Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Se você olhar bem para o teto, perceberá uma rachadura. Há uma rachadura no teto. Nunca havia parado para vê-la. Ver a rachadura. A vida nos leva por caminhos tortuosos e falta de tempo que nem olhamos para cima. Vida. Eu até tinha uma vida. Uma vida cheia de compromissos, de afazeres, de vida enfim. E agora...
Eu era feliz, contente, ria de tudo, mas agora as risadas morrem nas sinapses cerebrais, nem chegam ao rosto. Este rosto sujo que nem me lembro mais, senhores. Nem sei ao certo porque isso acontece agora, nem sei mais porque e como alguém poderia esboçar sorrisos frente ao grande nada que é a tal vida. Trancado nesse quarto escuro, as lágrimas são minhas mais assíduas companheiras. Escorrem pela face e pingam no chão, formando uma coroa. Eu lembro de fotografias feitas em preto e branco que mostravam esse fenômeno natural. Tinha visto em um livro da escola, eu acho, que sei eu.
Essa cela é escura. Meu refúgio é uma mesinha de madeira podre e um bloco de papéis amarelados que uso pra escrever. Foi o que consegui. Aqui as regras são restritas. Nada de diversões, nada de arte. Se o diretor chefe soubesse que eu já fui artista, talvez me colocaria mais isolado ainda do mundo. Eu era poeta. Achava o amor maravilhoso. Agora nada me salva. Eu acho que os poetas só escrevem se estiverem felizes. Mesmo os que escrevem os mais tristes poemas deviam estar tristes. Parece que é impossível escrever sem beber grandes goles da tristeza que nos permeia.
Mandaram me prender. Eu acho que incomodava algum figurão. Nunca vi a justiça funcionar nesse país. Antes de ser preso, eu vi ser solta uma menina tão bonita quanto cruel ser solta, mesmo sendo assassina confessa do assassinato dos pais. Mesmo assim, solta.

E eu?
Preso.

O carcereiro está batendo na grade da cela. Acho que é hora da comida ou algo que pareça com comida. Uma massa de arroz com batata e traços de carne. Eu estou tão isolado que minha cela tem, além de grades, uma grossa porta de ferro. Só posso ver o mundo através do buraco da fechadura. Não sei porque fui preso. Só fico a chorar e soluçar e escrever. Nada mais. Durante toda a minha pena. Qual? A eternidade. Preferiria morrer. Mas sei lá eu."

Há alguns anos, comecei a escrever uma peça de teatro que se chamaria "Caminhando". Estudávamos o período da ditadura no Brasil e eu pensei que poderia escrever algo sobre o período. Fiz pesquisas, li relatos, vi alguns vídeos e, claro, ouvi muita música. No fim das contas, outra pessoa acabou escrevendo o texto. Vi-me então com uma peça começada e levemente delineada. Sem fim. Escrevi também algumas canções para o espetáculo, sendo que duas delas foram de fato usadas. A peça fez sucesso nas suas - duas - apresentações. Hoje revendo esse material, vejo que as canções não são assim tão boas quanto eu achava, mas isso é normal. Esse texto, porém, tem algo que ainda me cativa. Acho que está mal escrito e clichê, mas me chama a atenção por algum motivo. Ainda vou voltar a esse assunto e criar um espetáculo interessante! "Caminhando" é, claro, homenagem à canção de Geraldo Vandré que conclamava os brasileiros a caminharem e cantarem e seguirem a canção, pois eram todos soldados, braços dados ou não.

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