefe da sessão passa por eles, tenta reconhecê-los e não consegue. Não se importa muito, afinal, para eles, são todos números. Devem estar trabalhando muito, de tanto que gesticulam.  Ela volta a falar com Carlos, rangendo dentes)

- Mude o seu tom comigo, Carlos, nesse minuto. Eu não vou aceitar esse nível de provocação. Eu tenho uma reputação a zelar nessa empresa. Já estou arriscando muito, tentando discutir seja lá o que for com você.
- Eu achei mesmo que deveríamos conversar em algum outro lugar. Aqui não é apropriado, você não sabe se comportar em local de trabalho. Talvez você tenha esquecido, mas também tenho uma reputação a zelar e fui eu que te trouxe para esse lugar e foi por minha causa que você hoje tem alguma coisa sua. Se não fosse por mim, você ainda estaria naquela empresa nojenta de telemarketing que te fazia trabalhar por vinte horas seguidas.
- A minha vontade de estapear a sua cara é tão grande que eu quase não me reconheço. Queria que esse banco tivesse almofadas para eu usar para sufocar você, seu cretino!
- Vou passar na sua casa na quarta-feira para conversar com o Eduardo. Pode ser?

(Tempo)

- Pode. Perto das sete da noite, por favor.
- Ok, combinado. Estarei lá.
- Tchau.
- Tchau.


(Cada um sai para um lado. Tempo grande. Horas depois, na cama)

- Anjo cruxificado? Realmente você estava com a macaca hoje!
- Foi bom, não foi? Melhor do que irmão que trabalha na biblioteca!

(Tempo, riem juntos)

- Adoro essas nossas brigas falsas em lugares públicos. Estamos cada vez melhores! Hoje até criamos um filho!
- Você é demais, meu amor! Um grande ator!
- Você também é uma ótima atriz, rangendo os dentes e tudo.
- O mais engraçado é ver a cara das pessoas!
- É... Eles não entendem nosso conceito de flash-mob.
- É verdade, é verdade... Me beija.


Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em um certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, dispersando-se tão rapidamente quanto se reuniram. (wiki)

Red Bird

                                                                                                                         para Tim Burton 

A bird is singing in a tree
And I think about death
The bird is looking straight at me
and taking its last breath

It sang for its whole life
And I think its cute
I cut its wings with a knife
Without being brute

A poem I write
To this dying bird in my garden
All the rest of it is white
And it is all a burden

Go, little bird, go
Find your dead zombie friends
I will leave fruits in a bow
And wait 'till it ends

The blood paints my garden in red
I laugh 'cause its funny
Your feathers are wide-spread
And made choke a bunny

I will wait for a wolf to come
From inside those woods
The white will succumb
to the hordes of hoods. 

Hakuna Matata (ou não?)

      Descobri que dirigir de madrugada, com os vidros fechados, sem música, só o silêncio gélido do carro e a escuridão é algo que eu gosto. É um período que estou comigo mesmo e os pensamentos todos rodando e rodando dentro da minha cabeça. Pensei em Timão e Pumba que me ensinaram o tal Hakuna Matata (se você não sabe do que estou falando, vá até uma locadora agora e alugue o Rei Leão ou baixe na internet, como achar melhor. Eu já não discuto mais sobre isso. Eles diziam que os problemas nós tínhamos que esquecer e dizer Hakuna Matata (algo como viver é aprender em língua de desenho animado da Disney) e era assim que eles viviam como viviam. Isso, na verdade, é fugir dos problemas. Bem que eu queria fazer isso, mas ao invés disso os problemas parece que se cravam em mim, não me deixando nem relaxar, parece que a cabeça opta por me fazer ficar incomodado. Um certo nível de incomodação é aceitável e até válido. Não posso fica largado jogado às traças (em todos os sentidos) e achar que isso está tudo bem, claro que não, mas essa pressão (principalmente minha sobre mim mesmo) também não serve. Estou buscando o limite. Até porque sei que os meus problemas só eu mesmo posso resolver. As pessoas virão com conselhos, cobranças, chá, carinho e até dinheiro, mas nada disso ajudará a resolvê-los. Podem até retardar, podem até mascarar, mas resolver mesmo acho que só quando a nossa ficha cai e damos nossa cara à tapa. Dá medo, eu tenho muito medo, acho que o medo me paraliza, mas não posso deixar. Nessa luta diária entre a minha (ou as minhas, por que não?) paixão e a vida real, acabo sofrendo eu. Não quero mais isso, estou lutando para chegar no intento e o principal inimigo sou eu. Ganhar dinheiro resolve tudo? Não. Ajuda, mas não. O conflito verdadeiro é interno, posso usar de diversas artimanhas para tentar me convencer e/ou culpar alguém, mas enquanto fico me lamentando, nada acontece. E jamais acontecerá. Carlos Drummond foi atrás, Caio Fernando também. Lutaram e estão agora figurando no panteão de grandes escritores. Eu estarei lá também um dia. 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Pensamentos Noturnos

      Minha cabeça está girando há dias. Estou fazendo planos, planos e mais planos. Tenho diversos sentimentos e todos no mesmo dia. Sinto-me confiante, fracassado, certo, incerto e por aí vai. Sabe aquela coisa de se jogar? Pois é, acho que agora achei meu ponto, meu objetivo. Foi difícil, fiquei andando cego por anos. Agradeço aos que me ajudaram a ver o que realmente quero. Fazer agendas e planos é fácil e bonito, sinto-me útil e importante. O grande problema é sair da inércia, da facilidade e enfrentar o medo de correr atrás de um sonho. O fácil é tão fácil que não dá vontade de mudar. Ainda assim, eu vou arriscar. Arrisco porque sei que tenho apoio. Arrisco porque ainda sou muito jovem. Arrisco porque quem não arrisca não petisca e eu quero muito petiscar.

      Doido isso, né? Correr atrás de sonho. Sempre sonhei com muitas coisas, casas grandes, fama, reconhecimentos, viagens nacionais e internacionais, sempre na dúvida se algum dia teria coragem de persegui-los. Agora sei que tenho. Não vai ser fácil, já não está sendo, mas não vai ser isso que vai me impedir de conseguir. Tenho ainda que traçar um caminho, talvez longo, até chegar no intento. Mas eu vou chegar e eu vou conseguir.

     Meu sonho é escrever.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Irritaciones - Parte 2

Bom, a verdade é que um gazilhão de meses atrás eu postei aqui um texto sobre coisas que me irritavam e disse que faria uma série de textos com esse propósito, mas com diferentes temáticas. Aparentemente, fazer uma série de textos foi outra coisa que me irritou, mas tudo bem... Estava aqui eu lendo minhas coisas antigas e percebi que deixei várias dessas séries para trás. Foram todas iniciadas na mesma época, eu acho que eu tive um acesso de trilogias, quadrilogias, cincologias, cocologias, sei lá. Enfim, sabendo de tudo isso resolvi (por hora) continuar uma das séries (a outra - de confissões – pode aparecer alguma hora, sei lá, vai saber).
Tinha dito que escreveria sempre quatro coisas. Três que me irritam (no caso desse texto o tema é trânsito) e algo que eu adoro. Mais ou menos baseado na idéia do Angeli e da tirinha da Rê Bordosa. “Rê Bordosa? Mesmo, Ricardo?” Sim. Mesmo. Eu quero e pronto.

1 – Pessoas que dão seta para um lado e viram para o outro.

Eu sei que algumas pessoas tem dificuldade com direita e esquerda. Compreendo isso, respeito e recomendo remédio, mas mesmo que você não saiba para que lado está teoricamente virando nada justifica dar a seta para um lado se você pretende virar para o outro. Tento entender o que se passa na cabeça das pessoas que fazem isso. E ainda não consigo entender. Se tiver alguém aí perito nesse assunto, por favor mande um email para ricamaciel@gmail.com

2 – Pessoas que param o carro ocupando duas vagas.

Uma pessoa dessa devia ter a entrada negada em todos os lugares que ela fosse porque com tantas vagas no mundo não tem nenhum motivo para ocupar duas. Se ela é rica o suficiente para andar com um tanque pela rua (e, convenhamos, hoje em dia existem carros que são maiores que casas) ela deveria pagar alguém para fazer o raio da baliza, oras. Ou então alugar um jatinho para ir ao supermercado. Quem sabe ela consegue parar em cima do prédio. Talvez do prédio do lado também. Ou mandar alguém fazer as compras. De bicicleta, de preferência.
Nesse mesmo tópico posso colocar as pessoas (de extrema falta de educação) que param em lugares reservados para idosos e deficientes físicos. Essas mesmas pessoas não tem coragem de parar em vaga de ônibus por exemplo. Tsc, tsc...

3 – Pessoas que desaceleram na estrada.

Além de ser irritante, é também extremamente perigoso, não acham? Imagine que estou eu lá, ouvindo minha música e prestando atenção no trânsito. Nele existe um fluxo que vamos pegando com tempo de direção e podemos prever vários dos movimentos feitos pelos motoristas ao redor. Quando é algo súbito como uma desacelerada, tudo fica mais complicado. Se é alguém menos cuidadoso (porque o autor desse blog dirige com rara destreza) um acidente pode acontecer e machucar muita gente. Isso me irrita muito.

4 – A sensação de liberdade ao dirigir.

Uma das coisas mais gostosas do mundo é pegar o carro, colocar uma música bacana e viajar. Não na maionese, o que pode causar um acidente também, mas viajar de verdade. Não importa o destino, não importa a companhia, ter a possibilidade de andar vários quilômetros com a rapidez de um carro é uma beleza. Já viajei sozinho, já viajei acompanhado, já dirigi, já fui de carona, é sempre uma diversão diferente. “Até com congestionamento?” Fica um pouco mais chato, mas ainda assim é legal!

Pronto, mais um texto da série “Irritaciones”. Vamos ver se logo eu faço mais um da outra série “Confissões”.

Hasta la vista!

Cut The World

  Eu adoro as sensações que certas canções me provocam; muitas de alegria, de querer dançar e cantar junto, outras de admiração pela letra e/ou melodia e outras pelo conjunto da obra. Algumas canções, porém, são como facas afiadas e me dilaceram. São de tão extraordinária beleza que funcionam como cortes fundos e eu preciso de uns minutos até voltar à superfície dos meus pensamentos e à vida real. Várias canções deixam marcas e mudam vidas. E é disso que vou falar aqui. 

Semana passada foi lançada o novo single da banda Antony and the Johnsons, do fantástico Antony Hegarty, que é, na minha opinião, um dos maiores gênios da música atual. Suas músicas são cheias de pianos e vocais, coisa que eu gosto muito. Sua voz é - como a de Nina Simone - uma mistura de masculino com feminino e me emociona sempre. Por isso até tenho uma relação doce e amarga com seus discos, pois nutro grande admiração por eles, mas não posso ouvi-los com freqüência. Ele é também amigo de grandes como Björk, Rufus Wainwright e Lou Reed.

Para o clipe da música "Cut the World", que também dá nome ao cd, ele convidou Willem Dafoe, um dos atores mais prolíficos de todos os tempos, do qual também sou fã e Carice Van Houten, a feiticeira ruiva de Game of Thrones. Clipe intenso e fora do comum, como toda a obra de Antony e sua trupe. A famosa artista performática Marina Abramovic faz também uma ponta. Rola na internet uma discussão grande sobre os símbolos contidos nesse vídeo - feminismo, queda do patriarcado, sociedade liderada por mulheres - são alguns dos temas propostos.

A letra diz: 

Por tempo demais eu obedeci àquele decreto feminino 
Eu sempre controlei aquele seu desejo de me ferir
Mas quando eu irei me virar e cortar o mundo?

Quando eu irei me virar e cortar o mundo?
Meus olhos são corais absorvendo os seus sonhos

Minha pele é uma superfície para ser levada a extremos
Meu coração é um arquivo de cenas perigosas

Mas quando eu irei me virar e ferir o mundo?

Quando eu irei me virar e cortar o mundo?
Quando eu irei me virar e cortar o mundo?
Quando eu irei me virar e cortar o mundo?

Assista ao clipe aqui e me conte suas interpretações!

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Ouço Caetano na vitrola
Bato textos à máquina
Acho novela um saco
Falo de comunismo
Leio Jean Genet
Vejo Fassbinder
Quero aprender a amar

Leio Camões e gosto
Corro sem ter pra onde
Falo do que não sei
E o que sei invento
Minto tanto que nem sei mais
quando estou mentindo

Falo de mim em poemas
mas nem sempre
Gosto de meu nome
Sinto-me poeta e odeio minha poesia
Não sei mais escrever sem ser no computador

Mordo maçãs e pêras

E sinto falta de coisas que não vivi 

Se Se Se Se

Sentiu cheiro de mar
Banhou-se

Saiu da água
Secou-se

Olhou uma fruta no pé
Foi ver se era doce

Olhou menina ao longe
E pensou: "se bonita fosse"

Brincou com fogo
Queimou-se

Trombou com ferro
Ferrou-se

Morreu. 

Caetano, 70 anos.

Vários anos atrás, nos idos de 96 ou 97, um cd tocou muito em minha casa, seguido do vídeo com a apresentação. Ouvi o cd, ouvi o cd, ouvi o cd mil vezes. A fita VHS com a gravação ficou gasta de tanto que assisti. Foi gravada da HBO2, que na época passava tudo o que o canal HBO passava, mas seis horas depois. Foi nessa época que nasceu minha admiração, meu respeito, meu apreço e minha loucura pelo artista que aparecia no vídeo e cantava no rádio.

Esse artista era Caetano Veloso e o show era "Um Caballero de Fina Estampa". A música que mais me impressionou e ainda impressiona é "Haiti", que segue no fim desse texto.

Desde então Caetano tem sido uma fonte de inspiração constante em minha vida artística, seja ela escrevendo, cantando ou tocando violão. Ele é o nosso camaleão. Adoro que ele seja criticado por ser chato, me divirto com o que ele fala e rio dos que acham que ele está gagá. Caetano está sempre à frente de seu tempo.

Sou fã, muito fã, como muita gente sabe. Acho a música brasileira maravilhosa e a defendo com unhas e dentes. Acredito que cada um deva gostar do que quiser, sem desrespeitar o que o outro gosta.

Caetano fez ontem 70 anos. 70 anos de idéias, movimentos, criações e principalmente de música. Salve, salve Caetano! Que você ainda nos brinde muito com a sua genialidade!


O link para a canção "Haiti", de Caetano e Gilberto Gil, é esse - "Haiti"

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Rodei as chaves na fechadura mais uma vez
Entrei em sua casa como há tempos não fazia
Tudo parecia igual
Só eu que já não era mais o mesmo

A decoração cafona, um quadro torto
e aquela montanha de discos perto do sofá
Ursinhos empoeirados completavam a cena
e eu quase ria

Tinha ido buscar o que era meu
e temia te encontrar
nada mais em você era meu
eu não queria que nada mais em você fosse meu
mas era

Peguei meus livros
juntei meus retratos
minhas bitucas de cigarro ainda guardadas na nossa caixa
e coloquei na minha pasta

Rodei as chaves pela última vez
E fui embora daquele grande amor

Loucura

Olho para o lado e você lá está.
Vejo um filme bobo na televisão e te reconheço lá.
Ando na rua e você parece me chamar do outro lado
Olho-me no espelho e te vejo.

Isso não é normal

Será que nessa loucura de sermos nós mesmos
tornamo-nos um só?
Mas se somos um só então sabemos de todos os medos um do outro
e certezas também
E aí onde fica o gostoso da dúvida
e a certeza da incerteza?

Cada vez mais agora eu quero conquistar o mundo
e tenho medo de me ver em muita gente
mas ao mesmo tempo quero isso
e fico nessa querência de quero e não quero mesmo tempo

Que loucura! Que loucura!


sábado, 14 de julho de 2012

Oh, Cambridge

Oh, Cambridge
How I've missed you
Your calm streets, your charming people
Your bicycles everywhere

Oh, Cambridge
Four years have passed and you changed
I changed also
I too have new stores inside me

Oh, Cambridge
I missed my friends
I missed our laughs like crazy
I missed people that I know I will never see again
And it's sad

Oh, Cambridge
You will always be a constant reminder of a happy time
Granchester is still wonderful and cycling there is just heaven on Earth
Even though I think now it's more difficult because I am older
But I'm still young

Oh, Cambridge
Your Mighty colleges
with your dons like mafias
and students that can't see what's happening around them

Oh, Cambridge
Syd Barrett pink floydian guardian of the city
And I've been to his place and it was nice
His neighbour was so nice to me

Oh, Cambridge
You were this time the setting of meetings that I will cherish for life
I only wish I could visit you more often
And maybe buy one of your houses

Oh, Cambridge
Will you ever accept me as a citizen?
I wish you all the best, dear city
And I'm sure I will miss you very much

Raiva

Hoje tive raiva
Aquele sentimento que vai adentrando a pele e a gente nem percebe
E quando vê está tremendo
E por vezes não pode fazer nem falar nada, só ficar lá, imaginando coisas

Só ando querendo o fim dessa merda toda para que eu possa ficar sossegado novamente
Não quero mais ter raiva, nem insegurança, nem medo
Quero paz
E gente que me entenda


Fim

"O fim está próximo", diz o profeta da esquina da minha rua
Eu passo por ele e ele me pede uma esmola que eu não tenho
Penso em oferecer-lhe parte de meu sanduíche mas minha fome é grande
E ele me oferece parte da sua e me tento, mas antes

Corro para casa e pego dinheiro guardado que eu tinha da minha avó que morreu no parto da minha mãe mas que sabia que ia ter um neto que era eu então juntou dinheiro e é esse dinheiro que eu finalmente pego agora

E entrego para ele. Vinte mil reais, cruzeiros, cruzados, muito dinheiro.
Ele diz que não quer nada, quer só um prato de comida e tudo bem
Eu tento entregar-lhe à força. Ele recusa e me diz que o fim está próximo
e que dinheiro é a última de suas preocupações

Volto para casa envergonhado e penso na minha ex-namorada
Que agora está gorda e feia e dormindo com um cara qualquer dependendo do dia
(eu acho que ela era gorda e feia e eu é que não tinha percebido)
Não tenho problemas com gordas e feias, tenho problemas com gente que reclama

Queria cortar muitas línguas dessa gente idiota que não cala a boca
Sentem-se superiores, julgam e tudo o mais
Eu queria era mandar um belo de um foda-se para ver se eles aprendiam
Tenho amigos gays e é isso aí

Homem mulher homem mulher é tudo filho de macaco
negros brancos verdes amarelos roxos purpurinas
acho a marcha das vadias um barato
acho mais é que tem que marchar mesmo e mostrar pra essa papagaiada do que são feitas as mulheres de verdade nesse país

"O fim está próximo, o fim está próximo"

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Ziggy, 40 anos!

Um dos meus discos favoritos e homenageado por esse blog fez quarenta anos no dia 6 de junho. Comemorei do meu jeito. Comprando o vinil 180 gramas editado em comemoração ao quadragésimo aniversário, o cd remasterizado e o cd duplo, editado no aniversário de 30 anos. Agora falta achar o dos dez e dos vintes anos, hehehe

Viva Ziggy! Viva David Bowie!!



quinta-feira, 31 de maio de 2012

Caixa da Vida

Um coração gelado e acabado por vez, por favor

Vamos organizar essa coisa aqui que isso aqui não é bagunça nenhuma, ouviram?
Sim, senhora, entendi que ele lhe deixou, mas o que eu posso fazer? Chamar?
Sim, meu filho, sim, ela foi embora com outro. Triste, eu sei, mas isso já aconteceu tanto!
Sim, menina, seu ídolo pop não está apaixonado por você. Claro que não, guria, aquele lá deve amar mais a ele mesmo do que a qualquer outra pessoa.

Vai, cachorro, vai, ali tem mais uma alma abandonada pra você enterrar.

Faca

Procurava idéias para um poema
E andava pelas ruas de Paris sentindo o vento no rosto
Buscava sensações que ainda não tinha sentido
E parou em uma esquina

Olhou de canto de olho
Respirou fundo
Aquietou-se
Não era para estar ali

Viu o homem encostar a faca na moça
E pedir a bolsa e mais outro algo em francês
E ficou olhando, não moveu um músculo sequer
E teve medo, medo que lhe percorreu a espinha como raio

O homem correu
  (com a bolsa, documentos, dinheiro, tudo)
- e ela nem era francesa -
Se deu bem

A moça lá desconcertada
E ele cá sem saber o que fazer
Falou com ela em francês, ela chorava
Falou com ela em inglês, ela desesperava-se mais ainda
Falou com ela em português e ela abriu um sorriso possível no meio daquele momento sombrio

Foram para a polícia
Descreveram o meliante (ou Meliès?)
Deram os nomes e foram embora
Eles já não podiam fazer nada e nada mais tinha sentido

Nem esse poema

C'est la vie!

Para os curiosos

À quem queria notícias de mim, digo que estou bem e vivo
Ou bem vivo, diria meu eu-poeta
que regozija-se em morar na cidade das luzes
Andar pela rua é beber história

À quem me queria mal, digo que estou bem e vivo
E que ainda precisam se esforçar mais para me ver acabado
Sou forte como São Jorge, até fui em seu castelo
E morri de medo de altura em suas torres

Fato que sinto saudades
Mas isso, na verdade, é inútil informação
(já que sinto saudades o tempo todo)
Digo saudades de um tempo em que tudo estava bemerabembeterraba

Nunca houve esse tempo e ele era fruto da minha imaginação louca de artista múltiplo
E o tempo que é hoje é o agora que já foi o ontem e que nunca será o amanhã que não virá
Esse virá, esse virá
As veias poéticas da América Latina estão abertas e encontrando-se com todo o peso europeu

E eu adoro, eu adoro

Piscada

Sentimentos bipolares, cheios de não e sim

Tomo chá com meus heterônimos, para descobrir que sou só eu e não tenho heterônimos nenhum.

O café me deixa acordado e eu vejo o nascer do sol no começo do dia que ainda não acabou.

O fim do começo é um novo começo. Mal, bom, não sei

Acho pulsante a vida, mas flerto com a morte. Deixar a vida e entrar pra história.

Não tenho coragem. Tenho muita vida pulsando dentro de mim.


Tenho vida suficiente para preencher outras vidas. Quatro ou cinquenta e cinco.

Escrevo, leio, atuo, canto. E busco novas vidas nessas palavras falsamente sentidas.

E quero o que? Quero o queijo do desejo do beijo do pirado maluco doidão de madrugada tocando sua gaita mal e porcamente.

E quero fazer poesia sexo viagens filhos e merda

Me deixa em paz melancolia de vidas que não vivi. Eu sou eu e pronto.

E morro de saudades de coisas e tempos que não vivi e nem poderia viver e não consigo viver no meu tempo sem me ver em um tempo que já não é meu.

E não tenho grana, não tenho estabilidade. Poderia ter, já tive chance, mas acho que gosto desse medo das coisas não darem certo

E não vão dar mesmo, já foram anunciadas, mas não ligo.

Tenho vida demais em mim.

vida demais em mim

demais em mim

em mim

mesmo.

FODENDO

Estúpida donzela que ainda acredita no amor perfeito

Deixe de ser estúpida e modernize-se!

Saiba que o amor não passa de um negócio a que assinamos contratos e reconhecemos firmas

O príncipe encantado tornou-se o cavalo que tornou-se príncipe

E as princesas também já não são as mesmas com seus ataques tpmísticos.

Passarinhos cantores? Maçãs envenenadas?

Acorde para a vida, sua idiota!

Temos carros, aviões, metrôs! Roubos, assaltos à banco, estupros.

Vais mesmo ficar esperando esse príncipe encantado que nunca te chega de tão encantado que está com a sua própria face?

Narciso faria sucesso nessa época de egocentrismo. Galileu seria novamente ignorado. Nem falar de Giordano Bruno.

Devia eu te estapear por acreditares nessa merda toda! Talvez até funcionasse séculos atrás, mas hoje? Mesmo?

"Tu es gentile, jolie..." No more, no more, baby!

Volta a dormir, Bela Adormecida, quem sabe você esquece de tudo isso.

A Branca de Neve está dormindo com os anões.

FO
              DEN   
                                 DO

Eu me calo, sei de tua raiva com minhas palavras, mas não me importo.

Queria eu ter um amor desse, mas não tenho.

Não tenho.

Paris, 23h15

Amo mesmo

Amo inteiro

Amo de novo

E amo sempre!

Não tenho medo de me cor
                                           tar

O que não suportaria é ter um coração gelado

Me importam os sofrimentos?

Claro, mas os recebo com lanças fortes,

pronto para lutas e batalhas!

A liberdade traz o amor
                                      que traz a liberdade
                                                                      que traz o amor
                                                                                               que traz a liberdade

domingo, 22 de abril de 2012

"Rats", he said

"Rats", he said.
He opened his window and saw hoards of rats on the streets
His wife fainted, he laughed

Rats eating the cheese
Rats eating the food in general
Rats eating the general
And his small friend

He saw people crawling and fighting to save their belongings from the little monsters
"It is outrageous", said the Mayor Mayer, without his white wig, consumed by despair
They invaded the houses, the pubs, the schools.
They brought diseases, rat children.

The Mayor Mayer called the Piper to take them away
The Piper came
They ate the Piper
They ate the Mayor
They ate the Mayer
They ate the cheese
They ate the people in the houses

It was a disaster
They destroyed the city and claimed their city
And made it independent; and big!

Rats, rats, rats

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Vingança




“Mas fiquei sem respirar
Quando vi ela dançar
Ela tava tão bonita,
Ela tava tão bonita
Que esqueci de me vingar”
(“Vingança” – Francisco Mattoso/José Maria de Abreu)
CD “Iaiá”, Mônica Salmaso, 2004

Aqui plantando tudo dá, seu moço, sempre foi assim. Meu pai tá nas terra desde sei lá quando e ele sempre diz que nada muda nunca. Nóis carpi, carpi de novo e a terra segue dando seus fruto. O roçado é grande, os capiau não são muito simpático, não, mai nóis segue fazendo as coisa. Aqui é rechiadim de caboclo, às veiz uns mais neguinho que os outros, umas lasquera esses caboclo. Eu sô um dels, como sinhô pode vê. Nossa sina é trabaiá, nóis num ajunta dinheiro não e nóis não num tem vontade de trabaiá na cidade grande. Os hômi lá são mau cos otro e nóis num tá custumado cu’essas coisa não. Aqui nóis semo tudo amigo, tudo parceiro, tudo de confiança. Mas não foi sempre assim não.
Sabe que eu era cantador, seu moço. Catava minha violinha que meu pai me deu e saía por aí cantando as felicidade e as disgraça da vida. Trabaiava, cortava as pranta, regava, deixava crescer. Acordava cedo, fazia tudo isso, subia no lombo do cavalo e voltava pra vila. Minha casa era aquela ali ó. Agora era tá amarelada, véia, qui nem qui eu, seu moço, mas naquele tempo era a casa mais bunita da vila. Era o que as pessoa falava e eu achava tumém. Agora tá lá, bandonada, largada na vida. Uma pena.
Bão, o que contece é qui eu era feliz. Chegava em casa e cantava e os vizinho tudo vinha de longe pra vê eu cantá. E els cantava junto, sabe? Tudo uns disafinado, de oreia suja, sabiam nada daquelas coisa de tom, sabe? Era um disastre, mai nós se divertia. Aí nóis cantava, cantava, cantava, e depois ia tudo prosiá na varanda do seu Miranda. Ele servia uns cardo de fejão que a muié dele que fazia que nosssinhora, era danado di bão! Aí num dia desses aí o Zé Pequetré que morava na vila longe de Purubicuíba falou que nóis devia fazê uma festança pra Santo Antônio pra mór de ajudá os solteiro como eu a casá. E foi um tal de cumbinança, de chamá gentes de otra vila, otras vilas e inté da cidade grande.
O padre João é que ficou felizão de tudo. Faz tempo que o hômi quiria fazê a tal quermesse mai a igreja daqui é pobrinha, pobrinha, seu moça, não tem dinheiro nem pra água benta que é di graça. Aí o povo juntou uns dinheiro, rrumaru as coisa e marcaru a data. Foi um sucesso.
Quadria, quentão, uns troço danado di bão pra cumé e música pra mai de metro. E aí chamaru eu pra cantá cu’essa vozinha aqui que Deusão me deu. E cantei, seu moço, cantei feito num tivesse dia amanhã. Cantei como se fosse o fim, mai aí percebi que o fim tava só nu cumeço. Enquanto eu cantava, eu dava umaszoiada em vorta. Os povo tudo lá dançando, se divertindo e eu cantando e tocando sanfona, eu mais meu amigo Juca Antônio Pingarrão (nóis tinha sempre que tirá os tonel de pinga de perto du hômi sinão ele nadava naquilo!).
Foi aí que o Coisa-Ruim passou perto d’eu e vi aquele ôio dela me oiá. Ela sorriu pra mim, seu moço, e nossa! rrupiô até os pêlo na nuca! Ela era lindona di tudo, uns cabelo morenão, uns peito forte e umas coxa robusta, um partidão memo. Aí fui lá jogá uns charme nela, depois saímo, tomamo uns sorvete, depois nóis foi morá junto. Nem sei quanto tempo demorô, seu moço, mas o povo diz que em uma semana nóis já tava dividindo o teto da casa amarela.
Aí, seu moço, senta aê que o sinhô vai cansá. O caboclo aqui é véio e nem pode mexê as perna direito, mas ucê pode. Cáta aquela cadera e senta aí. O sinhô fuma? Não? Até agora não entendo essa baboseira de cidade grande de que cigarro fai mal... O pobrema é só essa tosse aqui, mai isso né nada não.
Bão, aí nóis era filiz! Nussa, como nóis era filiz! Nóis cantava tudusdia, carpia junto, cuzinhava junto, fazia umas festança lá em casa e tudo bão dimais. A minha véia morô cu’nóis uns dia porque tava com dor nos quarto e o dotô morava mais perto di nóis era mais fácil pra ela chegá lá e ela sempre disse que nunca tinha visto eu tão filiz. Achei memo que a filicidade toda do meu peito não pudesse ter fim. Eu concordava que nunca tinha sido tão filiz!
E o tempo passô, seu moço, passa sempre essa vida e nóis lá cá nossa vidinha singela, cantando, cumendo, carpindo, vivendo, cuidando das coisa da quermesse e tudo. E aí um dia, como tudosotro eu fui trabaiá e fiquei no campo o dia todo. Quando vortei a casa tava o maió silêncio e escura, as vela tudo apagada. Eu abri os ôio e uszuvido pra vê si tinha argo deferente lá. A cabocla não tava lá, seu moço! A marvada tinha ido embora!
Corri pro nosso quarto e abri tuduszarmário e tudo vazio. Ela catou as ropa, botou na mala nossa e foi-se embora. Bandonô eu e nossa casa, nossa plantaçãozinha e nossa vida. Dei uma vorta pela casa, chamei, gritei, abanei, corri e nada, seu moço, nada. Os vizinhu tudo ajudáru, mai nada. Até que a véia Francisca chamô eu na casa dela e disse:
“- Caboclo, não briga cá’véia porque a véia vai te falá coisa ruim. A tua cabocla fugiu ducê cuotro hômi. O Juca Antônio tamém sumiu hoji. Eles tão junto.”
O mundo meu caiu, seu moço, sabe? Como se tivesse um trator passado por riba d’eu ou aquele monstrengo da tv da cidade, o gordizilla. Nussa, tava tão triste, fiquei tão triste. Nem fui prucurá. Era cruer dimais, sô. A marvada levou as ropa, as coisa dela, minha alegria e deixô a sardade e o perfume debaixo da pia. Mai eu jurei de me vingá. Aquela disgracenta ia vê uma coisa! Num pode tratá caboclo qui nem qui ela tratô! Ara, se ia vê essa vagabunda que fica se ingraçando cu amigo meu. Ele era mais cantadô que eu, mai isso não é disculpa! Agora tinha ódio da cabocla i do amigo farso fiodiputa que robou ela di eu! Mulata cretina! Amigo farso!
O tempo passô, minha reiva não. Pensei em vários prano pra cabá cu’ela! Mai num incontrava a disgramenta em lugar ninhum. Sorte a dela, porqui si eu pegasse ela ia vê! Eu stripava ela! Mardita mulata! Cabocla sem coração!
Aí qui o seu Memé deu uma festança na Vila Pururuca e chamô eu pra cantá. E eu fui, cá sanfona e a viola debaixo do braço. E num é que eles tava lá! Os dois! Cunversando perto da foguera! Ara! Eu tava lá no parco e não pudia fazer munta coisa, mai qui reiva qui mi deu, seu moço! Eu juro pela Nossa Senhora que governa o Reino dos Céu junto cum Nosso Sinhô Jisus Cristo que eu quis matá aquela mulata! Rasgá a garganta dela cu’a minha faca de ponta e aproveitá i matá o Juca mardito tumém.
Eu lá tocando e morrendo de reiva e o seu Memé foi no microfone anunciá as dança, as quadria tudo, mais antes ele falou que ia ter uma surpresa especial. Eu nem tava prestando atenção direito porque arguma criança cretina tinha puxado us fio da minha sanfona i  eu num tava cunseguindo tocá. Aí comecei a ouví uma música. Era uma coisa meio árabe, meio encantadô de serpente, igual que nem eu tinha visto na tv do Coroné Antônio Bento. E mi virei pra vê o que tava se sucedendo. 
Era a cabocla dançando, seu moço. Ela tava dançando umas dança nova, uns remelexo no corpo que eu nem sabia que ela conseguia fazê. Ela tava tão bunita, seu moço, tão bonita, que eu até isquici di mi vingá.
Fiquei lá oiando ela dançá, tudo mundo ficou, na verdade, e quandcabô tudo mundo aplaudiu i eu também aplaudi e nóis aplaudimo tudo. O Juca tumém aplaudiu.
Aí eu vortei pro parco i voltei cantá i fiquei pensando na cabocla. Ela sumiu da festa. Talvez tenha mudado pra cidade grande, talvez tenha morrido, talvez esteja véia na cadeira qui nem qui eu.
Apesar di tudo que se sucedeu, seu moço, a saudade não me larga. Ela era tão bonita, ela era tão bonita, que isqueci di mi vingá. É isso. 


Contos Musicais

Comecei um exercício novo. Contos baseados em letras de música. Alguns de vocês devem lembrar da coluna que o grande Moacyr Scliar (que foi aluno do meu avô, cof, cof) tinha na Folha. Ele pegava trechos de notícias, às vezes de várias notícias, e escrevia um conto baseado nas informações lá contidas. Resolvi fazer o mesmo com músicas. A idéia não é original, tenho um livro fantástico de contos baseados em músicas, mas acho o exercício divertido. Espero que vocês gostem!

sábado, 24 de março de 2012

Cigana

                                                                                                  para minha amada tia Ana Vasconcellos Pereira


Seu violão ainda está no meu armário
Seus textos, suas cartas, seu caderno também
Você também está em um armário imaginário
que desafia o tempo e o espaço
que abro vez por outra para sentir saudades

Saudades eternas, saudades por vezes muito cruéis
saudade da conversa, do apoio incondicional ao que ainda nem tinha sido pensado
saudade do quindim no subúrbio de Porto Alegre
saudade de te ouvir cantar suas canções dizendo que iria parar de vadiar e no campo morar
saudade de te ver comer carne de churrasco com gosto, com molho, com vontade
saudade daquele seu apartamento, do rádio amarelo com fitas cassetes de mil anos atrás

Você me ensinou a brincar naqueles carrinhos de corrida como se fossem de verdade, respeitando os pedestres
e eu ria
Você me levou pra andar de barco pela primeira vez na minha vida
(e era um barco velho e a gente viu o barco chique de longe e nem ligou)
Você me ofereceu um cigarro e eu não tinha nem quinze anos porque sabia que eu ia recusar
Você me mostrou uma vida que eu ainda não tinha idéia
a vida livre, sem amarras, sem problemas

Mas você tinha um problema, né?
Atormentava sua cabeça esse problema, né?
Eu sei, eu vi
E a cabeça ficava meio louca e você jogava quadros no chão
seus próprios quadros, tão bem pintados
tão detalhistas
você era uma artista, linda, no melhor conceito da palavra
você era a arte em pessoa

E o vidro dos quadros se estilhaçava e você também se estilhaçava
e nós que olhávamos aquilo nos estilhaçávamos também
e a dor tomava conta da sala com seu cheiro podre

e eu fui pro seu apartamento e eu fui feliz lá
tenho fotos
era pra ser o primeiro dia de muitos que eu ia passar contigo
e foi o primeiro e último

Tudo que é bom dura pouco, dizem por aí
E olhei a sacada
eram seis andares
e peguei uma pedrinha
e taquei de lá de cima
e vi ela quicar lá embaixo
e falei “nossa, como é alto”

Mal sabia eu que a próxima a cair seria você, dois meses depois
Acho que o meu medo de altura começou aí

Por que você teve que se matar, tia? Por que?
Por que me deixar aqui sozinho? Por que?

Eu sei que você não se encaixava, mas eu também não me encaixo às vezes e continuo por aqui

Eu te amava tanto e te amo tanto e vou te amar pra sempre e sinto tanto a sua falta
eu te ajudaria, tia
eu só precisava crescer um pouco
custava esperar?

eu amadureci anos naquele ano
esse choque de realidade e de perda fez com que eu morresse um pouco também
e essa ferida nunca fecha
os anos passam, vem, vão
mas a ferida continua aqui no peito, sangrando aos borbotões
e eu só queria estar lá pra segurar sua mão uma vez mais e dizer o quanto eu te amava
e o quanto eu te amo ainda

Eu sei que você tá me vendo daí do país onde sempre faz verão
as frutas aí são mais gostosas, o clima é ameno
e não existem doenças, nem problemas

Mas a dor é egoísta e eu só queria você de volta
demorei anos pra ouvir a fita com as suas gravações
e fechei o olho e fiquei lembrando daquele dia
daquele último dia
nossas duas almas em ressonância
e eu sei que você me amava
e eu sei que era pedir muito pra você ficar nesse planetinha besta

Eu sei

Eu sei

mas a saudade dói e não escolhe momento, não escolhe dia, não escolhe ano, não escolhe, simplesmente
a ferida abre, esgarça e dói, até fisicamente
e hoje tomo coragem pra escrever
lembrar de ti, das músicas que fizemos juntos não tão juntos
dos papos todos malucos

e eu só queria você de volta tocando violão comigo
e eu só queria você de volta rachando um pedação de carne de churrasco
e eu só queria você de volta me contando histórias de cigana nômade que você era e piadas
e eu só queria você de volta pra andar de barco e não enjoar

e eu só queria você de volta
e eu só queria você de volta
e eu só queria você de volta
e eu só queria você de volta

Volta

terça-feira, 20 de março de 2012

Christopher Reeve, o Homem de Aço

Christopher Reeve é um dos meus maiores ídolos. Bonito, educado, determinado e muito, muito, muito corajoso. Um acidente com um cavalo o deixou paraplégico, mas isso não o impediu de lutar contra tudo e todos para que estudos com células troncos fossem feitos e defendidos, na esperança de ajudar pessoas que sofreram o mesmo que ele. Um exemplo enorme de força e vontade de viver é o que ele nos deixou. Realmente um Super-homem. Cada vez que assisto um filme dele, fico triste em saber que sua longa batalha foi perdida, mas fico alegre ao lembrar do exemplo que ele deu.

Vejam uma justa homenagem em vídeo aqui. Todas as pessoas na Cerimônia do Oscar, em 1996, aplaudindo de pé um grande homem. 

                                                           (1952-2004)

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Sentimental

O dia foi agitado. Os sentimentos foram vários. Estou cansado de uma noite de apenas duas míseras horas de sono, estou contente com uma proposta que me fizeram, estou divertido com a quantidade de bobagens que ouvi, estou ansioso e agitado com outras coisas. Sentimentos diferentes perpassaram meu dia, minha alma e meu corpo durante esse dia como raios de cores e intensidades diferentes. Toquei canções de Adriana Calcanhotto que me redescobriram sensações antigas, ouvi piadas novas e criei imagens em minha mente. Um turbilhão de memórias que agora o meu cérebro passa a processar e dar um destino para os neurônios gastos no processo.
Às vezes a minha vontade era de que meus sentimentos estivessem em pequenas caixas em armários imaginários. Abriria a caixa que me interessava no dia, fosse o que fosse, melancolia, raiva, alegria, medo, prazer. Talvez até mais de uma caixa, mas sempre com controle. Gosto de ter o controle e gosto de perder o controle.
Ando com um sentimento estranho martelando em minha cabeça nesses últimos dias. Gostaria de guardá-lo no fundo do armário, mas ao mesmo tempo gostaria de explorá-lo; é então o que resolvo fazer aqui nesse texto. O sentimento é o do estar vendo algo morrendo lentamente perante meus olhos e não ter nada que eu possa fazer para evitar essa perda.
Lembrei-me de meu querido cão Mytokas (isso mesmo, com Y e K, pois era um vira-lata de raça), que definhou por meses, até decidirmos dar a injeção de misericórdia. Cada dia uma dor nova para ele e para nós mais uma angústia. O tremer da pata, a queda dos pêlos e o sumiço de sua alegria habitual foram como lancinantes agulhadas. Lembrei-me de meu querido avô Rubens que, no fim da vida, tinha dificuldades para se lembrar de quem eu era. Foi muito duro para um garoto de quinze ou dezesseis anos – para quem o avô era um ídolo – ser assim tão sumariamente esquecido. Lembrei-me de artistas que gosto, entregando-se às drogas, ao sucesso absoluto, custando-lhes a vida. O exemplo recente foi o da excelente cantora Whitney Houston, mas também aplica-se, e bem, aos casos de Amy Winehouse e Michael Jackson, talvez até Macauly Culkin.
Foi muito triste ver Houston tentando voltar ao auge depois de uma temporada pesada de uso de drogas intenso. Sua voz doce e melodiosa deu lugar a um arremedo de voz rasgada e grave. Sua canção-tema, “I Will Always Love You”, já não mais servia de exemplo para qualidade vocal. Sua súbita, mas também um tanto esperada, morte fez com fossem relembrados e repensados os caminhos que levam alguém no auge da fama às drogas e ao resultado dessa viagem muitas vezes sem volta.
Penso também em sonhos que são esquecidos, afetos que são amenizados, laços que são desfeitos. Conheço vários casos que poderia citar aqui, mas não vejo propósito em fazê-lo. Eu mesmo tenho um sonho que está sendo bombardeado com palavras duras – verdadeiras e até um tanto esperadas – mas ainda assim duras. Vejo, diariamente, seu telhado de vidro ser atingido por pedras cada vez maiores e os danos serem enormes. A explosão pode acontecer e se exibe, cruel e maquiavélica, e eu, frágil como um pombo, tremo de medo que ela aconteça. O processo está sendo lento e silencioso, para que o sangue não seja vertido em demasia. A morte de algo que ficou no sonho talvez seja mais doída do que a morte de algo real. Essa primeira morte cobre-se do véu do “e se?”. “E se déssemos certo?” “E se fôssemos felizes?” “E se nos largássemos no ar sem pára-quedas?”. A incerteza dá força ao medo e apoio à confusão mental.
Diariamente eu pego a caixa desse sentimento e procuro organizá-la, mas as outras caixas acabam interferindo, abrindo bocas e dando opiniões, por vezes de utilidade nula. O pior pode acontecer, mas também o melhor pode acontecer e a vida é nada mais do que uma sucessão de dúvidas e voltas. Espero me encaixar nesses caminhos algum dia. Nada posso fazer senão esperar. Então espero. E espero. E espero, tentando retomar a visão caleidoscópica de meu coração, aquela que me faz ver tudo de diversos ângulos.
Agora sentado na cama, dentes escovados e pijama, relembro versos cantados por Whitney com tanta paixão. A canção é de despedida, um relacionamento que não deu certo e que eu falho em entender porque é tão escolhida para casamentos, sendo assim tão anti-romântica, mas cândida. A cantora lamenta ir embora, mas sabe que não poderão ficar juntos, tem de seguir caminhos diferentes, seus cursos de vida estão deixando de se cruzar no momento da canção. Apesar desse desvio, a cantora jura para sempre amá-lo, no sentido talvez mais real da palavra, pois entende que amar é deixar ir, deixar a pessoa livre para fazer o que quiser e ser feliz, mesmo não sendo conosco. Esse é o verdadeiro amor, também na opinião deste escritor que vos fala. O amor que liberta, não o que prende.

Se eu ficasse
Eu só estaria no seu caminho.
Então eu vou, mas eu sei que
pensarei em você
em cada passo do caminho.
E eu... sempre vou te amar...
Eu sempre vou te amar...
Você, meu querido
Doces e amargas lembranças,
São tudo o que eu levo comigo...
Então adeus, por favor não chore.
Nós dois sabemos que eu não sou o que você precisa.
E eu... sempre vou te amar...
Eu sempre vou te amar, oh
Eu espero que a vida lhe trate bem
E eu espero que você tenha tudo
Tudo o que você sonhou para ti.
E eu lhe desejo diversão
E felicidades.
Mas acima de tudo, eu lhe desejo amor.
E eu... eu sempre amarei você...
Eu sempre vou te amar
Eu sempre vou te amar


para você, Whitney. Obrigado por tudo.