Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Conversa na Frente de um Elevador

- Ah! Bem que eu achei que fosse encontrar você perto do elevador!
- Eu estou indo para casa.
- Você costumava descer as escadas...
- Sim e você costumava acreditar no Lula. As pessoas mudam.
- Eu não mudei tanto assim, ainda acredito em algumas coisas e acho que a Dilma tem feito grandes progressos.
- Se você considerar essa baderna como progresso, até pode ser.
- Não acredito que vamos falar de política como primeiro assunto de uma conversa nossa em meses.
- Você que trouxe o assunto à tona.
- Sim, é verdade, desculpe. Vim aqui para trazer os papéis e falar do Eduardo.
- O que tem o Eduardo?
- A babá me ligou e disse o que ele fez no colégio. Precisamos conversar.
- Acho que não. Já estou tomando conta disso.
- E não precisa da minha opinião?
- Sinceramente? Não.
- Não gosto quando você toma essas atitudes.
- Que atitudes?
- Simplesmente ignorar o que eu acho. Ele é meu filho também. Sabe, isso foi uma das coisas que nos afastou.
- Não, Carlos, o que nos afastou foi a sua secretária calhar de ser também sua amante e colocar fotos suas extremamente comprometedoras na internet.

(Tempo, sentam no banco colocado na frente do elevador. O ambiente é comum em empresas, um banco, algumas plantas, em geral não muito bonitas, mas bem verdes)

- Precisa apelar? Você não consegue ter uma conversa normal? Precisa partir sempre para a briga?
- Estou apenas relembrando os fatos.
- Nunca mais eu vou conseguir ter uma conversa com você que seja sem acusações e ironias?
- Não estou lhe acusando de nada, Carlos, você se colocou nessa situação sozinho.
- Bom, não importa. Nós já estamos acabados, mas o Eduardo está com problemas e é nisso que devemos nos focar agora.
- Claro. Muito mais fácil correr para os problemas dos outros do que olhar para a sua própria barriga, que, aliás, cada dia aumenta mais. Você está bebendo de novo?
- Desculpe, mas você não tem mais que me controlar.
- Sim, é verdade. Pode se afogar na bebida, isso talvez até faça bem para você. Ela te abandonou, foi?
- Não importa, isso é coisa minha.

(Tempo. A conversa fica cada vez mais alterada, os colegas olham de soslaio, sem saber bem o que fazer. Um deles levanta a cabeça da máquina copiadora e faz menção de ir ter com eles, mas depois de alguns segundos, pensa melhor e volta a seus afazeres)

- Eu vim falar contigo sobre o Eduardo, só isso. Não quero brigar, não quero discutir, quero só falar do nosso filho. Pode ser?
- Pode, Carlos, pode. Até porque não quero ficar parada na frente de um elevador discutindo a relação que a gente nem tem mais. Quem sempre gostou de fazer showzinho foi você.
- Eu... Bem, não importa. A professora me ligou e disse que o Edu está tendo problemas na escola e que ela se assustou com a carga violenta que ele está colocando nos desenhos. Parece que o último envolvia um anjo sendo cruxificado ou algo assim.
- É, eu sei. Fiquei arrepiada até a espinha. Não sabia que meu filho seria capaz de algo assim.
- Nosso filho.
- É, sim, isso.
- Eu pensei em ter uma conversar com ele e tentar descobrir o que está acontecendo.
- E você não sabe? O que você acha de um divórcio traumático, além de um escândalo na internet? Não acha que é muito para um menino na fase adolescente? A família dele foi por água abaixo, Carlos!
- A família dele já ia por água abaixo por algum tempo e você sabe bem disso.
- Agora a culpa é minha? Fui eu que fiz aquela vaca levantar a saia e fui eu que coloquei meu pinto nela?
- Não seja grosseira, Bia, estou tentando ter uma conversa de gente.
- Não sei se consigo ter uma conversa de gente com você, ainda estou muito brava. Talvez seja melhor você conversar mesmo com ele e ver o que você consegue fazer. O Lucas sugeriu terapia.
- Quem é Lucas?
- O irmã da Sônia, ele trabalha na Biblioteca perto da casa da minha mãe.
- Sim, aquele cara que nunca tirava os olhos de você e que não esperou muito até te chamar para sair.
- No que ele fez muito bem, fazia tempo que eu não era tão bem tratada. Ele é extremamente educado e gentil. Como poucos.
- Sim, sim... E o que mais o seu amantezinho sugeriu que fizessemos com nosso filho?

(Tempo. O chefe da sessão passa por eles, tenta reconhecê-los e não consegue. Não se importa muito, afinal, para eles, são todos números. Devem estar trabalhando muito, de tanto que gesticulam.  Ela volta a falar com Carlos, rangendo dentes)

- Mude o seu tom comigo, Carlos, nesse minuto. Eu não vou aceitar esse nível de provocação. Eu tenho uma reputação a zelar nessa empresa. Já estou arriscando muito, tentando discutir seja lá o que for com você.
- Eu achei mesmo que deveríamos conversar em algum outro lugar. Aqui não é apropriado, você não sabe se comportar em local de trabalho. Talvez você tenha esquecido, mas também tenho uma reputação a zelar e fui eu que te trouxe para esse lugar e foi por minha causa que você hoje tem alguma coisa sua. Se não fosse por mim, você ainda estaria naquela empresa nojenta de telemarketing que te fazia trabalhar por vinte horas seguidas.
- A minha vontade de estapear a sua cara é tão grande que eu quase não me reconheço. Queria que esse banco tivesse almofadas para eu usar para sufocar você, seu cretino!
- Vou passar na sua casa na quarta-feira para conversar com o Eduardo. Pode ser?

(Tempo)

- Pode. Perto das sete da noite, por favor.
- Ok, combinado. Estarei lá.
- Tchau.
- Tchau.


(Cada um sai para um lado. Tempo grande. Horas depois, na cama)

- Anjo cruxificado? Realmente você estava com a macaca hoje!
- Foi bom, não foi? Melhor do que irmão que trabalha na biblioteca!

(Tempo, riem juntos)

- Adoro essas nossas brigas falsas em lugares públicos. Estamos cada vez melhores! Hoje até criamos um filho!
- Você é demais, meu amor! Um grande ator!
- Você também é uma ótima atriz, rangendo os dentes e tudo.
- O mais engraçado é ver a cara das pessoas!
- É... Eles não entendem nosso conceito de flash-mob.
- É verdade, é verdade... Me beija.


Flash Mobs são aglomerações instantâneas de pessoas em um certo lugar para realizar determinada ação inusitada previamente combinada, dispersando-se tão rapidamente quanto se reuniram. (wiki)

2 comentários:

Karina Mochetti disse...

Adorei o texto, pena que é tão ficcional, né? Imagina que existiria uma mulher que se irritaria asim... D.U.V.I.D.O. :P
Um dos seus textos que mais gostei, quase tanto quanto o Jorge. Quase! ;-)

Isabelle disse...

hauhauhauahuahauhauhauahauha você-é-estranho