Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

A Cantora de Ópera

A cantora pousou as flores na mesa de seu camarim. Eram rosas vermelhas lindas que lhe haviam sido entregues por um admirador secreto, bem ao estilo de filmes de mistério. Os fãs, extasiados, tinham acabado com seus últimos restos de energia. Agora – sentada em sua cadeira de madeira indiana – olhava-se no espelho e sorria. A ópera fora um sucesso. Crítica e público. Os maiores jornais da capital falavam de sua performance, igualando-a à de Maria Callas, Monserrat Caballé e tantas outras. Achava que os críticos exageram um pouco, mas não podia conter a felicidade.
Ouviu o ranger da porta e assustou-se. Virou para ver um estranho homem vindo em sua direção.
“Acalme-se, senhora, sou apenas um velho amigo, por assim dizer, um fã. Chamo-me Arthur Katmadavos. Como vai?”
“Estou bem, estou feliz, acho que agradei, não foi? Ouço meus fãs gritarem meu nome e suas vozes se multiplicarem. Isso me deixa extasiada, mas a que devo a honra de sua visita, senhor Katmadavos?”
“Gostaria de conversar com a senhora sobre negócios, cara Prima Donna. Veja, estou começando um teatro novo aqui em Paris, é um novo conceito. Eu e meu grupo achamos que o gênero ópera está um pouco ultrapassado e os homens não se interessam por ele, somente mulheres e afeminados.”
“Que horror! Como pode fazer tal afirmação logo após ver o sucesso de minha produção?”
“É um sucesso agora, senhora, mas posso garantir-lhe que não passará de uma semana. É um suicídio artístico.”
Ela ficou intrigada. O que aquele homenzinho de casaca poderia oferecer-lhe? Ela era, como todas as primas donna, viciada em sucesso e fama e glamour e sempre queria mais e mais ser conhecida e amada por todos. Foi até a penteadeira, acendeu um cigarro e soprou a fumaça no rosto do convidado inusitado.
“E o que tens para me oferecer então, caro homem?”
“Fama, sucesso e glória, que sei que é o que procuras, senhora, e algo mais se não aceitares minha proposta.”
        “Explique-me sobre esse espetáculo”, disse ela, fazendo círculos com a fumaça.
“É bastante divertido e chamaremos de ‘Vau de Ville’. As moças – sim, várias – se vestirão com roupas atraentes e cantarão. Mais de uma vez levantarão as saias para que os homens vejam suas intimidades. Garanto que isso fará de nós uma dupla de sucesso. Ter uma artista de vosso quilate em nossa produção é tudo o que precisamos. Quanto mais bêbados virem mulheres nuas – ou quase nuas – mais pagarão por isso! É uma idéia genial! E deixe de lado essa bobagem de ópera”
“Como ousa me fazer tal proposta? Pensas que sou uma prostituta para me mostrar-me desse jeito? Retire-se já! Indecente!”
E ela foi em sua direção para enxotá-lo do quarto, mas o homem já estava esperando essa reação e ele segurou seus braços, não com força, mas firmes.
“Acalme-se, senhora, é uma proposta válida! Seria vanguardista, eu sei, mas tenho certeza que em muitos anos seríamos alçados aos pilares da glória, como já lhe disse!”
E ela, furiosa, tentava desvincilhar-se de seus braços fortes, mas ele a mantinha muito próxima, com suas bocas quase coladas. E ele lhe deu um beijo forçado, dolorido e disse:
“Quero que sejas minha. Pouco importa o que fazes, quero que sejas minha. Falei aos guardas que entraria aqui para fazer-lhe uma proposta, mas na verdade queria estar perto de ti. Fui eu que lhe mandei as rosas, sou eu seu admirador secreto. Perdoe-me por minha proposta indecente, mas ainda acho que poderíamos ter sucesso com isso.”
Ela estava chocada, sem reação. Um homem havia invadido seu camarim, feito-lhe uma proposta horrível e beijado-lhe em pouco menos de quinze minutos. Seu coração palpitava e seu ar era rarefeito. Aquele homem era estranho e a simples visão dele causava-lhe asco.
“Não quero nada com o senhor, ponha-se daqui para fora! Ou chamarei os guardas!”
“Acalme-se, senhora, lembre-se que ainda tenho outra surpresa caso não me aceites”
“Não lhe quero, estúpido, quero que saias daqui imediatamente! Rua! Rua para dementes! Rua! Suma!” E ela berrava e berrava.
“Não gostaria que fosse assim, mas a senhora não me deixa escolha”
E ele, gracioso e cruel tal qual um cisne negro, tirou do bolso um pequeno punhal prateado e apontou para ela.
“Se não serás minha, não serás de mais ninguém e viverás para sempre na escuridão.”
Os olhos dela esbugalharam-se. O medo arrepiou-lhe os cabelos. O homem veio com força em sua direção e segurou suas duas mãos para impedi-la de agir. Usou o punhal para cortar as alças de seu vestido, revelando seu corpo inteiro. Com um soco, ele a jogou do outro lado da sala. Agarrou-a pelos cabelos, dizendo:
“Levanta-te, vagabunda. Pensas seres tão importante e onipotente a ponto de zombares de um mago poderoso? Sou senhor de muitos poderes e, como gatos, gosto de brincar com minha presa, antes de devorá-la”
O homem, agora com uma altura diferente e feições tão estranhas, vindas não sabe-se de onde, tornara-se outra pessoa. Sentou na cadeira de madeira indiana e passou a usar seus poderes para controlá-la. Fez com que ela cantasse para ele, dançasse para ele. Usou de sua força para que ela lhe desse prazer, um prazer violento, sujo e forçado, mas que pareceu satisfazê-lo. E ele ria. Dava tapas nos seios dela e ela chorava.
Chorava tanto que o irritou e ele lhe arrancou a voz. Ela desesperou-se ainda mais, tentou correr, tentou fugir, mesmo nua, não se importava, mas as portas estavam trancadas por dentro e ninguém parecia ouvir seu martírio. Rezava a Deus e perguntava porque ele a fazia sofrer tanto, mas até Deus parecia calado e distante.
Quando cansou-se, o senhor Katmadavos, agora transformado no diabólico Kripkato, o mago, teve um único ato de compaixão. Deixou que a cantora escrevesse uma carta de despedida ao seus fãs e matou-a com o punhal cravado em sua garganta.
Ela foi encontrada nua, no chão de seu camarim, com o punhal na garganta e  foi levada ao cemitério por funcionários da ópera. Foi venerada por milhões em seu funeral.

Um comentário:

Karina Mochetti disse...

Uuuuu... Fantasia e final trágico! I like it! ;-)