Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

Protected by Copyscape Online Copyright Search

domingo, 31 de julho de 2011

Casa São Jorge

Hoje eu cheguei em casa cansado. Tava com sono, sem vontade de sair e morrendo de vontade de simplesmente me jogar na cama e sonhar com sei lá eu o que. Tinha uma festa pra ir. E não queria ir. Até queria ir, mas a preguiça me consumia como chamas consomem os tacos de lenha na fogueira. Profundo, né? Coisas de metido a poeta, nem liguem. Aí fui. Minha mãe usou uma chantagem emocional básica dizendo que era o aniversário de uma grande amiga e bla bla bla. E era mesmo. E ela queria ir. E eu fui. E foi legal, claro.
Era em uma casa de samba maravilhosa que tem aqui no meu bairro. O nome é em homenagem ao São Jorge e o nome é muito direito – Casa São Jorge – assim mesmo, direto e reto. A banda era ótima, tocavam música brasileira de várias épocas e o povo dançava como se não houvesse amanhã. Considerando que o amanhã logo chegou e transformou-se em hoje, talvez aquela idéia de que o amanhã não exista seja mesmo verdade. Tocaram Gil, Chico, Cartola e muito mais.
Eu estava cansado – ainda estou enquanto escrevo essas linhas breves – e não estava muito afim de dançar. Confesso que não sou um exímio dançarino, mas até que consigo manter o ritmo e fazer os dois-pra-lá, dois-pra-cá de forma satisfatória, mas só. Girar, jogar a moça por debaixo das pernas e jogá-la para cima para depois segurá-la com três dedos é um pouco demais para mim. Enfim, não quis dançar, então fiquei apoiado no balcão do bar, olhando as pessoas. Eu, quando vou nesse lugar, danço e me divirto. Hoje eu estava me divertindo de outro jeito. Ouvindo os sambas, prestando atenção nas letras e nos rostos ao meu redor, eu entendi de onde veio a inspiração para tantos sambas e tantos casos de amor ininterruptamente acabados, seja lá o que isso significar. A inspiração estava e está no mar de rostos, no mar de vidas por ali.
Vi moças lindas que tirei para dançar apenas com meus olhos. Seus namorados grandes como portas-de-armário sempre olhando em volta para garantir a segurança da namorada. Eles nem sabiam que eu já as tinha convidado para beber, conversar e ficar ali dentro da minha imaginação, só girando. Parece que quanto mais inseguro o cara, mais agarrado ele dança – talvez role um medo de perder a moça para um olhar como o meu. Eu tava quieto, não estava flertando nem nada, mas...conheço o meu charme. Ok, ok, enfim...
Momentos assim são inspiradores. Usando a imagem, o rosto de uma moça que vi, um gesto de um rapaz, o tom de voz de alguém perto de mim posso criar estórias, casamentos, divórcios, brigas e rompimentos fatais. E não é nada real e na verdade é tudo real. Afinal, não é isso que os escritores fazem? Escrevem sobre a vida? E a vida está aí, diante dos olhos o tempo todo.
Vários jovens, outras pessoas de mais idade, algumas de muito mais idade, curtindo, fazendo farra. Para terem uma idéia, eu que voltei dirigindo pois minha mãe tinha dançado e cantado e bebido a noite inteira. E ela estava feliz. E eu estava feliz porque ela estava feliz. Minha amiga Lívia, aniversariante da noite, também estava feliz.
A dança pode acontecer com o namorado ou com alguém desconhecido. Este alguém desconhecido pode assim o permanecer ou pode ser o início de um caso de amor de cinema, que vá resultar em filhos casa comida contas carro e viagens para praia e daqui a muitos anos uma vovó contando que conheceu o vovô quando iam dançar na Casa São Jorge.
Este texto não tem um tema muito claro, eu acho. Talvez inspiração ou dança ou samba ou talvez nada disso.
Dizem os árabes que a gente não perde tempo, a gente perde a vida porque ela não para. Diz o Chico que amanhã vai ser outro dia.
Vai mesmo Chico. Amanhã sempre será um outro dia e ele sempre vai existir – e tornar-se hoje.

Nenhum comentário: