Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Strange Fruit

A minha relação com a música é extrasensorial, transcendental, pictórica e todas essas palavras bonitas que não tem, na verdade, nenhuma relação com o que estou dizendo, mas quis usá-las. A verdade é que o meu amor pela música não tem explicação exata, nem fórmulas, nem nada disso. Sou apaixonado por sons, texturas, vozes, instrumentos e tudo o mais que pode formar uma orquestra, uma banda, o elã que diferencia uma banda muito boa de uma banda fantástica.
Insisto na idéia de que nossas vidas deveriam vir com trilhas sonoras assim como nos filmes. Se algum dia resolverem fazer um filme sobre mim (com alguém estiloso como o Johnny Depp, é claro, ou mesmo o George Clooney, já que o meu cabelo fica cada dia mais branco), isso é algo que deve ficar bem claro e exposto no roteiro. Há anos que eu escuto uma música e penso em cenas em que ela poderia ser usada, histórias que poderiam envolvê-la.
Hoje mesmo voltava do centro da cidade para casa. Passei a última semana alternando entre ouvir o disco “Vamo Batê Lata”, ao vivo de 1995 dos Paralamas (principalmente a versão de "Meu Erro", com uma virada de bateria maravilhosa de João Barone) e o Acústico dos Titãs (principalmente a versão em espanhol de "Go Back", com Fito Paez, roqueiro argentino, de quem acabei comprando uma coletânea dupla). Dois discos ótimos que já ouvi milhares e milhares de vezes, mas que andava sentindo falta. Resolvi, porém, que colocaria o meu pendrive para tocar.
Alguns não sabem, mas a única frescura do meu carro – e isso eu fiz questão de ter – é um rádio bom. Não, bom não, muito bom. Ele toca até pendrive. Aí eu juntei vários discos que eu gostava e comecei a colocar em pendrives, até para perder o hábito de ficar andando com um monte de caixinhas de cd debaixo do banco. A maravilha é conseguir colocar 48 cds em um aparelhinho minúsculo!
Enfim, seguindo com a história, resolvi colocar o tal pendrive para tocar. Escolhi que ele ficasse no modo “Aleatório”, ou seja, tocaria uma música de cada cd ou de um grupo de cds; sabia que seria tudo, menos monótono. E deu-se a mágica. Percebi que minhas sensações e meus pensamentos são diretamente ligados ao que eu estou ouvindo no momento. E eu que adoro as coincidências – como às vezes estar pensando em uma música específica e ser exatamente essa que começa a tocar  – tenho por gosto me deleitar com o acaso.
Confesso que estava com dúvidas nos pensamentos, vendo coisas que tinha feito e que faria de novo, coisas que tinha feito e tinha me arrependido, coisas que não tinha feito e tinha me arrependido de não ter feito, enfim, pensando, pensando. E não é que a primeira música que toca é “Free to Decide”, do The Cranberries? Exatamente falando sobre ser livre para escolher, seguir em frente e tal e tal! Achei engraçadíssimo e fiquei rindo sozinho feito bobo.
A outra foi "Bewitched, Bothered and Bewildered”, gravação do último disco da grande Barbra Streisand (não achei a mesma para colocar no link, mas essa é tão boa quanto, ainda mais com a apresentação da Judy Garland!). Já me vieram à mente Nova Iorque e todos os filmes que eu tinha visto sobre a cidade, o livro de fotos que vi ontem e tantas imagens e sensações. Costumo dizer que não tenho lá muita vontade de conhecer os Estados Unidos, mas que não pensaria duas vezes em ir para Nova Iorque. Talvez eu seja só um romântico e seja ela uma cidade como todas as outras, mas eu tenho vontade de ir lá ver o que rola.
Depois veio “Vôo”, do segundo disco dos Secos e Molhados, primeira banda de Ney Matogrosso, carreira curtíssima, mas com dois discos que são simplesmente perfeitos. Lembrei do Ney dançando com seus plumas e rebolados escandalosos e corajosos frente à censura que tolhia a palavra de todas as formas de arte. E que eu só vi em fotos e documentários, já que não tenho idade para ter estado lá.
E por último, quase chegando em casa, veio o toque final. Nina Simone. Esse nome por si só já traz um sensação de lembrança de um texto lindo de meu amigo Fábio Blanc, em que ele iniciava a história citando uma das canções dessa mulher fantástica. A gravação que ouvi era da música que dá título a esse texto, "Strange Fruit".
A voz de Nina dilacerou o que eu ainda tinha sanidade. A letra falando de corpos negros balançando nas árvores como estranhos frutos com cheiro de carne queimada - uma clara alusão ao milhares de negros que foram queimados e enforcados pela Ku Klux Klan. Seu piano certeiro e suas notas inquisidoras foram espremendo o que me restava de paz. Foi algo tão fantasticamente maravilhoso que tinha que sentar e escrever.
Agora estou aqui, escrevendo no laptop, deitado torto na cama, com a roupa da apresentação do coral, com a voz de Nina ecoando na minha mente e pensando no amanhã.
Qual será a música do amanhã?

ps: Esse post está cheio de links, façam um favor a vocês mesmos e escutem e leiam todos! =)

Um comentário:

Laura disse...

Tenho trilhas sonoras por dia (às vezes várias num mesmo dia) e acho que todo mundo deveria ter também!

PS – é... aquele “momento Barone” é realmente fantástico...