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espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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domingo, 10 de abril de 2011

Cachecol para Nelson Rodrigues



Ele gostava de ficar ali só olhando. Nada além disso. Olhos. A sala inteira tomada pela fumaça do cigarro de ambos. Fumaça.
Ela nem achava graça nele, parecia meio bobinho quando oferecia um cigarro para ela, mas devia admitir que gostava de ser olhada por ele. Meio esquisito, solitário, deveras estranho e completamente não o seu tipo. Mas gostava de ser olhada.
Passou a usar decotes cada vez maiores só para provocá-lo. Provocá-lo e ver se ele fazia algo mais do que só olhar. Mas ele não fazia nada. Ela tentou se aproximar, deixou cair um lenço para chamar-lhe a atenção. Nada.
Ele não queria nada, só queria ter a chance de olhá-la e a moça não conseguia acreditar que era só isso. Desde muito jovem tinha ela sido objeto de desejo de vários homens, sabia e usava disso para seu prazer. Mas ele não dava trela.
Ofereceu-se a ele. Deixou que visse um seio depois que a redação onde trabalhavam estivesse fechada e eles estivessem sozinhos. Ficou nua para ele. Caminhou nua para ele. Fez pose eróticas, dançou nelsonrodriguesanamente, cantou e nada. Ficara louca com a rejeição. Nunca tinha se sentido rejeitada. Todos eram abrasadoramente apaixonados por ela. Menos ele, que realmente não queria nada, só olhá-la.
Resumo da ópera? Ela matou-se de desgosto em frente ao espelho do banheiro com um cachecol caríssimo. Ele encontrou o corpo.

Ficou ali, parado, olhando, olhando.

Um comentário:

Tudo no geral disse...
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