Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Confissões de um sobrevivente de shopping em época de Natal - Parte 2

Natal também pode ser uma época onde a inveja passeie pelos campos da cidade. Você, homem de uma certa idade (experiente...), olha para aquele jovem casal e para a TV de novecentas polegadas que eles vão levar. Fica imaginando a sensação que seria assistir um jogo de futebol ali ou uma corrida de fórmula um ou – nos seus sonhos mais delirantes – um filme pornô. Quase como no mundo real! Tem seus devaneios interrompidos por uma criança maledeta que fica puxando sua camisa, dizendo: “papai, papai, eu quero filme da Hello Kitty” ou “papai, tipo, me compra esse jogo, véi, ele é, tipo, mó irado, tá ligado?”. Ligado você está. Apesar de querer estar, na verdade, ligado a uma cadeira elétrica... Pior fica quando o casal, apaixonado, começa a se beijar e sua vontade é de furá-los com o rolo de papel de presente.
Isso sem contar sua mulher, doce e gentil donzela que os anos transformaram em uma viking de cabelos loiros de cor muito definida – ou seja, Casting -, que vem do fundo da loja com duzentos presentes para a Maricota da limpeza, a Susana do cabelereiro, a Júlia da manicure e mais mil outras pessoas que você sequer ouviu falar. E, claro, a batedeira para a sua sogra. Mais um item de cozinha que VOCÊ fornece e ela usa para o seu cunhado, sem nunca mandar nenhum doce, aquela velha caquética.
Você inveja o casal jovem, com todas as forças, mas procura se controlar, pois o dermatologista falou que a sua queda de cabelos é relacionada com o seu humor. Você sorri para o casal e eis que o rapagão vem conversar contigo e diz: “tio, dá pra dar uma olhada no nosso carrinho, vamos pegar mais um livro”. E você sorri e responde: “claro”. Ao encostar no carrinho, emite uma energia tão negativa que parece que loja inteira está tremendo (sim, sim, uma praga). O carrinho perde o controle, desgovernado, e vai parar no fim da loja, arrebentando a televisão. Você vibra, celebra, comemora com os amigos o fim daquela maldita felicidade, até ser acordado de seu devaneio pela moça do caixa que lhe pergunta se você vai querer algo mais.
O número que aparece na tela do computador da moça é maior do que o seu último salário. Você suspira, dá o cartão de crédito, faz um sinal da cruz e começa a empacotar tudo.
Já a mulher (sim, sim, você) fica sempre reclamando do marido em pensamentos. É sempre você a responsável por fazer as compras. Ele só serve mesmo para carregar o carrinho e dar o dinheiro. Já não sabe mais o que dar praquela velha raquítica na qual nenhuma roupa serve. Ela sempre dá aquele sorriso odioso de quem amou e que vai trocar na próxima oportunidade. E olha que você já tentou de tudo: moda nova, moda velha, brechó, roupa emprestada, roupa achada no lixo, roupa da sua avó, roupa importada, roupa da baixa da égua e aquela ziguifrida nada de gostar. Reclama de ter que comprar presentes para aqueles sobrinhos do seu marido que sempre te presenteiam com flores murchas. Já te deu vontade de dar-lhe cravos de defunto, mas depois você achou que isso talvez causasse um rixa na família.
O tal do Natal serve para pensarmos em presentes, presentes e mais presentes e eu também não vou ser hipócrita e piegas, negando que gosto de ganhar presentes. Claro que gosto, oras. E tem mais: eu sei que sou uma das pessoas mais difíceis do mundo de presentear. Até porque eu gosto, basicamente, de livros, cds, revistas, coisas que compro eu mesmo com uma certa freqüência. (sim, com trema e acento – uma banana para as novas regras ortográficas!). Mesmo assim, sempre espero ganhar algo legal. E, na verdade, eu gosto mesmo é de dar presentes!
Outro elemento muito importante para uma alegre tarde no shopping em época de Natal são as crianças - de todos os tipos e idades. Crianças calmas, que acompanham os pais sem fazer barulho e colaboram com o silêncio deveriam colocadas em jaulas e expostas, já que são espécimes raras. A nova moda são pequenos monstrinhos que gritam o tempo inteiro – tanto e tão alto, como se estivessem sendo estripados pelo Freddy Krueger. Gritam porque estão com fome, gritam porque querem o brinquedo novo, gritam porque estão cansados. E os pais, com aquela cara de jaca podre, se esquivam da responsabilidade com chavões como “ah, é a fase, né, gente?”. Minha vontade é dizer “quem tem fase, minha senhora, é a lua. Seu/sua filho(a) precisa é de limites!!”. Ainda vou dar uma resposta dessa.
Por último, mas não menos importantes, ficam os lojistas, vendedores e todos os funcionários. Os focados, que sorriem para todos, pois estão de olho na meta, sendo essa meta sair logo daquele inferno. Os putos da cara, que queriam estar fazendo qualquer outra coisa, mas estão lá e te atendem com aquela cara super agradável de orifício anal. Os socadores, aqueles que querem vender o máximo possível e ficam te socando promoções e mais promoções, como se isso fosse fazer sobrar mais dinheiro e como se você realmente estivesse interessado em um CD de Natal da Simone, sendo que você foi à loja para comprar um DVD do Aerosmith.
Uma última coisa: fim de época também é época de participar dos famosos amigos-secretos. Podem ser eles da firma, da escola, do clube de natação etc. É uma falsa sensação de amizade, porque muitas vezes aquela pessoa que você tira como amigo é na verdade seu inimigo ou então aquela pessoa com a qual você não tem nenhuma intimidade. Pensando nessa situação, e tentando evitar situações constrangedoras, faz parte do jogo dar dicas do que você quer ganhar. Existem, entretanto, aqueles que insistem em dizer que querem surpresas, que ficam felizes com qualquer coisinha. “Qualquer coisinha” o que, cara pálida? Depois você acaba o natal cheio de meias marrons e fica aí reclamando que ninguém te gosta e torrando a paciência de quem está ao redor.
Se você for às compras de Natal de última hora com esse espírito - o de tirar sarro de tudo – verá como tudo pode ser mais divertido. É o que eu faço.

3 comentários:

Laura disse...

Depois de fazer a besteira de pisar no shopping no último fim de semana antes do Natal, além de virar estatística de índice de consumo no jornal da noite, decidi que definitivamente não pretendo fazer isso de novo.
Mas é graças a isso que meu amigo ganhou um presente super legal (mesmo se todos os vendedores da loja querem que eu morra) e eu ganhei o espírito do Grinch embrulhado em papel cor de rosa...

Descobri que ainda não gosto de shoppings, de filas, que a leitura de branco no fundo preto me confunde, e que prefiro pessoas presentes do que objetos pra presente... (fica a dica)

A propósito, o que eu faço com o par de meias que comprei pra te dar no Natal?

Soninha disse...

Querido Ricardo!

Eu não gosto de shopping e não vou, exceto para ir ao cinema...

Gosto de rua. Sabe aquele lugar público , a céu aberto , com mistura de cheiros , gente e carros?

Então, é disso que eu gosto.

Faço compra nas lojas de rua.

O stress é o mesmo que rola nos shoppings, mas há a nostalgia de um lugar que um dia foi o centro da cidade. O centro! Centro. (legal essa palavra, não é? )

E mesmo eu sendo de uma geração de shopping center (o Iguatemi foi inaugurado e eu tinha 20 anos. Portanto, há exatamente 30 anos! Isso sem falar no Ibirapuera de São Paulo, acho que da época dos meus 15 anos!) nunca gostei deles: da pseudo elegância , da ostentação , da visão medieval de mundo...

Mas sou às avessas.

Também não gosto de amigo secreto. Que coisa chata, né?

De modo que sofro pouco no Natal: sem amigo secreto e sem shopping...

E os presentes?

E os compro ao longo do ano ...assim... pouco a pouco ... nas lojas das ruas do centro da cidade, curtindo um a um.

Feliz Natal!!

machi disse...

olha o respeito com os funcionários hein? hahahaha