Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mongemeando

Eu amei por amar tanta gente
Tanta gente que não tinha o que dar
Foram largando sem dó e sem canto
Flor e espinho em meu caminhar

Meu caminho que faço sozinho
Tão sozinho quanto balão no ar
Sou só eu e o Deus
Se quiser me acompanhar
Ou se não, até a estrada acabar

Tantos olhos me olharam
Me comeram, me tiraram
O tempo de visão
Me engoliram, me filmaram
Me perderam, me acharam
Me viveram
Sem nada me entregar

Tão depressa foi essa viagem
Só o tempo de uma vida inteira
Brincadeira foi o seu começo
O desfecho está longe de vir

É um pé, pós o outro e mais um
Sempre só, sem calor nenhum
Queria ter, queria poder
Falar

Falar não de coisas banais
Ou tempo ou notícias jornais
Queria falar do amor dos tempos
Imemoriais
Que eu sinto por tudo que me toca
E me traz a lembrança de meu tempo
Do tempo que eu era mais eu do que eu outro

Do tempo que eu era o que eu era
E ninguém se importava com isso

O caminho é largo
O caminho é longe
Eu sigo por ele, sempre de onde parto
Com a paciência de um monge.

Esse poema é das antigas, e eu nem acredito muito que o tenha escrito! E ele estava esquecido em um baú virtual!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Construções

É tarde da noite, estou sem sono, devia estar dormindo, eu sei, mas resolvi levantar, ligar novamente o computador e escrever. O meu computador anda tão lento, tão devagar, tão vagaroso que quase desisti de fazer isso, mas cá estou eu.
Estava pensando na crônica de hoje quando me lembrei de uma história que me aconteceu um tempo atrás. Vale lembrar que tudo o que relato é sempre verdadeiro e fidedigno. “Não sei, só sei que foi assim”, Chicó é meu primo distante, oi, Ariano!

Eu sempre fui fã de casas, palácios, igrejas, templos, enfim, construções grandes ou nem tanto. Sou fascinado pela arquitetura, pelos detalhes, pela história e tudo o mais. “Por que não fostes ser arquiteto, meu caro?”, perguntam, “simples”, digo eu, “porque eu não ia durar uma hora com toda a matemática da coisa. Enfim, sempre gostei de visitar apartamentos – mesmo que não os fosse alugar ou comprar – só para ver soluções como banheiros pequenos para salas enormes ou vice-versa, cozinhas iluminadas ou não, detalhes, detalhes tão pequenos de nós dois.
Campinas, minha cidadezinha, ainda conserva algumas do que eu chamo de casa de parede. Sei lá se é esse o nome arquitetônico para o que eu estou falando – se não for, corrijam-me, please – mas constitui-se de uma casa que fica geralmente na beira da calçada, sem jardim na frente, e que a porta que nós vemos da rua, já é a porta da sala. Isso não é mais modelo, visto que todos andam muito preocupados com segurança e ter uma casa assim é facilitar muito para esses marginais. A frente da casa é geralmente a porta, uma janela e a porta da garagem, quando esta está lá. O quintal é nos fundos e a casa é bem maior do que parece.
Um dia desses, estava andando pelo centro com uma de minhas alunas particulares (que atualmente vive em Coimbra, um lugar cheio de “casas de parede”!). Ela precisava passar em uma imobiliária na parte velha do centro para pegar umas contas ou coisa assim e eu fui junto. Olhando em volta, percebi uma casa muito bonita – antiga, mas ainda meio conservada – e disse para Lívia que gostaria de dar uma passada por lá depois se ela não se importasse. Por ser uma pessoa ótima, ou simplesmente por me conhecer e não querer contrariar minha loucura, Lívia concordou em me acompanhar.
Para minha surpresa a porta da casa estava aberta. E levava a uma escada de cinco degraus. Na parte alta estava uma estátua de São Jorge, com uma vela acesa. Eu não vi nada de mais e resolvemos entrar mesmo assim. (doidices, sim). Era aparentemente um hotel (de nome Brasil), cheio de quartos. A mulher na “recepção” estranhou em ver duas pessoas assim como nós entrarem lá e ficarem admirando o pé direito alto da construção e ficou nos olhando com cara de “ué?”.
Eu quis ser simpático e fui falar com ela. Disse-lhe que não se assustasse, que estávamos só querendo ver como era a construção e já que a porta estava aberta resolvemos entrar. Ela deu um sorriso amarelo e consentiu na inesperada visita.
Enquanto eu olhava a estranha estátua de São Jorge (Nada contra São Jorge, ao qual tenho muito respeito, mas aquela estátua era particularmente estranha.) e me perguntava o que raios acontecia por ali, percebi que estávamos no meio do caminho, pois uma pessoa nos pediu licença.
Virei os olhos e... bem, desejei não ter virado. A pessoa era uma moça. Feia era apelido. Enorme. Cinco vezes o meu peso. Cara de... É... Hum... Cara de... Deixa pra lá. Resolvi ser simpático de novo, dei licença e fui conversar com ela.

- Olá, a gente só estava observando a construção.
- Ah.
- É que eu gosto de prédios antigos, e esse é antigo, então resolvi entrar pra ver.
- Ah.

E Lívia segurando o riso.

- Você está hospedada aqui?
- Não. Eu faço programas aqui. – E me arreganhou os dentes em um sorriso. Juro que meu estômago se torceu e meus testículos foram passear.

Programas? Hein? Aí me caiu a ficha. ERA UM PUTEIRO! Eu estava em um puteiro! E eu tinha levado minha aluna querida para um puteiro em plena luz do dia!

- Programas?
- É, programas. Você quer ver os quartos? – disse a mulher da recepção, já mais animada com a possibilidade de eu talvez ficar por lá. Enquanto isso, outra profissional chegava com um velho mais com cheiro de cachaça do que a própria cachaça. Eu nem sabia que esses lugares funcionavam de dia!

Não vi, mas tenho certeza que Lívia balançava a cabeça negativamente, mas minha curiosidade era tão grande que concordei.

- A gente só vai dar uma olhada lá dentro e volta, ok?
- Pode olhar, meu filho, se gostar, fica. – disse a velha, provavelmente se divertindo muito com o louco aqui.

Fomos até o fim, exploramos os quartos, vimos que um espaço tinha sido unido ao outro ao longo do tempo, o retalho do chão era variado, aquilo devia ter sido uma casa de família que agora servia a propósitos, digamos, diferentes. E Lívia foi comigo, essa minha brava aluna.
- E esse quarto tem uma janela que abre para dentro! Por que será? – disse eu, na minha ânsia maluca de conhecer aquele lugar estranho.
- Não sei, mas pra boa coisa não era, disse Lívia, com toda a razão.

Voltamos para a recepção, nos despedimos, agradecemos e fomos embora. Cruzamos a rua, afastamo-nos duas quadras e pusemo-nos a rir.

- Um puteiro, Ricardo, jura? Eu é que não entro mais nas suas furadas! – disse minha genial aluna, com certa razão.

Não sei, só sei que foi assim.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Lições Roqueiras

Estava eu tranquilamente olhando discos em um sebo. Uma manhã de sexta-feira radiante e um sol de rachar a moleira.
Um senhor, meio com cara de roqueiro, camiseta preta de banda (Stratovarius, eu acho), topete e pinta de rockstar, entrou e começou a falar com o rapaz do caixa. Pareciam amigos. Ele deve ser um frequentador constante daquele lugar.
Esta foi a conversa: (chamarei de Senhor, 50 e poucos e Rapaz do Caixa, 20 e muitos) – é tudo verdade!

S - Pô, RC, tô ouvindo umas paradas que eu tinha lá em casa, mas nunca tinha dado bola. Tipo, achei uma bandda lá chamada Creedânce, conhece?
RC - Claro, rock é a minha praia, manjo tudo. Curto Creedance de montão.
S - Tipo, e achei uma outra parada lá maneira, manja Led Zeppelin?
 RC - Só, claro, mór curtição.
S - Mas tipo eu nunca tinha visto a cara dos caras.
 RC - Como assim?
S - Ah, eu só ouvia a música, mas tipo nem me liguei nas cara dos nego. Ontem vi um dvd mó massa e tipo aí eu entendi. Os cara são mó loco, véio. Aquele vocal é poderoso, hein? Como é o nome dele mesmo?
RC - Jimmy Page.
S - É isso aí.
RC - O Jimmy tá inteirão ainda, ele veio pro Brasil esse ano tocar com o Alice Cooper.
S - Esse Alice Cooper era dos Stones, né?
RC - Acho que era. Não me ligo muito em Stones, prefiro Beatles.
S - Ah, é. Pena que o Mick Jagger já morreu, né?
RC - É. Ow, c curte Pink Floyd? É que o Paul McCartney tá voltando pro Brasil e ele vai tocar todo o show do The Wall.

Nesse momento, eu larguei todos os livros e cds que estavam em minhas mãos. Passei por eles, agradeci e fui embora. Vomitei um pouquinho a caminho do carro.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fernanda dos Dias

Tudo começou com um tremor. Outro. Vários tremores. Os dedos se estalavam, nervosos, ansiosos como a dona. Os cabelos revoltos, rebeldes e imponentes chamavam a atenção e completavam a beleza da moça.  O sorriso alegre ao me ver preencheu minha noite. Eu, na minha insegurança, sempre acho que esses amigos músicos que quase não vejo por falta de tempo não vão se lembrar de mim. Eu sei, eu sei – paranóia – já estou tratando isso na terapia, fiquem tranqüilos. O bom é perceber que eles não só se lembram, como me chamam por apelidos carinhosos. Fico feliz. É um jeito de estar perto, mesmo estando longe.
E a moça cumprimentava a todos, amável que só ela, irradiava uma luz forte e interessante que alumiava a noite fechada. “Hoy” era seu dia. A estréia. Não era estréia de palco – seu já velho conhecido – mas estréia de um trabalho próprio, seu. (A pré estréia na verdade, como a artista fez questão de frisar em um determinado momento do show. A estréia ocorrerá quando do lançamento do disco, no fim do ano.)


Fernanda Dias. Voz grave e poderosa, certeira. Eu nem sei quanto tempo faz que acompanho sua carreira, sei que sempre torci por seu sucesso. Tinha umas gravações antigas no meu carro – o cd gravado já quase furado – e sempre que a encontrava fazia a mesma pergunta, correndo o risco de me tornar chato ou inconveniente: “E o disco? Vai sair? Pra quando?”. Ela sabe que era pergunta de fã babão. É tanta admiração que fica difícil saber o que falar, confesso. Sei que não é fácil acertar, mas errar também não é.
Estava ali bem apoiada por músicos da fina nata campineira (e afins). Henrique Torres, tocando poucas coisas como sempre: guitarra, baixo, stilofone, teclado. José Siqueira, o irmão, que eu não conhecia até hoje, tocando violão, baixo e cavaquinho e Bruno Sotil, na sua já tão característica percussão, que conheço desde o primeiro show de Tatiana Rocha que eu vi.
Tenho orgulho de morar em Campinas e tenho orgulho de ver, ouvir, e saber que aqui se faz música de muita qualidade. Alguns músicos são naturais daqui, outros vieram parar aqui. Seja como for, todos contribuem para deixar essa cidade cada vez melhor. Mesmo que seja lenta como o passo de Igbin, tenho certeza que essa revolução de qualidade – música, poesia, canto – vai render muitos e muitos frutos.
O show foi bárbaro. Conhecia várias letras e cantei junto. As novas ouvi atento. Estou louco para ter o cd. Uma das partes mais bonitas foi quando Fernanda chamou  Taïs Reganelli, irmã de Henrique, e outra sumidade – com o quê de ser suíça-chique-simpaticíssima. Amigas de tempos, abraçaram-se, dando força uma para outra e fizeram dois belos duetos. Nem consigo acreditar que em um país que cultue Latino, Calypso e outras cositas más, possa ter espaço para essas duas. E tem. Tem espaço para todo mundo. E que ninguém me ouça para não dizer que é preconceito, mas a verdade é que eu quero que esse povo – Henrique, Bruno, José, Tatiana, Taïs, Fernanda, André deMarco, Helena Porto, Fernando Baeta – domine o mundo! Assim eu nunca mais terei de ouvir tanta porcaria musical! Eu vou fazer de tudo pra isso acontecer!
Voltei para casa sobre o efeito da música, do encontro com amigos, do prazer da música. Que coisa bacana é essa que a música faz com a gente? Tira do prumo e põe em outro estado. Talvez o original? O estado de total contato com tudo? Não sei. Filosofias de fim de noite. Sei que gosto desse estado e o quero para o resto da vida.
Fernanda Dias é um nome que ainda vai dar muito que falar. Fernanda Dias deixa sua marca – forte, direta – desde o princípio. E hoje eu não falo como crítico, nem como escritor, nem como artista das letras. Hoje falo como amigo. E sendo amigo, digo que estava lindo. E sendo amigo, digo que talvez tenha sido um dos melhores shows. E sendo amigo, digo que tenho muito orgulho de conhecer essa grande cantora. E sendo amigo, sou fã há tempos. E sendo fã há tempos, digo que foi simplesmente o máximo.

Fernanda dos Dias. Passados, presentes e futuros!

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Conversa de elevador

Te vi entrar no elevador
E perguntei: "Qual seu andar?"
Você falou que achava que ia chover
Eu disse: "Por que você não pensa em me ligar?"

Língua

Abri a porta
Me andei pelas ruas
Vestindo minhas roupas de seda
e trapos de lua

Pisando, sem querer, o chão
Ouvindo o vento respirar
Pessoas passam por mim
Concentradas em seu caminho
Não pedem, não podem, mas
só querem atenção

Ponho os olhos sobre a mãe que embala a filha
E sobre os beijos e abraços do casal
Quem foi que disse que um homem é uma ilha
Isso não é normal
para mim.

Passo por passo
Pé ante pé
Pessoas que passam
Passarinhos

Eu abro o sorriso
tão grande e de bem
Espero ajudar a abrir
o paraíso de alguém

Quero ficar assim
Alegre e tranqüilo
Lambendo a vida
Beijando meu amor
uma bela menina
cheios nós de ardor.