Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

Protected by Copyscape Online Copyright Search

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Poesia do Mundo

E eu sei que naquele dia enlouquecido - hospital, cirurgias, pessoas falando de futebol, provas, textos para corrigir, aulas para preparar, testes diários e minha cabeça girando e girando - parei em um congestionamento. O rock'n'roll comendo solto no rádio do carro.

De repente, ouço o som mudar - violões bem tocados e uma música calma (James Taylor, com sua voz tranqüila, sempre companheira) - e uma flor cair por cima do vidro do pára-brisa. Aquilo me acalmou de um jeito que palavra nenhuma tinha conseguido.

Eu ainda acredito na poesia do mundo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Anestesia ou O Ninho de Vespas

Isso já faz muito tempo, mas eu me lembro como se fosse hoje. Muita coisa já se apagou na poeira densa da memória, mas consigo me lembrar das sensações todas. A escola em que eu estudava quando era muito pequeno funcionava em uma chácara em um bairro bem afastado da cidade, cheio de árvores, animais e poucas casas. Um terreno enorme em que pulávamos, corríamos, brincávamos de tudo possível. Tinha lá meus três, quatro, cinco anos e tudo era novidade. Fazer bolos de areia era o máximo, correr por correr só pra sentir a força do vento, explorar plantas misteriosas, tudo isso fazia parte do meu dia a dia.
Em um desses passeios, analisando a casa de madeira que ficava no centro da escola encontrei algo que chamei de ninho. Era uma estrutura diferente, feita de um material meio gosmento, mas duro. Com os dedos fui sentindo as texturas e percebi a fragilidade daquilo. Parecia um funil ao contrário. Era um ninho de pequenos animaizinhos voadores que depois vim a saber que era vespas. Vespinhas dessas inofensivas que só voam pelos lugares, mas não atacam e nem picam. Fiquei extremamente atraído por aquilo e várias vezes dava eu corria e brincava pela escola e acabava por ficar lá perto, só admirando o vôo das vespas na sua volta para casa. Confesso que fiz testes para saber o quanto aquela fortaleza frágil agüentava e por vezes amassei aquele material para fechar a entrada e ver o que elas fariam. Quando voltava no outro dia e ia lá procurar, elas tinham conseguido fazer outro buraco para poder sair de seus abrigos.
Tornaram-se elas então um ponto de tranqüilidade naquele lugar por vezes inóspito. O interessante é que sempre que eu brigava com algum coleguinha ou levava bronca por algo que eu – obviamente – não tinha feito eu corria para o “ninho das vespas” e me sentia protegido. Elas eram como se fosse um esquadrão de soldados muito corajosos que protegeriam seu imperador (eu – em uma demonstração clara de que megalomania não tem idade) e fariam seus inimigos em pedaços. Sempre fui uma criança muito criativa, que falava sozinha e que tinha poucos amigos, mas bons. Talvez isso explique porque eu tinha as vespas em tão alta conta.
O tempo foi passando e eu me esqueci desse ninho, me esqueci das vespas e me esqueci de muitas coisas. Criei então outros refúgios para quando estivesse triste. A escola que eu estudava faliu e a chácara foi comprada por ninguém menos que minha mãe e sua sócia para fazerem uma outra escola, com outros alunos e professores. Por isso ainda mantenho certo contato com a chácara, já muito mudada, assim como eu. Aquela que era enorme e cativava meu interesse, agora é um espaço normal. Eu cresci, a chácara é a mesma. A sensação é diferente. Por um instinto fui procurar meu ninho de vespas para perceber que nada mais existia lá. Elas já tinham partido dali e o vento e as chuvas fizeram seu papel, lavando tudo. Hoje lá só encontro a madeira da casa. Devo dizer que fiquei até um pouco chateado, apesar daquele ninho de vespas não estar lá há muito tempo.
Pensei nos outros refúgios que criei para quando a tristeza viesse pintar meu céu de cinza. A música, meus instrumentos – todos com seus devidos nomes e histórias e mesma importância –,  meus livros e filmes – os dois minha possibilidade de viajar por outros mundos – minha família, meu quarto, minha cama, meus escritos. Cada um deles com seu valor, seu passado, seu presente e futuro.
Pensei também em meus amigos, meus grandes amigos, meus irmãos que a vida me fez encontrar e que tenho muita sorte de ter agora que estou passando uma fase meio barra pesada. Estou lidando com a dor da perda do meu cachorro de muitos anos e com uma doença na família de uma pessoa muito próxima. Uma doença cretina, silenciosa e odiosa. De formas diferentes, com pequenos gestos, todos estão me acolhendo e demonstrando o carinho que tem por mim. Faço questão de retribuir de qualquer maneira possível.
Dizem por aí que o ser humano é uma ilha. Até pode ser. Cada um pensando nos seus problemas, nas suas frustrações, nos seus desejos e realidade. Eu sei, porém, que compartilhamos sensações, memórias, risadas e lágrimas todos juntos. Diferentes, mas os mesmos. Mais velhos, mais novos, mais sabidos, mais vividos, com muita ainda por viver. São todos ilhas, mas são meu arquipélago e não deixarei nenhum deles se afundar e eles também cuidam para que eu não me afunde.
Achei neles as minhas vespas. Talvez a comparação não seja das mais românticas, mas tem um sentido muito especial para mim. São meus soldados, são aqueles que me protegem das adversidades e da loucura. Não sou seu imperador – é óbvio - e nem quero ser, a união de pessoas tão diferentes já me basta.
A dor é líquida, se transforma em choro. A saudade é um veneno que tomamos aos poucos para ficarmos vivos. Vejo a amizade como blocos de concretos aos quais posso me agarram para não cair no abismo da solidão.
Estou anestesiado. Não curado das dores dessa vida que vão chegando sem dar aviso – e que eu, em minha jovem idade, ainda nem faço muita idéia -, mas com as baterias recarregadas para enfrentá-las de cabeça erguida. E esse mérito é todo de vocês, meus amigos, meus amados amigos. Depois eu choro, depois. Agora eu sorrio pensando em vocês. Obrigado.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Confissões de um Escritor

Dizem os católicos que as pessoas devem se confessar com uma certa freqüência. Não sei, porém, qual é essa freqüência, até por que acredito ser esta uma palavra amplamente relativa. O que é freqüente para mim pode não ser freqüente o suficiente para outro. Tenho certeza que as carolas se confessam muito mais do que aquele cara que fez primeira comunhão há milhões de anos e nunca parou para pensar nisso e ainda sente-se ridículo na fotografia, ajoelhado, segurando uma vela.
Não pretendo aqui entrar no mérito da confissão; se ela deve existir ou não, se deve ser abolida, se não poder ser abolida, “imagina!”. Isso é assunto para religiosos, igrejas e fanáticos. Quero dizer que, não sendo católico, não tenho por hábito me confessar (para? com?) alguém que é tão pecador quanto eu. Sei que vão me dizer que os padres são ungidos com o toque divino e tudo o mais – e até acredito que sejam mesmo – mas depois de todas essas notícias de pedofilia e violência não consigo evitar o fato de ficar com o pé atrás.
Resolvi então fazer graça com isso e me confessar com vocês, meus enigmáticos, inteligentes, lindos e graciosos leitores. Talvez vocês possam compartilhar seus anseios e angústias e rir do ridículo do que escrevo. Algumas tem relação com o ato de escrever, outras com comportamentos e outras ligam o nada a coisa nenhuma. (Nossa, isso é que é uma frase de efeito... Vou falar umas três ou quatro coisinhas e pronto, gente, calma, senão vocês vão ficar lendo isso até semana que vem!)

1. Eu como comida que cai no chão.

Não é também generalizado, não é qualquer coisa. Estou lá, de madrugada, morrendo de fome, corro até a geladeira e acho um pedaço de pizza de três dias atrás (ou seja, nova). É um pedaço de pizza de abobrinha. Sorrio amarelo e fico me perguntando quem diabos pede pizza de salada (uma das minhas dúvidas eternas). Resolvo esquentar a pizza e comê-la, ao menos para saciar minha fome. Pego o prato, lavo os talheres, ponho no forno de microondas. Está quente. Corto um pedaço com o garfo e ele, por ironia do destino, cai no chão. Depois de todo esse trabalho, vocês realmente acham que eu vou jogar fora aquele bravo pedaço? Eu, não, violão. Pego o pedaço com o garfo, assopro e continuo comendo.

2. Já assisti ao clipe do Justin Bieber, “Baby”.

Sim, já, aham. O motivo alegado foi ter muitos alunos adolescentes, que eram super fãs do carinha e tal e tal. É sempre bom ter alguém para falar mal no meio musical e todos esses pop hiper-fabricados, como diria o Moby, do mesmo estilo – Rebecca Black, Justin Bieber, Selena Gomez, Britney Spears, Rihanna e sei lá mais quem – servem muito bem para esse propósito. O problema é que eu curti a música desse energúmeno de dezessete anos com voz de doze. A batida é legal e a letra chega a ser engraçada de tão ridícula. Enfim, não me sinto orgulhoso disso, mas assisti o tal clipe umas quatro vezes seguidas. (Eu sei, eu sei, vou me penitenciar!) Se vocês já devem estar furiosos com essa traição ao rock’n’roll e à música brasileira, nem vou falar que tenho um disco duplo inteiro da Lady Gaga no pendrive.

3. Eu falo de livros que não li.

Algumas pessoas já desconfiam, outras tem uma idéia, outras não fazem idéia, mas podem ter certeza que eu não todos os livros dos quais eu falo. Eu sei informações sobre eles porque já ouvi pessoas falando sobre eles, já li resenhas, já li wikipeadia e tudo o mais. Não acho que é exatamente um pecado, mas é uma confissão de qualquer jeito.

4. Não gosto de praia.

Ah, vai, eu até gosto e tal, mas tenho a maior preguiça de todas as preparações – arrumar mala, viajar até lá, passar filtro solar (ou equivalentes), andar até a praia, voltar da praia, essas coisas – só de pensar nisso já fico cansado. Apesar de tudo isso, não há nada como ficar tomando água de côco, no sol, lendo um livro ou tocando violão ou simplesmente lagarteado – como dizem os gaúchos – ato que consiste em não fazer absolutamente nada, só deixar o sono (não tenho certeza de como e quando os lagartos dormem, mas com tantos gaúchos na família, nunca contestei a tal expressão).

5. Não gosto de chocolate.

Tinha uma época que eu nem pensava em comer chocolate. Simplesmente não gostava. Quando era criança até comia bastante, mas depois de ficar um ano e meio sem comer chocolate, côco e camarão, por conta da bronquite e de um novo tratamento, acabei perdendo o gosto. É uma certa birra, na verdade, porque acho que tudo fica com o mesmo gosto. Às vezes compro um mousse de morango que parece delicioso. Quando vou comê-lo, aquele gosto de chocolate (veja bem: a quantidade é quase imperceptível) toma conta de todo o paladar. Passei um tempo sem colocar nada de chocolate na boca – o que foi bom porque é muito gorduroso e isso não faz bem para a voz e preciso dela para todos os meus intentos profissionais e culturais (ator, cantor, professor). Hoje em dia como um pouco aqui e ali, mas pouco perfeitamente ficar sem. Por meses e até anos.

6. Não gostava de Pink Floyd, David Bowie e Senhor dos Anéis.

Pois é. Quem me conhece hoje pode não acreditar, mas durante muito tempo eu não gostava de nenhuma dessas três coisas. Meu amigo Leandro de Marco me emprestou um cd do Pink Floyd que ficou meses comigo e eu nem me dei o trabalho de ouvir, porque já sabia que não ia gostar – ou pelo menos era isso que eu achava. Hoje é uma das minhas bandas favoritas. Mesma coisa com David Bowie. Fiquei com o Ziggy Stardust durante quase um ano e só ouvi uma vez. Depois de muito tempo que é que me deu o estalo da maravilha que eu tinha na mão – não lembro bem o que me fez olhar David Bowie com outros olhos, acho que foi assistindo o filme “Furyo – Em Nome da Honra”. Hoje também é um dos meus maiores ídolos. O mais recente de todos é os filmes do Senhor dos Anéis. Li todos os livros na época da febre, mas devo confessar que quando acabei o último não tinha mais paciência para tantos nomes. Ficava confuso em saber quem era do bem, quem era do mal e dizia que o tal Frodo e o tal Sam tinham é um caso gay secreto. Semana passada fui nas Lojas Americanas em um saldão de um dia. Em meio a vários produtos inúteis em promoção, achei algumas coleções de DVDs por preços baixos. Uma era a dos Senhores do Anéis. Seis DVDs por vinte reais, achei justo e comprei pelo curiosidade. Vi algum dos filmes no cinema, mas tenho certeza que dormi por não estar entendendo nada. Acabei de ver o primeiro filme e estou maravilhado. Realmente Peter Jackson, o diretor, e os atores fizeram um trabalho fantástico, obviamente também considerando toda a parte técnica, cenográfica, trilha sonora. Muito bom mesmo. Confesso que falava mal dessas coisas todas sem conhecer. O que é uma grande bobagem, certo?

Chega? Cansaram das minhas confissões? Eu devo ter mais coisas para falar, mas agora já esqueci. Vamos deixar assim por enquanto. Se lembrar de mais alguma que eu ache que valha a pena escrever, faço outro texto.

E você? Vai se confessar hoje?