Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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domingo, 3 de abril de 2011

Carta Aberta para o meu eu de amanhã

Todos os dias sofremos pequenos terremotos. Cabelos caem, cílios se dobram e vão ao chão. Esfregamos as mãos e amontoados de células deixam nosso corpo. Juntam-se a poeira do dia a dia. Mudamos. Deixamos de ser o que éramos a um segundo atrás. Você já não é o mesmo que começou a ler este texto. Em poucas palavras, novas idéias já se formaram, para gostar ou não do que escrevo.
Dizem por aí que a vida não é mais do que uma grande despedida – diária – de tudo. Primeiro deixamos as fraldas, depois o berço, depois a escolinha, depois o colegial, a faculdade, um emprego, outro, outro, sempre almejando algo novo, original, atual, que lhe transformará em alguém mais querido, mais bem pago, mais bem sucedido.
Os nossos cérebros estão em constante mudança, sensações surgem, decepções acontecem, casamentos, divórcios, às vezes tudo sem sair do lugar. A função do artista é registrar os momentos. Escrevendo, atuando, cantando, pintando, sendo.
A nostalgia é como um bom whisky. Deve ser tomada com cuidado e respeito, pois os dois podem levar ao coma. O álcool no corpo dá-lhe poder, invencibilidade. Sabe tudo, conhece tudo. E não é verdade. A nostalgia dá-lhe a certeza de que tudo foi melhor no seu tempo.
As meninas mais comportadas. Os rapazes mais preocupados com o futuro. Os jovens menos esquisitos. A violência menor. A promiscuidade menor. A patifaria menor. Mesmo que não se pense em termos genéricos e fique-se só com o seu próprio passado.
Diz-se que é no pó do sonho – o que resta na cama ao acordarmos, mas antes de estarmos de fato acordados – que nos encontramos com as vidas passadas ou com o mundo das fadas. E é lá que cultivamos nossas esperanças de que tudo vai ser melhor no fim.
Um dia terei meu jardim de rosas para cuidar. Um dia não precisarei mais cozinhar sempre. Um dia terei milhões de dólares na minha conta. Um dia não trabalharei mais vinte e nove horas por dia. Um dia encontrarei alguém que me entenda. Um dia encontrarei a mulher da minha vida. O homem da minha vida.
A nostalgia é como pontadas no coração. A saudade é escura, torpe, inaceitavelmente aceitável. Pode ser clara, alegre e feliz. A nostalgia e pensamentos como “e se?” produzem combinações bombásticas e possivelmente mortais. Viver no sonho faz com que nosso chão torne-se mais alto e a queda mais violenta.
O real não abre, mas escancara as janelas. Estraçalha o incerto. Esmigalha o desmilingüido irreal. A fantasia ajuda a tornar tudo mais palatável. A nostalgia é a droga mais forte do mundo.
Se vamos para outro lugar depois da morte? Possivelmente. Lá, porém, já não somos mais o que somos aqui. Vida como vida nossa somente por aqui e somente uma. Dizem os árabes: “Não se perde tempo, perde-se vida”.
Os pequenos terremotos devem servir para levar-nos adiante e não o retrocesso. A saudade e a nostalgia devem ser como doses de whisky a serem tomadas em momentos especiais por quem saiba apreciar seus sabores.
O mundo real é duro e o pó do sonho é um presente da Deusa, do Deus, das fadas, de Buda, de Jah, de Osíris, de Zeus para que possamos agüentá-lo. Contava-se a história das Parcas do tempo - três velhas senhoras que teciam nosso destino - uma bordava o passado, outra o presente e outra o futuro. Quando chegava a hora, cortavam a linha.
Prendendo-nos ao passado acabamos condenados à sina dita por Bukowski, talvez a pior de todas – uma vida imensa, cheia de belíssimas desculpas por não termos feito nada com ela e com todas as maravilhas que nos são oferecidas todos os dias, a própria vida ali - por vezes abandonada e sozinha.
Até o momento da Parca do futuro cortar nossa linha.

                          

Um comentário:

Marcelo disse...

Muito bonito o texto Ricardo, parabéns. Trouxe um milhão de boas reflexões.