Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

Protected by Copyscape Online Copyright Search

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Herói

Acho o conceito de herói um tanto estranho. Parece que os filmes e livros incutiram em nosso cérebro (bem no meio das membranas plasmáticas e neurônios doidos que pulam e pululam) a idéia de que o herói é aquele cara másculo e corajoso que sobe na árvore gigante para resgatar o gatinho da donzela. Ou o presidente americano que salva um avião dos invasores terroristas (durante um bom tempo eram os russos que faziam esse papel, hoje em dia serve qualquer um que venha do famoso "eixo do mal" bushiano). Acho que esses caras (e aqui estou pensando também em mulheres) são heróis também, mas não só. Imaginem que aquele cara que por um acaso ouviu os apelos da donzela para se lhe salvassem o gatinho fosse um assassino serial. Ele deixa de ser maléfico porque naquele momento fez um gesto de caridade. Acho confuso. 

Eu, dentro do meu modo de pensar, acredito na idéia dos pequenos feitos e não tanto nos grandes gestos. Acredito que o herói de verdade não precisa sair por aí com uma placa no pescoço com o rol de todos os seus feitos. Herói para mim é o cara (e muitas vezes a mulher) que simplesmente é e exatamente por esse ser me provoca admiração. 

Gosto de pessoas com personalidade e não de marias-vai-com-as-outras ou gado, como eu gosto de chamar. Aquele papo de comprar o que é da moda porque está na moda ou ir no lugar da moda ou fazer o que está na moda não me atrai, não me seduz. Eu faço o que gosto, leio o que me interessa, ouço o que me atrai o coração. Se por ventura estiver na moda, muito que bem, se não, que pena, ouvirei do meu jeito, lerei da mesma forma, farei mesmo assim. 

Estava conversando sobre isso com uma amiga outro dia, esperando o pai dela chegar para lhe dar carona, e ela me disse: "você é muito seguro do que gosta e não gosta e não tem medo de dizer. Eu admiro isso em você." Ela disse e eu fiquei pensando. Não tinha me dado conta, mas é isso mesmo. Não tenho medo de dizer que gosto do que gosto. Também não tenho saco para aquele povo que fica posando de cult e dizendo  "ah, só faço o que eu quero". Não é assim. Faço muitas coisas que não necessariamente gosto, mas no momento estou falando do que faço no meu tempo livre. (e eu posso me contradizer porque esse é o meu blog e eu escrevo sobre o que eu quiser, oras.)

Por exemplo, não tenho medo de dizer que adoro a Barbra Streisand. Teoricamente, eu deveria esconder isso, chamar de "guilty pleasure" (que é aliás o nome de um dos discos dela) e não falar para ninguém. Não. Eu gosto, acho que ela é uma ótima cantora, gosto do que ela canta e não tenho porque não falar isso. E, percebam, eu gostar dela não significa que eu ache que ela seja perfeita e que todo mundo tenha que gostar também. Pelo contrário, sou partidário daquela máxima de que "gosto cada um tem o seu". Não gosto dessa coisa de forçar seu gosto para os outros. Sou roqueiro e penso "quem não ouve rock é imbecil" ou sou axezeiro e não entendo como alguém possa não gostar de axé. Acredito na pluralidade. Acho que tem espaço para todo mundo. E eu posso gostar um pouco de tudo. 

E não necessariamente preciso gostar (como já disse) de tudo que a pessoa fez. Eu gosto muito da cantora Simone, por exemplo, mas reconheço que o disco dela de Natal (que toca em todas as lojas todo ano) é uma merda. Foi um absoluto tiro no pé, em termos artísticos, mas foi um tiro no alvo em termos mercadológicos. É o disco dela que mais vende. Acho que não consigo explicar direito, mas vou falando. 

Às vezes até sabendo que o disco ou o livro são ruins eu gosto. Eu sempre dou o exemplo do disco "Tonight" de 1984, do David Bowie, que todos sabem ser um dos meus maiores ídolos. Esse disco é o seguinte: comparando-o com a produção do Bowie, esse disco é péssimo. Os arranjos são horríveis, as músicas tranqueiras, a voz dele estranha e a produção sem comentários. É sim o pior disco dele. Comparando com outras coisas lançadas na década de 80, é uma jóia rara. Seja como for, o que interessa é que eu sou fã e vou comprar e vou gostar de qualquer coisa que ele fizer, mesmo se for uma coletânea de funk carioca ruim. 

Estou me desviando do meu intento, como sempre. Comecei esse texto porque eu queria falar de um cara que é um dos meus heróis. Ele se chama Antonio Nóbrega, é recifense e tem 60 anos. Folião, cantor, dançarino, rabequeiro, contador de histórias, Nóbrega é um ilustre desconhecido para muita gente. Eu tive a sorte de ter uma mãe antenada com coisas do Brasil e desde muito criança ouço falar dele e de suas histórias. Eu tive a sorte de encontrá-lo dez anos atrás (como o tempo passa!) em Campinas em um pocket show de seu cd de então na FNAC. O show foi ótimo, mas o que mais me impressionou foi ele dar saltos no ar, como se tivesse dezoito anos. Ágil, forte e grande cara. O disco (minha mania, adoro falar disco e não cd) em questão era "Lunário Perpétuo", uma homenagem aos almanaques de antigamente que falavam dos astros, de músicas, de charadas, histórias e muitas outras coisas. Esse disco é um dos melhores da minha cd/dvd/vinil/livro - teca!

Ele sempre foi um artista do povo para o povo. Eu ouvi uma história sobre ele, eu não sei o quanto é verdade e quem conta um conto aumenta um ponto então vamos lá: 

Ouvi que ele trouxe um de seus shows para o Theatro Municipal de São Paulo. Na platéia, pessoas riquíssimas, um ingresso muito caro. Muita gente ficou de fora, uma fila enorme. Muita gente não conseguiu comprar os ingressos. Ele mandou abrir as portas do teatro e fez uma parte do show - de graça - para o povo que ficou para fora. Depois voltou para dentro e fez o show inteiro para quem tinha pago. Isso me fez admirá-lo ainda mais. Um enorme respeito pelos fãs, uma coisas que eu tenho certeza que muitos dos que agora se intitulam "artistas" jamais fariam. 

Lembro de Antonio também em um espetáculo que fiz - vários anos atrás - em que entrávamos todos os atores cantando e dançando uma de suas músicas! 

Antonio Nobrega, espero que sua carreira ainda dure muitos anos e que você fique cada vez mais conhecido em todo o país! 

A minha canção favorita do cd, uma homenagem à Guimarães Rosa e seu Riobaldo e Diadorim! 

"O Romance de Riobaldo e Diadorim" - veja aqui

Viva Antonio Nobrega!! 

Nenhum comentário: