Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Construções

É tarde da noite, estou sem sono, devia estar dormindo, eu sei, mas resolvi levantar, ligar novamente o computador e escrever. O meu computador anda tão lento, tão devagar, tão vagaroso que quase desisti de fazer isso, mas cá estou eu.
Estava pensando na crônica de hoje quando me lembrei de uma história que me aconteceu um tempo atrás. Vale lembrar que tudo o que relato é sempre verdadeiro e fidedigno. “Não sei, só sei que foi assim”, Chicó é meu primo distante, oi, Ariano!

Eu sempre fui fã de casas, palácios, igrejas, templos, enfim, construções grandes ou nem tanto. Sou fascinado pela arquitetura, pelos detalhes, pela história e tudo o mais. “Por que não fostes ser arquiteto, meu caro?”, perguntam, “simples”, digo eu, “porque eu não ia durar uma hora com toda a matemática da coisa. Enfim, sempre gostei de visitar apartamentos – mesmo que não os fosse alugar ou comprar – só para ver soluções como banheiros pequenos para salas enormes ou vice-versa, cozinhas iluminadas ou não, detalhes, detalhes tão pequenos de nós dois.
Campinas, minha cidadezinha, ainda conserva algumas do que eu chamo de casa de parede. Sei lá se é esse o nome arquitetônico para o que eu estou falando – se não for, corrijam-me, please – mas constitui-se de uma casa que fica geralmente na beira da calçada, sem jardim na frente, e que a porta que nós vemos da rua, já é a porta da sala. Isso não é mais modelo, visto que todos andam muito preocupados com segurança e ter uma casa assim é facilitar muito para esses marginais. A frente da casa é geralmente a porta, uma janela e a porta da garagem, quando esta está lá. O quintal é nos fundos e a casa é bem maior do que parece.
Um dia desses, estava andando pelo centro com uma de minhas alunas particulares (que atualmente vive em Coimbra, um lugar cheio de “casas de parede”!). Ela precisava passar em uma imobiliária na parte velha do centro para pegar umas contas ou coisa assim e eu fui junto. Olhando em volta, percebi uma casa muito bonita – antiga, mas ainda meio conservada – e disse para Lívia que gostaria de dar uma passada por lá depois se ela não se importasse. Por ser uma pessoa ótima, ou simplesmente por me conhecer e não querer contrariar minha loucura, Lívia concordou em me acompanhar.
Para minha surpresa a porta da casa estava aberta. E levava a uma escada de cinco degraus. Na parte alta estava uma estátua de São Jorge, com uma vela acesa. Eu não vi nada de mais e resolvemos entrar mesmo assim. (doidices, sim). Era aparentemente um hotel (de nome Brasil), cheio de quartos. A mulher na “recepção” estranhou em ver duas pessoas assim como nós entrarem lá e ficarem admirando o pé direito alto da construção e ficou nos olhando com cara de “ué?”.
Eu quis ser simpático e fui falar com ela. Disse-lhe que não se assustasse, que estávamos só querendo ver como era a construção e já que a porta estava aberta resolvemos entrar. Ela deu um sorriso amarelo e consentiu na inesperada visita.
Enquanto eu olhava a estranha estátua de São Jorge (Nada contra São Jorge, ao qual tenho muito respeito, mas aquela estátua era particularmente estranha.) e me perguntava o que raios acontecia por ali, percebi que estávamos no meio do caminho, pois uma pessoa nos pediu licença.
Virei os olhos e... bem, desejei não ter virado. A pessoa era uma moça. Feia era apelido. Enorme. Cinco vezes o meu peso. Cara de... É... Hum... Cara de... Deixa pra lá. Resolvi ser simpático de novo, dei licença e fui conversar com ela.

- Olá, a gente só estava observando a construção.
- Ah.
- É que eu gosto de prédios antigos, e esse é antigo, então resolvi entrar pra ver.
- Ah.

E Lívia segurando o riso.

- Você está hospedada aqui?
- Não. Eu faço programas aqui. – E me arreganhou os dentes em um sorriso. Juro que meu estômago se torceu e meus testículos foram passear.

Programas? Hein? Aí me caiu a ficha. ERA UM PUTEIRO! Eu estava em um puteiro! E eu tinha levado minha aluna querida para um puteiro em plena luz do dia!

- Programas?
- É, programas. Você quer ver os quartos? – disse a mulher da recepção, já mais animada com a possibilidade de eu talvez ficar por lá. Enquanto isso, outra profissional chegava com um velho mais com cheiro de cachaça do que a própria cachaça. Eu nem sabia que esses lugares funcionavam de dia!

Não vi, mas tenho certeza que Lívia balançava a cabeça negativamente, mas minha curiosidade era tão grande que concordei.

- A gente só vai dar uma olhada lá dentro e volta, ok?
- Pode olhar, meu filho, se gostar, fica. – disse a velha, provavelmente se divertindo muito com o louco aqui.

Fomos até o fim, exploramos os quartos, vimos que um espaço tinha sido unido ao outro ao longo do tempo, o retalho do chão era variado, aquilo devia ter sido uma casa de família que agora servia a propósitos, digamos, diferentes. E Lívia foi comigo, essa minha brava aluna.
- E esse quarto tem uma janela que abre para dentro! Por que será? – disse eu, na minha ânsia maluca de conhecer aquele lugar estranho.
- Não sei, mas pra boa coisa não era, disse Lívia, com toda a razão.

Voltamos para a recepção, nos despedimos, agradecemos e fomos embora. Cruzamos a rua, afastamo-nos duas quadras e pusemo-nos a rir.

- Um puteiro, Ricardo, jura? Eu é que não entro mais nas suas furadas! – disse minha genial aluna, com certa razão.

Não sei, só sei que foi assim.

Um comentário:

Karina Mochetti disse...

Hey, quando vc vai me levar num puteiro, hein? ;-)