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espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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terça-feira, 11 de novembro de 2008

Casa Abandonada

Eu sou uma mulher que se sente como uma casa abandonada
Sinto meus pedaços espalhados em cartas e cigarros
O rádio toca, impiedoso, todas as canções que ele cantava para mim
“Os músicos”, diziam, “são mais sensíveis”. E eu não entendia nada.

Eu sou uma mulher que se sente como uma velha encarquilhada
Parece que meu corpo, meu templo, nada mais foi do que diversão e alguns sarros
Ando pela casa vazia, o cheio dele impregnado em cada centímetro até o fim
E eu não vou chorar. Não vou me arruinar. E eu não conheço a tal madrinha fada

No meu baú ficaram os dias que nos vimos, nos ouvimos
(e ele já nem me ouvia)
Filmes novos de uma velha história e tudo parecia igual
E a água da chuva castiga as minhas árvores no quintal.

Nem ouvi a porta bater quando você foi embora
Provavelmente estava cuidado das flores no fundo da casa
Minha casa, meu corpo e minha mente estavam abertos pra você
E agora eu choro as lágrimas de gerações

Tudo são barreiras que temos que cruzar, abandonar e deixar
Nunca pensei em abandono, nunca acreditei no “nunca mais”
E você disse: “Te amarei pra sempre”
E eu disse: “Eu também”

Posso culpar os jogos, os filmes, a neve, a chuva, a mim mesma
Mas nada será como já foi algum dia, o tempo passa
E eu percebo nas linhas que se aprofundam em meu rosto
Já fui sou bela e todas as minhas convicções foram abaladas

Eu amei sua indiferença frente ao espelho
Em um ilusório olhar de pessoa que crê em si mesma
EU não não não
E aquele filme é uma mentira deslavada e nada mais

Rasguei as páginas do livro que dizia para que eu acreditasse no tal amor eterno
E ouvi um trovão do lado de fora (ou foi em mim?)
Você foi tão rápido para sair de mim, de minha casa
E eu preciso de violinos para chorar e sofrer

Quero as luzes em mim, o foco em mim, as flores para mim
As palmas para mim e uma autobiografia não autorizada
E eu sonhei em casar
E minha criança desapareceu no pó do sofá

Enrolei-me nas cordas do teu violão tentando te trazer de volta
Mas descobri que só fiz apertar meu coração mais e mais
Tantos discos quebrados no chão da sala
E eu fumo e ouço Joni cantar

Como ela sabe tudo que eu penso? Como pode?
Como ela pode viver minha vida sem me conhecer?
Como uma artista pode ser tão significativa pra mim?
Como eu posso estar aqui e você longe?

Sua barba arranhava minha face e eu agora tenho quarenta e poucos anos
Mas tenho vinte e me roubaram os outros vinte
Seus olhos me despiam e eu arrepiava
Fomos jogados no “carrossel do tempo”
(do tempo)

E tudo parece um grande espetáculo e eu vejo a neve na janela
(e nem tem neve aqui)
A fumaça do cigarro faz formas circulares estranguladas
E dissipam-se como eu me dissipo

Eu me largo e adormeço
Eu meço tua falta com notas musicais
Um intermezzo de você é o que eu preciso
E te quero

Quando partimos deixamos uma parte de nós nos outros

Eu quero os meus nós de volta.

3 comentários:

A Conviteira disse...

Sem palavras...

Sabina Spielrein disse...

me reencontro nesses versos... de surpresa à assustada, misto de sentimentos...

beijoS!

Ale disse...

Adorei... BEIJOS