Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

Protected by Copyscape Online Copyright Search

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Poderosas

para Karina Mochetti

Ele certificou-se de que a moça estava sozinha antes de fazer seu primeiro, digamos, movimento. Levantou-se com ar sexy da mesa do fundo do bar e ia em direção ao objeto de sua observação ininterrupta dos últimos trinta minutos quando a perna falseou e ele resolveu tornar a sentar. Tinha tremido nas bases, como dizem por aí. E se a cantada que tinha preparado não desse certo, não fosse boa o bastante?
Era muito direta: “Você é linda como um raio de sol”. Tinha visto isso em um filme e o mocinho ficou com a mocinha, mas havia o detalhe do rapaz ser muito bonito e ele sabia não ser a beleza o seu ponto forte.
Pensou em outra. Chegar perguntando para a moça se o pai dela era ladrão. Ela iria irritar-se, óbvio, e dizer que não, oras, onde já se viu. Aí ele diria que o pai só poderia ser ladrão, pois havia roubado a luz das estrelas para colocar nos olhos dela. Ridículo. Tinha certeza que ela o acharia ridículo se falasse isso.
Sua irmã mais velha sempre lhe falava que deveria tentar ser natural, que essa coisa de cantada é para fracos e que as mulheres nem sequer vêem com bons olhos essa tentativa toda pré-preparada. “O melhor”, dizia ela, “é o incerto, o inesperado, aquela surpresa de primeiro encontro”. Isso só tinha servido para deixá-lo ainda mais nervoso e neurótico.
Do que raios ele falaria? Como poderia entabular uma conversa quando o que ele mais queria era beijá-la, massagear seu corpo e ter herdeiros. Ela não era uma deusa grega e estava longe disso, mas nosso herói achava-a a mais linda do bar.
Política? Não, não, as mulheres não gostam de falar sobre isso. Roupas? Ela poderia até gostar do assunto, mas ele não sabia nada, nem o mínimo suficiente para iniciar um galanteio.
Ela parecia tão poderosa. Ele amava as mulheres poderosas, mas morria de medo delas. Tanta opinião, tanta coisa que tinham vivido, e ele era nada mais do que um cara muito simples, com uma vida simples e um passado bem chato. Nada de extraordinário havia acontecido em sua existência.
Talvez filmes fossem interessantes, mas se lembrou de que os últimos que tinha visto era sobre a segunda guerra mundial. Não conseguia lembrar também de nada romântico para dizer-lhe.
Ela estava no balcão, conversando com o dono. Tinha um drinque colorido em sua frente e ria, animada pela conversa. Estava entretida no que fazia. Ele foi se aproximando, sentindo seu cheiro, as ondas dos cabelos de leve, vendo os detalhes da roupa mais de perto. Ainda não sabia como chamaria a atenção da garota, mas não conseguiria ficar enfiado naquela mesa por mais nenhum segundo olhando de longe.
Pediu um drinque. Pensou em algo chique. “Um martíni, por favor”, claro. E com a azeitona. Chique, para uma garota facilmente impressionável.
Ela nem estava prestando atenção, mas quando o drinque chegou ela virou para ele e sorriu, despreocupadamente, até um tanto cúmplice. Tambores africanos rufaram, o mar se abriu e ele sorriu de volta. Pronto. Era aquilo só que ele precisava para melhorar sua noite.
Quando foi abrir a boca para iniciar a conversa que poderia mudar suas vidas para sempre, ele ouviu uma voz da outra ponta do balcão. Era uma outra mulher que chamava. Linda como a luz da lua.

- “Júlia?”, disse aquela linda como a luz da lua.
- “Oi, meu amor! Nossa, Ciça, como você demorou! Achei que eu fosse ficar aqui sozinha e abandonada para sempre!”, respondeu aquela objeto de observação de trinta minutos.
- “Me desculpe. Meu chefe ficou falando sobre um novo projeto na agência e não conseguia me desvencilhar dele. Deixei o estagiário adiantando tudo e vim te encontrar o mais rápido que pude.”

E beijaram-se. Na boca. De língua. E o bar inteiro viu. Nosso herói olhou aquilo, estatelado. Engoliu em seco várias vezes. As duas saíram de lá de mãos dadas, batendo papo alegremente e foram em direção a uma mesa perto da janela.
Ele olhou para o copo, mordeu a azeitona, secou o conteúdo. Sussurrou para si – “mulheres poderosas! Oras, para o inferno com elas!” –  disse, entre dentes.
Pegou seu casaco e foi embora sem pagar, pisando duro, irritadíssimo.

E elas lá conversando e rindo e sendo felizes. E poderosas.

Um comentário:

Karina Mochetti disse...

Mulheres poderosas: ou sejam lésbicas, ou fiquem solteiras. Mas o dia que acharem um homem que realmente não se intimide por vc e saiba te dar o valor, aproveite, porque eles são raros (e possivelmente imaginários?)...