Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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domingo, 29 de dezembro de 2013

Fotografias funcionam como garrafas para meus sentimentos
remexo caixas, pastas de computador
e re-sinto cheiros, medos, paixões de quinze minutos
(de Warhol)

aquela que era minha amada eterna por um tempo
(e já não conversamos mais)
aquela outra que me ensinou a beijar
(atrás da árvore do parquinho no colégio)
aquele que me amou no escuro
(e nunca concretizamos sua paixão)

minha mãe está lá também
com seu sorriso estampado no rosto
tanto rosto, tanto sorriso

passados distantes
outros nem tanto assim
servem como bolas
para esse malabarismo temporal

chovo pelos olhos pensando
no que sonhava então
e no que tenho agora

essa dor eterna de crescer e
sair da casca

que medo
que medo

tinha tantos sonhos
vida foi levando vários

vida vai me levando também

sábado, 28 de dezembro de 2013



Dizem que meus poemas são confusos
Ora! Não poderiam não o ser, visto que falam sobre mim
Deve o poeta falar sobre aquilo que entende
E o que mais entendo senão eu mesmo?

Dizem que meus poemas são estranhos
ora! como poderiam não o ser visto
que versam sobre mim mesmo
e meus desejos

Dizem que são cheios de citações
(mas eu mesmo sou assim)
Dizem que não tem métrica, nem rima
(e eu mesmo sou assim)

Não poderia falar de plantas
Se elas nada me atraem
E não sou nenhuma delas
Não poderia ser um tolo bucólico
Se moro e penso e penso na cidade
(não gosto de plantas)

Posso menos ainda falar sobre o vento ou estrelas
Não sou nem vento nem estrelas nem plantas
nem nada que não seja eu mesmo

Tão estranho exigirem que eu, poeta,
Seja outro

Pilares das fontes de tédio me provocam
E eu ignoro, ignóbeis loucos faladores de tudo.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Viagem Mental


Eu sempre gostei de escrever à noite. O silêncio me acalma e me traz idéias boas e ruins. Gosto de pensar que sou o único no mundo que está ainda acordado e ativo, mesmo sabendo que isso é obviamente uma afirmação falsa, visto que toda a outra metade do mundo está a pleno vapor. 

Gosto do som solitário dos meus dedos digitando no computador ou – e isso não ocorre com frenquencia – na máquina de escrever. Ela anda meio jogada às traças, apesar de estar funcionando quase perfeitamente. Tem um problema com a tecla que dá espaço e eu tenho que fazer a mudança de linha manualmente, o que deixa o serviço um pouco mais complicado do que simplesmente sentar e escrever, mas eu consigo me virar. 
É à noite que eu penso na vida, nas mudanças que podem vir pelo caminho, nas mudanças que vem todos os dias. Já não sou mais quem eu era ano passado e acho que ninguém é. Escolhas são feitas todos os dias e bla bla bla. Eu particularmente tenho medo de escolhas e acho que por isso fujo delas como diabo da cruz. Tenho que mudar isso e tenho mudado isso cada vez mais. 

Passei dias horríveis nesses meses. Dúvidas, medos, sentimentos confusos e dor, muita dor. Todos temos dores, imagino eu, mesmo os mais felizes. Felicidade não é, apesar do mercado querer vender essa imagem estúpida, um estado constante. Pessoas constantemente felizes só habitam os comerciais de margarina. Confesso que eu sou uma pessoa bem humorada, mas eu detestaria viver naquela família onde todo mundo sorri e toma aquele suco de laranja de cor horrível. E também detesto Doriana. 

Estou sozinho agora e a casa é grande demais só para mim. Tenho uma relação de amor e ódio com a solidão. Passo dias ansiando por ela, por ter um tempo para mim, para ler, ver filmes ou fazer o que quiser. Ao mesmo tempo quando a tenho, ela me traz muito medo. Medo de ser sozinho para sempre, medo de pirar, medo de me trancar em uma jaula e nunca mais conseguir sair. Algumas noites acordo do nada de sonhos intranquilos de Gregor Samsa. Essa metamorfose de adolescente tranquilo onde tudo está bem em adulto com obrigações e um futuro a ser pensando é apavorante. Eu me sinto na beira de um abismo fundo, tão fundo quanto uma alma. Se eu resvalar em uma pedra, adeus minha vida. Ao mesmo tempo se abrem em minha frente vários abismos e pessoas atrás ameaçam me empurrar para uma delas. Um deles eu vou ter que me jogar e pode ser que não tenha mais volta. A idéia do pra sempre sempre me assustou. Não quero nada pra sempre, eu tenho medo do pra sempre, tenho medo de não conseguir mudar, tenho medo de enjoar – e isso já aconteceu muitas vezes – tenho medo de não gostar, desistir e sentir que a minha vida inteira foi um fracasso, mas como pode ter sido um fracasso se eu não tenho nem trinta anos, mas e se eu tiver trinta anos e ainda não tiver acontecido nada. 

Os personagens dos meus livros me habitam e ao mesmo tempo fogem de mim e eu fico tentando caçá-los e pensando no que seria um bom livro, no que um editor se interessaria, será que eu quero ser um editor e ler livros ruins de pessoas medíocres, será que eu sou um escritor medíocre e o meu livro ruim? Que livro é esse? Nada mais é do que um aglomerado de contos escritos ao longo de muitos anos, mais de dez, mais de quinze talvez. Uns que eu acho bons, outros prepotentes, outros até bacaninhas. 

Mostrei pra algumas pessoas, mas a maioria eu tinha certeza que iam gostar, por isso mostrei, até porque costumo não gostar quando alguém não gosta do que eu gosto, eu endeuso o que eu gosto e se a pessoa não gosta eu penso que o problema é dela e não meu. Eu sei dos meus problemas, mas se ela não gosta do que eu gosto isso é problema dela e na verdade não é, isso é problema meu, as pessoas gostam do que elas quiserem. Aí um amigo leu três textos meus e disse que não gostou, assim sem mais sem falar nada mais, ele disse que não gostou, que tinha achado ruim e que um deles tinha sido melhorzinho e eu tinha uma semana antes falado maravilhas dos textos dele. 

Eu só queria ser publicado e fazer noite de autógrafos, já estou até treinando meus autógrafos e também o que falar, vou querer que todos os livros tenham um textinho antes do autógrafo, obrigado pela leitura, obrigado por ter vindo, valeu a visita (?), um beijo, primeiro passo da minha caminhada literária. E aí eu vejo na televisão esses grandes escritores fodões que falam que foi só sentar e escrever e produzir aquelas maravilhas. E a idéia? A idéia, seus cretinos impolados mentirosos, vocês estão fazendo poses, pagando de intelectuais só para os outros se sentirem mal, mas vocês podem porque vocês são geniais, na verdade, eu é que sou medíocre, na verdade não medíocre, mas não bom o suficiente. 

Achei alguém para ler o meu livro antes de ser mandado para a editora. Espero que ele goste. 

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Sobre o passado vendo o futuro



Desde muito cedo pensei sobre o que seria o meu futuro. Desde muito cedo pensei onde estaria na idade que estou agora. Muito cedo decidi qual seria minha profissão ideal: ator. Era simplesmente porque os atores podiam viver várias vidas sem ter que de fato decidir por nenhuma delas. Eu tinha tantas opções que me interessavam, podia ser médico, acrobata, limpador de janelas. Cedo decidi que seria ator. Quando veio o fatídico dia do vestibular, eu já sabia que prestaria teatro em algum canto, seria aceito e tudo ficaria bem. Não fui aceito e não ficou tudo bem. Perdi o chão, fiquei desnorteado e todos os clichês que se seguem a um fracasso. Fiz cursinho, conheci muita gente, inclusive de teatro, e resolvi percorrer o caminho das letras. Não me arrependo, acho que o escritor é um tipo de ator, só que ele não age, ele imagina, fica trancado em seu quarto escrevendo sobre guerras inteiras, por vezes apenas interiores. Guerras reais e guerras interiores.
O problema é que fazer letras abriu ainda mais minha cabeça para o mundo, para as injustiças, para as relações humanas e suas verdades e mentiras que se mesclam sem que ninguém nunca saiba onde começa uma e termina a outra. Às vezes eu só queria ter um rompante de criatividade e sentir as palavras fluindo de meus dedos para a tela do computador para criar uma obra de arte fantástica, uma história que fique na cabeça de todos, que seja discutida em aulas de literatura e que me permita comprar um apartamento. 
Eu sempre me interessei por apartamento, talvez por nunca ter morado em um. Aquela coisa sala meio quarto meio cozinha me agrada. Sei que muita gente deve odiar morar em quitinetes ou pequenos apartamentos, mas nesse momento era tudo que eu queria. Arrumar meus livros em estantes e não mais deixá-los empilhados por aí. Dar um lugar justo para Lygia Fagundes Telles, para Caio Fernando Abreu e tantos outros. Juntar por assunto ou por área ou por escritor. Deixar minhas roupas bacanas nos cabides e não enfiadas nas gavetas com cheiro de nunca mais. Dinheiro é um problema real e eu odeio isso.
Nunca achei que dinheiro fosse ser um problema tão real. Não gosto de dinheiro, nunca pensei em ter muito dinheiro, mas agora vejo como essas notas malditas são necessárias. A sociedade não gosta de artistas, nunca gostou, não sei porque achei que seria diferente comigo. Trabalho porque preciso pagar minhas contas e ainda assim trabalho muito e ganho pouco, situação que pretendo melhorar em breve. Procrastinação é algo que se enreda na gente e deixamos tudo parado – vida, relacionamentos, pensamento, livros. Agora estou aqui e são quase três da manhã e eu não consigo dormir porque tenho pensamentos sobre o futuro.
Dizem que o Machado de Assis escrevia cinquenta páginas por dia e poucas delas ele usava para seus romances e ficou conhecido como o maior autor brasileiro, mesmo que hoje poucas pessoas o leiam e das que leem poucas o entendem. Eu quando escrevo é só uma, duas quando a inspiração é grande. Eu podia simplesmente largar tudo e desistir de escrever, já que eu não sirvo para isso, mas não consigo. Simplesmente não consigo. Tem vezes que eu fico parado, muitas vezes até no meio de uma conversa e fico pensando em cenas, personagens ou frases que precisam ser colocadas no papel. Podem até ser jogadas fora depois, mas precisam pelo menos ser vistas por esses meus olhos sonhadores.
Acho que ser muito sonhador é o que me atrapalha. Se eu sonhasse menos e fosse menos viajante, talvez já tivesse conseguido algo mais concreto.
E como eu faço para ser menos viajante?

quinta-feira, 30 de maio de 2013

"Roupa Velha"

            Eu adoro bife à milanesa. Não sei fazer, só sei fritar, mas que delícia que é! Tem um outro frango que eu como na casa da minha mãe que é também de enlouquecer o capeta. Um frango com alcaparras, umas coisas chiques assim, uma delícia. Gosto de lasanha. Quer dizer, uma pessoa normal gosta de lasanha, eu sou fissurado em lasanha de todos os tipos. Sabe o Garfield? Pois é, se ele tivesse uma versão humana seria eu, tirando a preguiça e a barriga...
            Há anos que eu ensaio cozinhar. Faço lá minhas misturebas, mas todas elas derivadas do que já tinha na geladeira. Por exemplo, pego arroz, feijão e umas verduras e misturo tudo na panela colocando um ovo ou algo assim, curry ou orégano e pronto, me divirto que é uma beleza. Nem sempre fica bom, mas sempre é divertido. Nem sempre também fica comestível, teve uma vez que eu coloquei coisa demais, aí minha irmã não agüentou comer. Minha mãe chama isso de “roupa velha”. Talvez seja o nome mais apropriado, um troço que ainda dá pra usar, mas já está cheia de remendos.
Tem filmes assim, livros assim. Tem várias vezes que eu assisto filmes e tenho a sensação de que já vi tudo aquilo, mas com outros atores e em outras épocas. Engraçado, né? Eu sei que aquele filme é novo, mas é como se fosse o mesmo. Hollywood anda em uma fase meio seca de roteiros novos. Nunca vi fazer tanto remake. Alguns são inclusive incabíveis. Querem fazer um remake do filme “O Segredo dos Teus Olhos”. Conhecem? É um filme argentino (com o maravilhoso Ricardo Darín e a interessantíssima Soledad Villamil) sobre um advogado que vai investigar um crime ocorrido na ditadura militar. Os americanos querem refazer esse filme com o Denzel Washington no papel principal! Chega a ser ridículo! Os americanos nunca estiveram em um período ditatorial! Eles não fazem a menor idéia do que é isso. Pelo contrário, eles que financiaram grande parte de todos os absurdos que ocorreram aqui nas Américas...
Música assim também tem. Sabe o que eu odeio? Lounge. Sabe aquelas versões bem ruins de sala de dentista? Pois é. Detesto. Música de elevador! Quem criou a música de elevador, Dio Santo? Rolling Stones versão lounge é de cair o cu da bunda...
Tem uns livros assim também e escritores máquinas. O cara tem a fórmula e só a repete, ad nauseum, pois sabe que dá certo. Dan Brown é um deles.
Quero livros novos interessantes, músicas que me façam chorar ou rir e filmes que mudem minha vida. Não é pedir demais.

Alguma sugestão? 

domingo, 26 de maio de 2013

Vá à merda!

Ando pensando muito ultimamente. Pensando no futuro, pensando nos meus defeitos e qualidades e com quem eu realmente me importo. Às vezes algumas pessoas te irritam, mas aí você pensa que a opinião delas não importa muito e fica tudo melhor. Enfim, pensei sobre o sentimento da inveja e – juro – não quero posar de bom moço aqui, mas não me lembro de ter em nenhum momento da vida sentido inveja de quem quer que seja. Uns anos atrás, quando eu ainda não conhecia nada da Inglaterra e ouvia pessoas falarem sobre suas viagens, eu até ficava invejoso, mas não era nada cáustico. Só ficava pensando “nossa, como seria legal se eu fosse também”. Mas juro que não me lembro de querer que essa pessoa se ferrasse na vida porque ela foi pra Inglaterra e eu não.
A inveja é diferente do ciúme, mas esses sentimentos gostam de trabalhar juntos. Na minha cabeça, a inveja é quando você quer ter o que a pessoa tem ou ser o que a pessoa é e o ciúme é quando você quer ter a relação que a pessoa tem com alguma outra. Namorados ciumentos ficam com raiva de amigos de muito tempo pq suas namoradas tem histórias com eles que os namorados não têm. E não importa se esse tal amigo de muito tempo é gay, a questão não é essa, a questão é “ele viveu algo com ela e que ela gosta de lembrar e eu não estava lá”. Ciúme é sentimento de pessoas egocêntricas e inveja o de pessoas fracas e com baixa auto-estima. O ciúme causa a fofoca, que é a coisa mais destrutiva das relações humanas. A frase que mais aparece na minha cabeça nesses últimos dias é “se cada um cuidasse do seu cu, a vida seria melhor”. Cu aqui é uma metáfora, claro (se bem que em certos casos, nem tão metáfora assim), para vida, assuntos, decisões. Tem tanta coisa acontecendo no mundo, guerras, fome, filmes nova, novela, sabe lá, por que então cuidar da vida do outros?
Eu sei o porquê. Fofocam as pessoas que não são bem resolvidas, que tem dúvidas sobre si mesmas, que precisam estar pro cima para serem aceitas. E que tem vidas de merda. Isso é bastante lógico e quase didático. Se você tem uma vida de merda, pobre, desinteressante, a única chance de ter alguma emoção é falando daquelas pessoas que tem vidas interessantes. Na sua cabeça, as qualidades daquela pessoa são tão evidentes que vale mais a pena falar dos defeitos, dos erros, das falhas. Acho que cada um devia cuidar de suas falhas e não das dos outros. Cada um cuidar do seu cu. (Ainda vou propor isso como slogan de alguma campanha política.).
Outra coisa que me irrita é criticar sem saber o motivo e depois que algo já está feito. Depois que foi tudo preparado, feito, é fácil chegar e dizer “ah, eu acho que isso deveria ter sido feito assim ou assado”. Quero ver estar lá, quebrar cabeça, dar a cara para bater, ou o cu, se formos seguir a linha pouco educada desse texto.
Inveja, ciúme, picuinha, tudo coisa de gente pequena. Todos temos defeitos, sei disso. O meu é o ciúme. O meu signo taurino me faz ser extremamente possessivo e temperamental e isso às vezes é um saco para mim, imagina para quem convive comigo. Preciso cuidar (e acho que tenho melhorado) do meu ciúme. Ciuminho eu acho legal, um chamego, uma reclamação, tá tranqüilo, tá beleza, o que não pode é o troço doentio. Isso eu nunca fui, doentio, não. Mas fico aqui caraminholando umas coisas na cabeça e isso também não é bom.

Acho que o meu pior defeito é o de não falar, o de guardar. Eu sou o presidente da república do “deixa disso” e é péssimo. Eu sofro muito mais do que todo mundo e só dificulto a convivência e afasto os outros. É normal brigar, é normal discutir, xingar e fazer as pazes depois, mas eu guardo tudo e não perdôo fácil. Nesse assunto, as pessoas têm uma aliada que é a minha péssima memória. Pode acontecer de eu ter ficado muito bravo contigo por algo motivo e já ter esquecido. Se isso aconteceu, já estou te mandando atrasado à merda! Vá à merda!   Estou fazendo um esforço muito grande pra falar tudo que eu penso. Não é preciso brigar, mas pode ser necessário de vez em quando e isso não é o fim do mundo. Isso faz mais bem do que mal, eu acho. 

domingo, 28 de abril de 2013

Imposto de Merda


Estou eu - como provavelmente milhões de brasileiros - brigando com o imposto de renda. Eu acho que eles ainda vão desenvolver um programa em que apareça a seguinte pergunta:

"Imposto de Renda Ano X - Fazer". Aí eu decido entre sim e não. Nossa, como eu sonho com isso. 

Não me dou bem com números e isso já deve ter ficado óbvio para os meus parcos leitores. Odeio. Odiar também não é verdade, porque várias vezes me peguei fazendo contas aleatórias para passar o tempo. Eu sei, puta passatempo besta, mas o que eu posso fazer? Uns anos atrás eu fui fiscal de uma prova importante em uma escola que eu trabalhava. Foi um sábado de manhã, oito da manhã e a prova durava quatro horas e eu não podia fazer nada. Não podia ler, nem comer, nem ouvir música, nem mexer no computador, nem coisa nenhuma. Eu não podia nem escrever, tinha que estar o tempo todo de olhos nos infelizes fazendo a tal da prova morfética. E tinha só umas folhas de papel em branco (para anotar sabe-se lá o que se eu não podia escrever nada!) e comecei (ilegalmente, sim, sou o pior fiscal do mundo) a fazer continhas, depois fui pra expressões. Exercitar o meu cérebro e não dormir. Foi uma das coisas mais difíceis da minha vida. Podem ter certeza. 

Aliás, dormir é uma coisa bacana. Eu adoro pegar ônibus, por exemplo. Adoro mesmo. Não gosto de ônibus lotado, lógico, mas gosto. Chego mais cedo, acordo mais cedo, fico esperando, não me importo com nada disso. Levo até meu livro para ler na viagem. O problema é justamente esse. Quando entro em um ônibus (principalmente aqueles de viagem) e sento eu começo a morrer de sono. E durmo. Fui de Paris a Lisboa em 28 horas. Olha, posso dizer que dessas 28 eu dormi umas 20 pelo menos, se não mais. E não precisa ser ônibus chique de viagem não, o ônibus circular também me provoca isso. Perdi a conta de quantas vezes eu deixei passar o ponto quando ia pra faculdade. Quando eu via tinham passado 3 ou 4 paradas e eu tinha que voltar tudo correndo pra chegar na aula na hora! 

Outra coisa que eu amei na primeira e nas outras já transformei em várzea foram os trens na Europa. Eu nunca tinha andado de trem daquele jeito, então minha expectativa era grande. Eu tinha planejado ler, tomar café, comer alguma coisa, namorar, coisas que a gente vê as pessoas fazendo nos filmes. Eu fiz um pouco de tudo, mas também capotei várias vezes. Café eu acho que não tomei, mas lembro quando eu e Karina - my dear girlfriend - tomamos uma cerveja quilométrica. É, não tem outro termo para isso. Era um copo enorme e uma cerveja forte e cara. Tínhamos grana para uma cada um. E sem dinheiro para comer. E estávamos sem comer fazia tempo. Bebemos relativamente rápido e o trem chacoalhava e a gente via o penhasco bem do lado. Ficamos tontinhos e demoraaaamos pra achar nossa cabine.

Bom, seja como for, fazer essa declaração é mesmo uma chatice. Números, números, números e quem me conhece sabe bem como é minha relação com os números. Para quem não me conhece, posso apenas dizer que não é das melhores. Preciso parar para lembrar a taboada e por aí vai. E não tenho vergonha nenhuma disso, oras. Acho que cada um tem sua habilidade. A minha definitivamente tem a ver com as palavras e frases e não números. Números, hunf!
Enfim, briguei à beça com as máquinas tentando achar a bendita da declaração do ano passado para poder importar os itens e não sei mais o que. Não achei. Achei em papel que o meu contador tinha feito, então o tal do arquivo .rec e .dec que seriam necessários não são mais. Não me incomodo em escrever tudo de novo. Não é muito dinheiro mesmo, então nem demora.

Como eu queria não ter que fazer isso!

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Herói

Acho o conceito de herói um tanto estranho. Parece que os filmes e livros incutiram em nosso cérebro (bem no meio das membranas plasmáticas e neurônios doidos que pulam e pululam) a idéia de que o herói é aquele cara másculo e corajoso que sobe na árvore gigante para resgatar o gatinho da donzela. Ou o presidente americano que salva um avião dos invasores terroristas (durante um bom tempo eram os russos que faziam esse papel, hoje em dia serve qualquer um que venha do famoso "eixo do mal" bushiano). Acho que esses caras (e aqui estou pensando também em mulheres) são heróis também, mas não só. Imaginem que aquele cara que por um acaso ouviu os apelos da donzela para se lhe salvassem o gatinho fosse um assassino serial. Ele deixa de ser maléfico porque naquele momento fez um gesto de caridade. Acho confuso. 

Eu, dentro do meu modo de pensar, acredito na idéia dos pequenos feitos e não tanto nos grandes gestos. Acredito que o herói de verdade não precisa sair por aí com uma placa no pescoço com o rol de todos os seus feitos. Herói para mim é o cara (e muitas vezes a mulher) que simplesmente é e exatamente por esse ser me provoca admiração. 

Gosto de pessoas com personalidade e não de marias-vai-com-as-outras ou gado, como eu gosto de chamar. Aquele papo de comprar o que é da moda porque está na moda ou ir no lugar da moda ou fazer o que está na moda não me atrai, não me seduz. Eu faço o que gosto, leio o que me interessa, ouço o que me atrai o coração. Se por ventura estiver na moda, muito que bem, se não, que pena, ouvirei do meu jeito, lerei da mesma forma, farei mesmo assim. 

Estava conversando sobre isso com uma amiga outro dia, esperando o pai dela chegar para lhe dar carona, e ela me disse: "você é muito seguro do que gosta e não gosta e não tem medo de dizer. Eu admiro isso em você." Ela disse e eu fiquei pensando. Não tinha me dado conta, mas é isso mesmo. Não tenho medo de dizer que gosto do que gosto. Também não tenho saco para aquele povo que fica posando de cult e dizendo  "ah, só faço o que eu quero". Não é assim. Faço muitas coisas que não necessariamente gosto, mas no momento estou falando do que faço no meu tempo livre. (e eu posso me contradizer porque esse é o meu blog e eu escrevo sobre o que eu quiser, oras.)

Por exemplo, não tenho medo de dizer que adoro a Barbra Streisand. Teoricamente, eu deveria esconder isso, chamar de "guilty pleasure" (que é aliás o nome de um dos discos dela) e não falar para ninguém. Não. Eu gosto, acho que ela é uma ótima cantora, gosto do que ela canta e não tenho porque não falar isso. E, percebam, eu gostar dela não significa que eu ache que ela seja perfeita e que todo mundo tenha que gostar também. Pelo contrário, sou partidário daquela máxima de que "gosto cada um tem o seu". Não gosto dessa coisa de forçar seu gosto para os outros. Sou roqueiro e penso "quem não ouve rock é imbecil" ou sou axezeiro e não entendo como alguém possa não gostar de axé. Acredito na pluralidade. Acho que tem espaço para todo mundo. E eu posso gostar um pouco de tudo. 

E não necessariamente preciso gostar (como já disse) de tudo que a pessoa fez. Eu gosto muito da cantora Simone, por exemplo, mas reconheço que o disco dela de Natal (que toca em todas as lojas todo ano) é uma merda. Foi um absoluto tiro no pé, em termos artísticos, mas foi um tiro no alvo em termos mercadológicos. É o disco dela que mais vende. Acho que não consigo explicar direito, mas vou falando. 

Às vezes até sabendo que o disco ou o livro são ruins eu gosto. Eu sempre dou o exemplo do disco "Tonight" de 1984, do David Bowie, que todos sabem ser um dos meus maiores ídolos. Esse disco é o seguinte: comparando-o com a produção do Bowie, esse disco é péssimo. Os arranjos são horríveis, as músicas tranqueiras, a voz dele estranha e a produção sem comentários. É sim o pior disco dele. Comparando com outras coisas lançadas na década de 80, é uma jóia rara. Seja como for, o que interessa é que eu sou fã e vou comprar e vou gostar de qualquer coisa que ele fizer, mesmo se for uma coletânea de funk carioca ruim. 

Estou me desviando do meu intento, como sempre. Comecei esse texto porque eu queria falar de um cara que é um dos meus heróis. Ele se chama Antonio Nóbrega, é recifense e tem 60 anos. Folião, cantor, dançarino, rabequeiro, contador de histórias, Nóbrega é um ilustre desconhecido para muita gente. Eu tive a sorte de ter uma mãe antenada com coisas do Brasil e desde muito criança ouço falar dele e de suas histórias. Eu tive a sorte de encontrá-lo dez anos atrás (como o tempo passa!) em Campinas em um pocket show de seu cd de então na FNAC. O show foi ótimo, mas o que mais me impressionou foi ele dar saltos no ar, como se tivesse dezoito anos. Ágil, forte e grande cara. O disco (minha mania, adoro falar disco e não cd) em questão era "Lunário Perpétuo", uma homenagem aos almanaques de antigamente que falavam dos astros, de músicas, de charadas, histórias e muitas outras coisas. Esse disco é um dos melhores da minha cd/dvd/vinil/livro - teca!

Ele sempre foi um artista do povo para o povo. Eu ouvi uma história sobre ele, eu não sei o quanto é verdade e quem conta um conto aumenta um ponto então vamos lá: 

Ouvi que ele trouxe um de seus shows para o Theatro Municipal de São Paulo. Na platéia, pessoas riquíssimas, um ingresso muito caro. Muita gente ficou de fora, uma fila enorme. Muita gente não conseguiu comprar os ingressos. Ele mandou abrir as portas do teatro e fez uma parte do show - de graça - para o povo que ficou para fora. Depois voltou para dentro e fez o show inteiro para quem tinha pago. Isso me fez admirá-lo ainda mais. Um enorme respeito pelos fãs, uma coisas que eu tenho certeza que muitos dos que agora se intitulam "artistas" jamais fariam. 

Lembro de Antonio também em um espetáculo que fiz - vários anos atrás - em que entrávamos todos os atores cantando e dançando uma de suas músicas! 

Antonio Nobrega, espero que sua carreira ainda dure muitos anos e que você fique cada vez mais conhecido em todo o país! 

A minha canção favorita do cd, uma homenagem à Guimarães Rosa e seu Riobaldo e Diadorim! 

"O Romance de Riobaldo e Diadorim" - veja aqui

Viva Antonio Nobrega!! 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

"She"

É incrível como as canções tem uma ligação enorme com minhas memórias. Eu escuto alguma música por aí e lembro do lugar em que eu estava quando a ouvi pela primeira vez ou quando ela passou a fazer um sentido diferente para mim. Já escrevi em outros textos que a música é vital para mim. Hoje estendo a frase e digo: a música é vital, sim, isso não muda, mas percebi e percebo cada vez mais claramente que ela é feita de sons e silêncios. Silêncios estavam me fazendo falta.
Algumas canções tem o poder de me deixar animado, querer conquistar o mundo e outras conseguem me detonar para não querer mais levantar. Os cds que eu levo no carro, por exemplo, são pensados antes. Não deixo qualquer coisa lá. Coisas calmas, baixinhas, não devem ser ouvidas lá porque com tudo que acontece ao mesmo tempo (dirigir, parar, prestar atenção) não consigo nem ouvir direito. 
Estou pensando nisso porque hoje ouvi por acaso uma música que me lembrou um filme e esse filme é quase um sonho para mim. Pode ser ridículo, mas quem me conhece sabe que, apesar dessa minha cara mega-cult, eu sou é um romântico. E que filme é mais romântico que "Um Lugar Chamado Notting Hill"? Aí eu lembrei do meu sonho de morar em Londres, de ter um apartamento com plantas (samambaias) e livros pra tudo que é lado. Não gosto tanto de móveis, acho que se tivesse um apartamento só meu, ele teria poucos móveis. Eu gosto do espaço para deitar, talvez colocasse uns puffs, sabe? Eu acho bacana. Não seria necessariamente na moda, mas seria a meu gosto. Enfim, a música é "She", que é a versão em inglês de uma música do grande Charles Aznavour, que na trilha do filme é cantada pelo Elvis Costello. 
Fiquei lembrando da música, do filme, do meu sonho (que está sendo realizado em parte, já que estou trabalhando em uma livraria e uma parte do sonho era essa) e fiquei meio melancólico. Logo voltei porque tinha que focar no trabalho, mas fiquei um pouco.

Às vezes eu acho que eu escrevo para ajeitar as idéias. Às vezes eu acho que as deixo ainda mais confusas. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

BOWIE RESSURGE!!!!


Hoje é um dos dias mais felizes da minha vida. Uns podem achar besteira de fã, até concordo, mas nem ligo. O meu grande ídolo finalmente saiu do seu exílio auto-imposto e resolver lançar um disco novo.

Devo dizer que depois de anos esperando, ouvindo boatos de que ele estaria doente, à beira da morte, boatos de que ele teria se aposentado, boatos de que teria morrido, ver Bowie ressurgir é emocionante.

Esse ano, tive a oportunidade de ir à Berlim e confesso que um dos meus objetivos era encontrar o apartamento que Bowie morou nos anos 70. Arrastei a coitada da minha namorada Karina Mochetti junto. Foi ótimo. E esse é o apartamento que aparece no clipe.

O nome do meu blog é em homenagem a ele, muitos conhecem a minha coleção infinita de artigos Bowianos.

Nem sei o que dizer, poderia ficar aqui falando e falando e sei que nem todo mundo vai ler isso, mas não importa.

Hoje é um dia feliz.

http://rollingstone.com.br/noticia/david-bowie-lanca-musica-e-anuncia-primeiro-disco-em-dez-anos/