Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

Protected by Copyscape Online Copyright Search

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Tumultos

para Pedro, personagem do ator Bruno Garcia, da minissérie "Queridos Amigos", de Maria Adelaide Amaral, e para mim também, um pouco.

Sabe que eu acho uma loucura essa nossa vida de hoje. Acordar cedo, antes do sol muitas vezes, engolir um café, um pedaço de pão de dias atrás, correr para pegar o önibus ou ligar o carro, correr para não chegar atrasado, trabalhar pensando no almoço ou na volta pra casa. Não curtir os pequenos momentos. Acho uma doideira. Hoje eu levantei no meio da noite de um sonho intranqüilo, como Gregor Samsa, e, ao contrário dele, eu não havia me transformado em um inseto monstruoso, mas estava perto. Abri os olhos, levantei da cama e olhei em volta como que para certificar de que estava de volta jogado ao mundo real e que minhas alucinações tinham ficado no sonho e felizmente não haviam cruzado as barreiras da fantasia mental. Só lembro do meu quarto olhando assim, de baixo, deitado. Não lembro dele olhado de pé. Não olho meu quarto. Levanto cedo e vou realmente acordar quando já estou no carro, depois do café. Às vezes sem café, às vezes sem vontade. O trabalho enobrece, dizem por aí. Eu sei. Talvez. Essa visão de poeta torto amargurado é que não me deixa ver as coisas. Amargurado com nada. Não tenho vida suficiente para ser amargurado e me enredo nos meus sonhos de grandeza. Queria ser dono de um flat em Nova Iorque. Queria ter um apartamentinho e viver de escrever. Queria ter vinte mil pessoas me vendo cantar e cantando comigo. Queria ter gurias se esgoelando por mim. E não queria nada disso. Essa indecisão, essa incoerência, essa inconstância, me enlouquece, mas não muito. Não tenho pretensão de ficar louco ou qualquer coisa assim. A loucura é para os gênios e eu não sou gênio nenhum. Sou regular. Não. Regular, não. Mas seguramente não gênio. Eu sei é que o tempo passa e ele sim é irregular, louco, pervertido e perverso. A passagem do tempo pode endoidecer e eu já nem mais saber o que raios estou escrevendo. Será que é isso que chamam de “delirius tremem”? Acordar de um sonho louco e escrever? Será que é isso que os grandes escritores fazem? Aproveitar o pó do sono nos olhos para ver o mundo com outros olhos? Tumultos me habitam vira e mexe e me viram e me mexem e me devolvem depois. Alguns me mudam para sempre, alguns me jogam de volta na inércia de não fazer nada, de não ter feito nada, de não ter ambição para porra nenhuma. Não se entregue, não me entrego. Me podo. Me corto. Me estilhaço. E ninguém nem percebe porque é tudo eu. Tudo eu mesmo que faço comigo. Essa cobrança eterna, essa loucura interior. Essa falsidade. Ser falso consigo mesmo é se matar estando vivo. Eu não matei minha mulher. Eu matei nossa vida em conjunto. Eu matei a tal da união. Me passa aquela xícara de café, por favor.

Nenhum comentário: