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espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Corrente

Um dia ele saiu de casa e não voltou. Disse que ia comprar cigarros no bar da esquina e não voltou. Não era longe, ele deveria estar logo de volta pra casa, mas não veio. Ela andou pela casa, olhou os quartos, os retratos todos expostos na mesa de madeira da sala. Os filhos já eram criados, todos trabalhavam longe. Seus filhos já tinham filhos e eles, claro, netos.  O cabelo dela nunca ficava branco graças a uma amiga que tinha uma tinta mágica lá no salão. O troço tinha um nome estranho, só podia ser coisa de mágico mesmo, “Kesting”, “Casting”, ela não sabia bem, nunca fora muito bem nas aulas de inglês da escola da igreja.
Ficou acordada a noite toda, esperando. Respirava ansiosa, nervosa. Ela não gostava muito de respirar, aquilo a fazia parecer viva e ela estava quase morta de saudade. O tempo passou, as horas se martelaram em minutos e segundos. Os ponteiros do relógio da sala pareciam carregar o peso do mundo inteiro. E ela não sabia de nada.
Deu uma semana. Um mês. Vários meses. Os filhos procuraram em todos os lugares possíveis, ligaram para a polícia, pros amigos, pros bares, pras escolas, bancos, prefeituras e nada. Nem traço, nem rastro, nem cheiro. Nada.
As buscas foram se tornando escassas, era difícil procurar uma pessoa que não deixara nada para trás. Não havia pistas, nada que levasse ao sumido. Os netos choravam, os filhos lamentavam e ela segurava a barra de todos, com um sorriso cinza no rosto. “Ele vai voltar”, dizia ela, “eu sei que vai”. Ela rezava para Nossa Senhora Desatadora dos Nós e Santo Expedito com fé fervorosa. Rezava por ele, pelos filhos. E nada.
Um dia ela também saiu de casa e foi procurar por ele nesse mundão de Deus. E nunca mais voltou. Parece que os dois foram engolidos pelo nada e depois de um tempo pelo véu do esquecimento.
A casa foi vendida, pintada, reformada e uma nova família foi morar lá. O pai era um trabalhador sério, competente, querido por todos.
Um dia ele saiu de casa e não voltou. Disse que ia comprar cigarros no bar da esquina e não voltou.

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