Estou eu - como provavelmente milhões de brasileiros - brigando com o
imposto de renda. Eu acho que eles ainda vão desenvolver um programa em que
apareça a seguinte pergunta:
"Imposto de Renda Ano X - Fazer". Aí eu decido entre sim e não.
Nossa, como eu sonho com isso.
Não me dou bem com números e isso já deve ter ficado óbvio para os meus
parcos leitores. Odeio. Odiar também não é verdade, porque várias vezes me
peguei fazendo contas aleatórias para passar o tempo. Eu sei, puta passatempo
besta, mas o que eu posso fazer? Uns anos atrás eu fui fiscal de uma prova
importante em uma escola que eu trabalhava. Foi um sábado de manhã, oito da
manhã e a prova durava quatro horas e eu não podia fazer nada. Não podia ler,
nem comer, nem ouvir música, nem mexer no computador, nem coisa nenhuma. Eu não
podia nem escrever, tinha que estar o tempo todo de olhos nos infelizes fazendo
a tal da prova morfética. E tinha só umas folhas de papel em branco (para
anotar sabe-se lá o que se eu não podia escrever nada!) e comecei (ilegalmente,
sim, sou o pior fiscal do mundo) a fazer continhas, depois fui pra expressões.
Exercitar o meu cérebro e não dormir. Foi uma das coisas mais difíceis da minha
vida. Podem ter certeza.
Aliás, dormir é uma coisa bacana. Eu adoro pegar ônibus, por exemplo. Adoro
mesmo. Não gosto de ônibus lotado, lógico, mas gosto. Chego mais cedo, acordo
mais cedo, fico esperando, não me importo com nada disso. Levo até meu livro
para ler na viagem. O problema é justamente esse. Quando entro em um ônibus
(principalmente aqueles de viagem) e sento eu começo a morrer de sono. E durmo.
Fui de Paris a Lisboa em 28 horas. Olha, posso dizer que dessas 28 eu dormi
umas 20 pelo menos, se não mais. E não precisa ser ônibus chique de viagem não,
o ônibus circular também me provoca isso. Perdi a conta de quantas vezes eu
deixei passar o ponto quando ia pra faculdade. Quando eu via tinham passado 3
ou 4 paradas e eu tinha que voltar tudo correndo pra chegar na aula na
hora!
Outra coisa que eu amei na primeira e nas outras já transformei em várzea
foram os trens na Europa. Eu nunca tinha andado de trem daquele jeito, então
minha expectativa era grande. Eu tinha planejado ler, tomar café, comer alguma
coisa, namorar, coisas que a gente vê as pessoas fazendo nos filmes. Eu fiz um
pouco de tudo, mas também capotei várias vezes. Café eu acho que não tomei, mas
lembro quando eu e Karina - my dear girlfriend - tomamos uma cerveja
quilométrica. É, não tem outro termo para isso. Era um copo enorme e uma
cerveja forte e cara. Tínhamos grana para uma cada um. E sem dinheiro para
comer. E estávamos sem comer fazia tempo. Bebemos relativamente rápido e o trem
chacoalhava e a gente via o penhasco bem do lado. Ficamos tontinhos e
demoraaaamos pra achar nossa cabine.
Bom, seja como for, fazer essa declaração é mesmo uma chatice. Números, números,
números e quem me conhece sabe bem como é minha relação com os números. Para
quem não me conhece, posso apenas dizer que não é das melhores. Preciso parar
para lembrar a taboada e por aí vai. E não tenho vergonha nenhuma disso, oras.
Acho que cada um tem sua habilidade. A minha definitivamente tem a ver com as
palavras e frases e não números. Números, hunf!
Enfim, briguei à beça com as máquinas tentando achar a bendita da declaração
do ano passado para poder importar os itens e não sei mais o que. Não achei.
Achei em papel que o meu contador tinha feito, então o tal do arquivo .rec e
.dec que seriam necessários não são mais. Não me incomodo em escrever tudo de
novo. Não é muito dinheiro mesmo, então nem demora.
Como eu queria não ter que fazer isso!
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