Caros visitantes,

espero que vocês divirtam-se muito lendo minhas palavras. Peço, porém, por ser esse um trabalho independente, que não republiquem meus textos - inteiros, partes, frases, versos - sem minha expressa autorização. A pena para crime de plágio é dura, além de ser algo bastante humilhante para quem é processado. Tenho certeza que não terei problemas com relação a isso, mas é sempre bom lembrar!

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Lear

São os teus olhos que me chamam
Poetas românticos viciados em dor
Nada tradicional e eu nada sabemos
Quero-te
Ruas escuras, luzes esparsas
Apenas as tuas pegadas que sigo
Não me olhas, não me sentes
Que pena. Peno.
Tantos falam “eu te amo”
Eu amo e não falo
Lear, liar e eu
Teus olhos e não me calo
Apenas um poeta atormentado
Ator e centro da vida
Mesmo que largada e possuída
Minha.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Vidros de Perfume e Perguntas

Sentado no canto de um café escuro
Rodeado de pessoas sem nome ou face
Uma época na qual a linguagem era um quase nada
Minhas lágrimas se misturaram na infusão,
especiarias da Índia e sal refinado.

Na rua, chuva
Uma grossa capa para proteger-me
Tantos planos jogados, ultrajados
abandonados no chão,
como um cigarro que não se fuma mais.

Um piscar de olhos hoje
Provoca uma guerra das rosas
Vidros de perfume e perguntas no chão de mim
Nada rima.

Eu queria um chá
Apenas um chá
Queria apenas ficar com alguém
Ficar com você.

E a neve toca o vidro do meu carro.
Para onde?
Não sei
Longe de ti, talvez.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Flash

Toque-me
Sinta-me
Estremeça-se ao me ver

Desça as escadas
Como se fosse o último show
O último copo
O último olhar

Foco de luz em ti
Todos os olhos em mim
E nada.
E mais nada.

Pegue minha mão e
me leve a um parque
com rosas amanhecidas
bicicletas voadoras
e barcos na terra

Me ligue às cinco da manhã e sorria
Invente história tolas e conte ao guarda
Conte ao psicólogo
Conte ao psicopata

Jogue todos esses livros pra cima
E vamos viajar
Leve e deixe-se levar
Leve, sobre as linhas da mão

Descanse sua mão na minha
Apóie seu rosto no meu ombro
Durma comigo

Você entende o que eu digo?
Você sente o que eu sinto?
Você tem coragem de entrar nessa?

Abre os olhos para ver a lua,
nossa diva
Acaricie as orelhas de Flush, o cão
Uive para a loba Virgínia

Vai
Me leve
Nem que seja só por uma noite
Ou uma tarde dessas, de chuva

Mas não me abandone
Não me deixe
Responde.



Silêncio.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

"Horizonte de Memphis"



“Nunca pensei no Hades1 sob o Mississipi2,
Ainda assim vim cantar para ele
Então, fúrias do sul, preparem-se para andar,
pois minha harpa encordoei e vou partir com ele

Relaxem as engrenagens da rima, sobre o céu de Memphis
Girem de volta as rodas do tempo, sob o horizonte de Memphis
Sempre o odiei pelo seu aspecto na meia-luz da manhã
Então veio Hallelujah3, soando como a louca Ofélia4 para mim em minha sala de estar
Então beije-me, meu querido, fique comigo até a manhã
Retorne e você ficará sob o horizonte de Memphis”

1. Na mitologia grega, o Hades era tanto o Senhor da Morte e dos Subterrâneos, quanto o lugar para onde iam todos os mortos.
2. É o maior rio dos Estados Unidos da América. Percorre a cidade de Memphis, capital do Tennesse.
3. Música de Leonard Cohen, cantor e compositor canadense, freqüentemente gravada por diversos músicos, inclusive Buckley e Wainwright.
4. Ofélia (ou “Ophelia”) é a amante de Hamlet (da peça homônima, de William Shakespeare), que, ao perceber não ser amada, enlouquece e se afoga.

Essa bela canção foi escrita por Rufus Wainwright – que está vindo ao Brasil e que eu mal posso esperar para vê-lo, das cadeiras VIP! – para outro cantor, compositor e guitarrista, Jeff Buckley. Nascido em 1966, Buckley se afogou no rio Wolf, em Memphis, em 1997.

Uma canção triste, um lamento pela morte de um cantor. Rufus já disse em entrevistas que se arrepende de não ter tido maior contato com Buckley.

ps: Essa tradução é baseada naquela feita por Reginaldo Maciel, na comunidade “Rufus Wainwright”, do Orkut.

domingo, 13 de abril de 2008

Sete Chaves

Talvez hoje eu não queira
Talvez hoje eu não queira mais

Eu e meu amigo andando pelo parque
Tantos caminhos a seguir que nem sei
e, debaixo de uma árvore, ele me disse
que a vida não é nada do que penso
Ele diz: “A vida é o que fazemos e sonhamos. Se sonhas, vivo estás”
E aquilo me abriu a janela.

Talvez hoje eu não queira te amar pra sempre
Talvez hoje eu não queira te velar o sono
Te esperar acordar com um sorriso no rosto
Talvez hoje eu não queira sorrir

E no parque havia um velho que tocava acordeom
Músicas tão antigas que me fizeram chorar de saudade
Dos tempos que nunca vivi
E as lágrimas me rolaram como pétalas de rosa em flor
E tocavam o solo, abrindo a terra e puxando minhas dores.
E meu amigo me olhava, olhava e nada dizia.

Talvez hoje eu não queira dizer se estás ou não linda
Talvez hoje eu não queira saber como vai sua mãe
Talvez hoje eu não queira saber

Fomos pra casa e, em meio a vinhos e discos e poemas de Wilde, a dúvida se fez:
“E se somos algo que de fato não somos? Como vivemos a isso?”
E meu amigo me disse, sorrindo e me olhando fundo com aqueles olhos de reflexo de lua,
“E quem sabe como somos? Você já sabe quem é?”
E eu pensei que de fato não sabia o fato de quem de fato sou.

Talvez hoje eu não queira passeios ao luar e fogueiras de madrugada
Talvez hoje eu não queira nadar nas águas do mar
Talvez hoje eu não queira nada disso

Já não sei mais o que quero
Eu sei de poucas coisas
Poucas
Tão poucas quanto as palavras que trocamos.

Quando o sol raiou, procurei meu amigo
Ele já não estava mais.
Já se tinha ido, sem me dar adeus
Fiquei pensando nele, em suas palavras e
em seus olhos cheios de lua
E o quis bem.
E sorri para ele, sem ele saber.

Ele me deixou um bilhete
Que guardo a sete chaves no fundo do baú.
Quando dele sinto saudades, leio o que ele escreveu.
Como faço hoje.

Talvez hoje eu não queira mais falar
Talvez hoje eu não queira ser pra sempre
Talvez hoje eu não queira
Talvez hoje eu queira um nunca mais.

quinta-feira, 10 de abril de 2008



Lágrimas em Suas Mãos
(Tori Amos)

"O mundo todo parou agora
Pois você diz que não quer mais que fiquemos juntos
Deixe-me respirar fundo, querido
Se você precisar de mim
Estarei passeando com o Neil1 e o Rei dos Sonhos2
Aliás, Neil diz “oi”
não acredito que você está indo embora
Porque eu e Charles Manson3 gostamos do mesmo sorvete
Acho que é aquela garota
E eu acho que existem pedaços de mim que você nunca viu
Talvez ela só pedaços de mim que você nunca viu bem

Todo o mundo é tudo que sou
O escuro do mais escuro oceano
E a lágrima em suas mãos
Todo o mundo está balançando
Balançando, balançando para mim, querido
Você não sabe o poder que tens
Com essa lágrima em suas mãos
Lágrima em suas mãos

Talvez eu não esteja acostumado com "talvezes"
Esmagados em um quarto frio
Cortando minhas mãos cada vez que eu te toco
Talvez o talvez seja o momento agora de dizer adeus
Tempo agora de dizer adeus

Peguei uma carona com a lua
Eu sei que conheço você muito melhor do que costumava conhecer
A neblina embranqueceu minha mente
No torpor da razão pela qual nunca poderíamos ter sido
Então você diz e eu digo que você sabe que é cheio de desejo
E o seu "querida" "querida" "querida" "queridas"
Digo que são pedaços de mim que você nunca viu
Talvez ela seja apenas pedaços de mim que você nunca viu."

(1) Neil é Neil Gaiman, escritor inglês de romances e quadrinhos, conhecido por livros como "Morte" e "Stardust", além de longa amizade com Tori Amos.
(2) Rei dos Sonhos é a personagem principal da série "The Sandman", escrito por Neil Gaiman.
(3) Charles Manson é o fundador da uma seita fundamentalista que cometeu uma série de assassinatos brutais, sendo o mais conhecido o de Sharon Tate, esposa de Roman Polanski, em circunstâncias pouco explicadas. Manson foi condenado à prisão perpétua, mas ainda tenta revogar sua sentença. O cantor Brian Hugh Warner usou o sobrenome Manson para criar seu nome artístico, mostrando o que considerava o grande dualismo da sociedade americana; Marilyn Monroe e Charles Manson, tornando-se Marilyn Manson.

Tori. Conheci essa moça através de um amigo muito querido, Marcelo Mantovani, que é um fã inveterado e fanático dessa cantora. Muito tenho a dizer sobre os dois e sua relação. Vamos dizer assim que o Marcelo ama a Tori tanto quanto eu amo o Rufus. A mesma quantidade de falatório sobre o Rufus que existe nesse blog, existe sobre a Tori no blog dele.

Tori. Ela não é só uma cantora. Ela não é só uma pianista. Ela não é só uma compositora. Ela é dona das teclas de seu piano e as maneja tão bem quanto as palavras de suas letras. De amor? De raiva? De sublimação? Não importa. A qualidade e a poesia fluem desses cabelos vermelhos.

Tori. Uma entidade. Um ser fora desse planeta. Aliás, aonde caiu a nave dessas pessoas? Tori, Rufus, Leonard Cohen, kd lang, Joni Mitchell, Neil Young, minha irmã Andrea, são todos canadenses! Que fantástico!

Tori. O post e a tradução de hoje.

Tori. Pra sempre. Apenas uma das milhares de coisas que aprendi com o Marcelo, meu amigo, meu parceiro de sebos e meu parceiro de conversas. A gente sempre sabe de quem o outro está falando. E que assim seja.


Esse post é dedicado a Marcelo Mantovani.

terça-feira, 1 de abril de 2008

"Experiência"

Foi só uma olhada. Nada demais. Um mero cruzar de olhos em meio à multidão cambaleante da grande cidade. Um de cada lado da rua. Ele. Meio alto, quase baixo. Verdes. Ele. Meio baixo, quase alto. Marrons. Diferenças que no momento pouco ou nada interessavam. Pelo menos aos dois.

A tensão largou arrepios nos dois corpos afastados. O que era aquilo? Sentimento reprimido? Sentido? Imaginado? Um nada. Apenas a mágica do momento. Morangos silvestres colhidos para a geléia, guardada em um copo no fundo da geladeira, já velha, exalando o doce cheiro podre da deterioração humana. Tomates verdes fritos e sua melancolia fritaram seu cérebro.

Mas não foi só uma olhada. Não foi só. Enquanto se olhavam – e esse tempo foi curto – a idéia de casamento de almas lhe passava pela cabeça. A mente se atrasou e o corpo agiu. As duas pálpebras se juntaram e pronto. Uma piscada.

Algo simples. Piscada. Normal. Não. Não era normal. Aliás, desde aquele momento, nada mais era normal. Tudo agora estava com outras cores. Ideais? Desejo? Cena? O que?

Aquela piscada mudou tudo. E o mudou. Qual? Ambos. Nunca mais.

E nesse nunca meu ônibus chegou. Eu entrei, sentei e fiquei observando a paisagem na janela até chegar em meu destino.

Este conto é dedicado a Rufus Wainwright.