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espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Choro de Neve

Acordo no meio da noite e os pensamentos vem aos borbotões como se fossem ondas de sangue de um mar de dores. Meus ossos estão puídos, gastos, putrefatos como eu andando feito zumbi nessa terra de gente que adora arrancar pedaços de incautos jovens idiotas que confiam nessa bobagem chamada amor. Me sinto velho, mas sou jovem e sou velho demais. Fico pensando onde deixei toda aquela candura, toda aquela esperança que o jovem eu tinha e o atual eu não tem mais. Fico pensando em que virada do caminho passei a ser esse homem amargurado, ultrapassado, renegado que sou hoje. Já tive uma vida, uma família, filhos e hoje não tenho nada. 
Passo meus dias jogando sal na neve para que ela derreta e fique mais fácil para os pais de família perfeitos dessa rua tirarem o que resta dela de suas sacadas maravilhosas. Hoje em dia sou feito de sal amargo. Derreto qualquer sorriso dirigido a mim, um “bom dia” involuntário despedaça-se em minha presença, já que não sorrio de volta, não cumprimento de volta, só solto um grunhido animal, um som de urso, de leão emasculado. Os pontos desse lamento meu parecem facas em meu corpo velho, cada hora que devo parar para pensar sem saber direito como continuar. Tão fácil parece se lamentar, não é? Mas não é, não é. 
Sinto-me uma massa putrefata de nada sobre nada com nada e que ninguém dá o menor valor. Meus filhos foram embora, cresceram, tiveram seus filhos e não sei mais deles. O fogo tomou conta de tudo. Minha casa, meus bens, todos se foram naquele incêndio criminoso. Eu sei quem foi. O que me dói mais é não poder provar, eu sei quem foi e queria poder sair gritando para todos o nome do cretino bastardo que botou fogo na minha casa, mas não posso. Perigo de ele me atacar e me jogar na cela da cadeia para mofar. Eu me alimento de gelo e sal. E restos de almoços perfeitos, semi-jogados fora. Não existe jogar lixo fora, não existe o fora, só existe o dentro. 
Nada fora de mim existe, só existe o dentro. E o dentro de mim dói muito. 
Se ao menos eu pudesse chorar, mas as lágrimas se congelam em flocos de neve. 
Eu choro flocos de neve. 
Neve. 
Nada.


Nada.

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