Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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sábado, 8 de janeiro de 2011

Vila do Pecado











para Dalton Trevisan

Ele corria, corria, corria e corria. Estava no bar, troncho, quando ouviu conversinhas sobre as guampas que deixava crescer. Sabia que tinha virado motivo de falatório daquela gente imprestável, mas não sabia o porquê. Com certa dificuldade e o álcool circulando o cérebro, levantou-se e disse:
“Quem for macho o suficiente para me dizer do que riem, que o faça nesse momento”, gritou, com voz forte e brava.
“Nada, não, senhor padeiro, só estávamos a comentar como o senhor conseguirá usar chapéus agora que vossos chifres estão a crescer mais e mais”, respondeu um dos moleques do vilarejo, insolente. O fazedor de pão estendeu a mão para dar-lhe um tapa, mas o menino foi mais esperto e saiu correndo, caçoando o velho.
Tacou o copo na parede e saiu do bar, gritando palavrões. Foi andando em direção à sua casa, pensando ser apenas futrico de gente que não tem o que fazer. A pulga que estava trás de sua orelha dava gargalhadas com gosto.
Ficou um pouco cansado – afinal, estivera bebendo e não era água – e encostou na parede da casa do senhor médico, que veio conversar. O doutor era mais jovem, mas, apesar disso, o padeiro tinha um enorme respeito pelo profissional. Este veio examinar-lhe e disse:
“Senhor padeiro não deve correr desse jeito. Tenho certeza ser um ótimo exercício, mas com estas guampas gigantescas é capaz de enroscá-las nas árvores do caminho.”, falou-se, rindo. O padeiro enfureceu-se e meteu-lhe um soco no meio dos dentes. Ora veja um frangote falando assim de si. Malditos moleques.
Continuou a correr. Ele corria, corria e corria. Parecia que os olhos de todos que cruzava pela estradinha de terra estavam a olhá-lo (e isso, na verdade, era bem capaz de estar acontecendo).
Sua casa ficava em uma esquina, perto da Igreja. Ele gostava disso, alegando que o pecado nunca entraria em sua casa pela proximidade da Casa de Deus. Um padre novo havia sido enviado para o vilarejo depois do último ter sido acusado – e confessar – estar tendo um caso com um servente de pedreiro. A vergonha atingiu a cidadezinha e todos ficaram em penitência por um longo tempo.
O novo padre era de fato novo e alto e com cabelos morenos. Tinha saído do seminário não fazia muito e sua primeira paróquia era naquele fim de mundo. Fazia sermões bonitos, era muito solícito com todos que lhe pediam ajuda e, apesar de muito jovem, tinha, segundo as carolas, olhos fundos, sabedores, como se já tivesse vivido vidas inteiras. Logo tornou-se querido e passou a ganhar presentes com freqüência. Porcos, vacas, ovos, galinhas, tudo isso ficava guardado na parte de trás da Igreja velha, onde o padre morava.
O padeiro diminuiu o ritmo ao chegar perto da casa. Mesmo estando a alguns passos da morada, já conseguia ouvir os gritos. Eram gritos abafados, mas de prazer. Sua imaginação corria, corria e corria, tentava achar explicações razoáveis para os sons que ouvia, mas ele sabia o que estava acontecendo. Sua fúria só queria saber quem era o causador daqueles gritos.
Rodeou a casa e aguçou o ouvido para saber de onde vinham os gritos até chegar à porta dos fundos. Entrou vagarosamente, procurando fazer o mínimo de barulho possível. As tábuas do chão de madeira, que sempre rangeram, aquele dia colaboraram com o senhor padeiro e ficaram silenciosas.
Pelo espelho do corredor, viu dois corpos nus na cozinha. Sua visão, turva por todo o caminho, ficou muito clara e a bebedeira passou. Sua mulher estava nua, apoiada na pia e um rapaz atrás dela. O gajo metia-lhe por trás, com força, e ela arfava como uma puta. As mãos dela procuravam os cabelos do homem para acariciar-los e ele gostava. Beijava a nuca da mulher, dava pequenas mordidas e vez por outra, subia as mãos – sempre às ancas – para apertar-lhe os peitos como um capataz ordenhador. Ela era uma vaca e gemia a cada toque do infeliz. O senhor padeiro foi ficando vermelho, seu coração batendo forte e ele esperando para ver o rosto do homem. Resolveu ir até seu quarto.
Sentou-se à cama. Olhou o pequeno altar que a mulher tinha feito ao lado da cama. Ajoelhou-se, fez o sinal da cruz e rezou para Nossa Senhora perdoá-los todos pelos pecados. Procurou ficar calmo e rezar consciente, apesar dos gritos ultrapassarem as paredes da casa de pau-a-pique. Tirou a espingarda de seu pai da parede - onde ela ficava exposta -, procurou no fundo do armário a caixa de balas que guardava para seletas ocasiões. Carregou-a com dez tiros.
Foi em direção a cozinha e cada passo seu parecia ter o peso de quatrocentas rezes. As memórias vinham-lhe à mente, sem que ele pedisse. Estava irado, raivoso, corno.
A mulher gritava, deliciosa do momento, farta de prazer. O senhor padeiro chegou à porta da cozinha e ainda ficou olhando por um momento. O gajo dava tapas na mulher e cada tapa parecia provocar uma faísca e ela lá, desejosa de mais. Vagabunda.
O primeiro tiro acertou as costas do homem, que caiu, revelando enfim sua face. Era o padre! O padre!
Outros dois tiros atingiram a mulher, que caiu por cima do homem que havia, enfim, lhe proporcionado prazer – um prazer santo, digamos. Outros vários tiros acertaram lugares diversos, pois a cabeça do padeiro estava tonta e ele já não mais sabia o que fazia. O sangue brotava de onde os amantes haviam sido atingidos. Eles não mais gritavam. Agora quem gritava era o senhor padeiro, que afastou o corpo do padre, debaixo de infinitos palavrões e blasfêmias contra Deus, e pegou o corpo da mulher.
Sentou-se na poça de sangue que havia se formado e colocou a mulher, nua, em seu colo. Acariciou-lhe os cabelos, enquanto chorava e chamava-lhe de nomes feios. Agarrou seus peitos com a boca, deu tapinhas em seu rosto, tentou revivê-la, mas em vão. Tentou dar tapas na mulher, como o outro fazia, mas não tinha habilidade e as faíscas não mais apareciam. Deitou-se com ela no chão, em meio à sujeira de cascas de cebolas, pedaços de batata e cenoura e sangue.
Foi achado inconsciente algumas horas depois, pelos mesmos moleques que caçoaram dele no bar.
Os moleques riram-se dele e ficaram espantados de ver uma mulher nua assim de perto. Colocaram seus sexos para fora e os passaram pela boca, peitos e vagina da mulher, masturbando-se. O senhor padeiro acordou de seu transe e viu a cena hedionda.
Com um grito, pegou a arma e atirou a esmo as últimas balas, acertando um moleque na perna, outro no braço e outro bem perto dos olhos. Os três saíram correndo, topando com o carro da policia da cidade grande, que vinha investigar, chamados pela população. Foram levados ao hospital.
O pecado corria, corria e corria pelo mundo, achou aquela vila no meio do nada e se instalou, grandioso.

Minha amiga Gisele "querida" Imai, dona do lindo blog "Biscoito e Chá" me deixou um recado dizendo que esperava que meu estilo fosse mais para Rubem Fonseca, o qual muito admiro. Prefiro, entretanto, escrever histórias com final feliz. Gosto de finais felizes, apesar de saber que a vida não é assim tão boa para sempre. A pulga ficou atrás da orelha: "e se eu tentasse copiar o estilo de algum escritor que admiro e ver o que sai?". Escolhi então o conhecido Vampiro de Curitiba - o grande Dalton Trevisan. Sempre admirei seu estilo curto e arrebatador, com sua escolha de palavras cruas e diretas. Quantas vezes li e reli seus textos! E ele nunca gostou de dar entrevistas, dizendo que tudo o que precisavam saber sobre ele estavam nos contos, idéia e opção partilhada por Rubem Fonseca, que também nunca gostou de aparecer. Gisele foi minha colega em uma das escolas que trabalhei e encontrei nela uma pessoa muito viva, interessada, companheira e sempre, sempre se renovando, o que acho muito bonito. Fiquei muito contente de saber que ela visita meu blog e devo dizer - e repetir mil vezes - que o blog dela é lindo!
Nessa minha nova jornada, nessa nova estrada que não sei bem onde vai dar, desejo boa sorte a ela e ao marido, começando vida juntos (já faz um tempinho, eu sei, mas ainda é começo) e digo que quero tê-la em minha vida, senão mais como colega, agora como amiga!
Eu sei que o texto é forte para fazer uma dedicatória tão delicada, mas eu acho que vocês entenderam. Se não entenderam, procurem seus psiquiatras que eles explicam. =)

3 comentários:

Unknown disse...

"mas não sabia o porquê". Atente-se ao português, nobre colega, fã de David Bowie.

Anônimo disse...

Speechless. Que coisa, hein?

Bora fazer um livro?

BTW: Ontem perguntei de você pra Rita T., pra saber se ela tinha notícias suas e tal, vamos sair nós 3 pra almoçar dia desses?

Beijo.

Natasha Neves disse...

Você tem um estilo único, meu amigo! Fico muito feliz em acordar, fazer meu café quentinho e ler um de seus textos para começar meu dia! Seu blog está nos meus "favoritos"!!! Miss u!